domingo, 30 de junho de 2013

ISOLAMENTO TOTAL


Este Governo está a tingir níveis de desempenho inimagináveis. A tal ponto isto é real, que conseguiu o pleno dos parceiros sociais a apoiarem a greve geral. Aqui, há que realçar a posição tomada pelas confederações patronais que, ao contrário do que é a sua natureza, revelaram pública compreensão e regozijo pela efectivação da forma de luta mais radical por parte dos trabalhadores. Tendo em atenção que a maioria PSD/CDS é tendencialmente a que melhor defende os interesses das associações patronais, algo de muito significativo se está a passar para que estas se distanciem tão claramente do Governo.
Para além de um cada vez mais reduzido número de iluminados é, há muito, óbvio para toda a gente que a chamada política de austeridade expansionista falhou como muito bem afirma Nicolau Santos no texto que a seguir transcrevemos do Expresso Economia de ontem.
 

A base social do Governo já não existe

A base social do Governo e aquela em que assentou durante um ano e meio o processo de ajustamento teve esta semana o seu derradeiro suspiro. E não, não foi a greve geral que traduziu esse fenómeno. O acontecimento que marca o isolamento total do Executivo e a descrença absoluta na obtenção de resultados através da política que está a ser conduzida veio exatamente dos parceiros sociais que aparentemente mais beneficiariam com ela – as associações patronais.

Ao instar o Governo a reconhecer que a política de austeridade falhou e ao pedir uma descida generalizada dos impostos e não apenas da carga fiscal sobre as empresas, as associações patronais distanciaram-se definitivamente de Passos Coelho e Vitor Gaspar e das suas teses de austeridade expansionista e de que as exportações só por si podem suportar o crescimento económico. O primeiro-ministro acusou o toque e sentiu-se na obrigação, poucas horas depois da tomada de posição do patronato, de reafirmar que não iria alterar a política que tem vindo a seguir.

A pergunta que se coloca é se todos os parceiros sociais estão errados e o Governo certo ou vice-versa. Mesmo que a última hipótese fosse correta, quando ninguém apoia o que está a ser feito, a possibilidade de os resultados assim obtidos virem a ser um sucesso é extremamente diminuta.

A execução orçamental dos cinco primeiros meses mostra, aliás, que ela passou a estar desesperadamente dependente do aumento dos impostos diretos  - IRS, que subiu brutalmente, e IRC, que também crescei de forma significativa – pelo que qualquer ideia de que será possível aliviar a carga fiscal em 2014 ou mesmo 2015 é completamente irrealista. Ora, sem esse alívio os patrões sabem que a atividade económica interna não recuperará, enquanto a externa, devido ao quadro recessivo da União Europeia, enfrenta agora maiores dificuldades.

O que impressiona neste quadro é que o Governo continue a investir na mesma direção, quando se verifica um desfasamento cada vez mais evidente entre o discurso político e os resultados económicos. O que impressiona é que o Governo insista em levar a sua avante, passando ao lado de qualquer consenso no âmbito da concertação social. O que impressiona é que o Governo ignore a política de rendimentos, deixando que seja a política fiscal a conduzir esse desiderato. O que impressiona também é que a troika insista na necessidade da descida dos salários, quando manifestamente esse ajustamento não só está feito como ultrapassou já o que seria admissível. O que impressiona é que se siga um caminho que nos está a tornar um país de pobres, velhos e desqualificados, de onde fogem as melhores empresas e talentos, que obviamente não conseguirá a trair investimento inovador, estruturante e capaz de aumentar de forma significativa o valor acrescentado nacional. O que impressiona é a forma como se têm tratado os reformados e pensionistas, como se fossem os responsáveis pelo suposto colapso financeiro do Estado. O que impressiona é o discurso diabolizador sobre os funcionários públicos, que são tratados como gente desnecessária e imprestável. O que impressiona é que se suponha (ou nos queiram fazer supor) que daqui pode nascer um país melhor, mais justo, mais moderno, mais dinâmico, que produza mais e melhor riqueza e que crie mais e melhores postos de trabalho.

Esta semana o Governo viajou definitivamente para a estratosfera. Quando iniciar a viagem de regresso e reentrar na atmosfera, obviamente acabará por arder e explodir.
 

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