Este Governo está a tingir níveis de desempenho inimagináveis. A tal
ponto isto é real, que conseguiu o pleno dos parceiros sociais a apoiarem a
greve geral. Aqui, há que realçar a posição tomada pelas confederações
patronais que, ao contrário do que é a sua natureza, revelaram pública compreensão
e regozijo pela efectivação da forma de luta mais radical por parte dos
trabalhadores. Tendo em atenção que a maioria PSD/CDS é tendencialmente a que
melhor defende os interesses das associações patronais, algo de muito
significativo se está a passar para que estas se distanciem tão claramente do
Governo.
Para além de um cada vez mais reduzido número de iluminados é, há muito,
óbvio para toda a gente que a chamada política de austeridade expansionista
falhou como muito bem afirma Nicolau Santos
no texto que a seguir transcrevemos do Expresso Economia de ontem.
A base social do Governo já não existe
A base social do Governo e
aquela em que assentou durante um ano e meio o processo de ajustamento teve
esta semana o seu derradeiro suspiro. E não, não foi a greve geral que traduziu
esse fenómeno. O acontecimento que marca o isolamento total do Executivo e a
descrença absoluta na obtenção de resultados através da política que está a ser
conduzida veio exatamente dos parceiros sociais que aparentemente mais
beneficiariam com ela – as associações patronais.
Ao instar o Governo a reconhecer
que a política de austeridade falhou e ao pedir uma descida generalizada dos
impostos e não apenas da carga fiscal sobre as empresas, as associações
patronais distanciaram-se definitivamente de Passos Coelho e Vitor Gaspar e das
suas teses de austeridade expansionista e de que as exportações só por si podem
suportar o crescimento económico. O primeiro-ministro acusou o toque e sentiu-se
na obrigação, poucas horas depois da tomada de posição do patronato, de
reafirmar que não iria alterar a política que tem vindo a seguir.
A pergunta que se coloca é se
todos os parceiros sociais estão errados e o Governo certo ou vice-versa. Mesmo
que a última hipótese fosse correta, quando ninguém apoia o que está a ser
feito, a possibilidade de os resultados assim obtidos virem a ser um sucesso é
extremamente diminuta.
A execução orçamental dos cinco
primeiros meses mostra, aliás, que ela passou a estar desesperadamente
dependente do aumento dos impostos diretos
- IRS, que subiu brutalmente, e IRC, que também crescei de forma
significativa – pelo que qualquer ideia de que será possível aliviar a carga
fiscal em 2014 ou mesmo 2015 é completamente irrealista. Ora, sem esse alívio
os patrões sabem que a atividade económica interna não recuperará, enquanto a
externa, devido ao quadro recessivo da União Europeia, enfrenta agora maiores dificuldades.
O que impressiona neste quadro é
que o Governo continue a investir na mesma direção, quando se verifica um
desfasamento cada vez mais evidente entre o discurso político e os resultados
económicos. O que impressiona é que o Governo insista em levar a sua avante,
passando ao lado de qualquer consenso no âmbito da concertação social. O que
impressiona é que o Governo ignore a política de rendimentos, deixando que seja
a política fiscal a conduzir esse desiderato. O que impressiona também é que a
troika insista na necessidade da descida dos salários, quando manifestamente
esse ajustamento não só está feito como ultrapassou já o que seria admissível. O
que impressiona é que se siga um caminho que nos está a tornar um país de
pobres, velhos e desqualificados, de onde fogem as melhores empresas e
talentos, que obviamente não conseguirá a trair investimento inovador,
estruturante e capaz de aumentar de forma significativa o valor acrescentado
nacional. O que impressiona é a forma como se têm tratado os reformados e
pensionistas, como se fossem os responsáveis pelo suposto colapso financeiro do
Estado. O que impressiona é o discurso diabolizador sobre os funcionários
públicos, que são tratados como gente desnecessária e imprestável. O que
impressiona é que se suponha (ou nos queiram fazer supor) que daqui pode nascer
um país melhor, mais justo, mais moderno, mais dinâmico, que produza mais e
melhor riqueza e que crie mais e melhores postos de trabalho.
Esta semana o Governo viajou
definitivamente para a estratosfera. Quando iniciar a viagem de regresso e
reentrar na atmosfera, obviamente acabará por arder e explodir.
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