Na voragem dos dias, uma
catadupa de informação nos chega, passando muitas vezes despercebida apesar da
sua importância. É certo que se trata de tal quantidade que dificilmente
seremos capazes de assimilar ainda que estejamos perante informação determinante
para o nosso modo de vida colectivo.
O projecto Rendimento
Adequado em Portugal (RAP) é certamente do conhecimento de um número ínfimo de
portugueses mas tem grande importância “quer para a medição da pobreza quer
para a discussão pública da adequação dos valores mínimos para as
transferências sociais em Portugal”. O objectivo principal do projecto RAP é
responder à questão: “qual é o nível de rendimento que permite um nível
aceitável de vida em Portugal?”
Num seminário realizado há
poucos dias no Instituto Superior de Economia e Gestão em Lisboa, destinado a
fazer o balanço do primeiro ano do RAP, uma das conclusões apresentadas foi a
de que “a crise não chega aos ricos” como se pode ler no seguinte texto que
retirámos da edição impressa do Público de 18/6/2013.
Análise
às despesas das famílias confirma que "a crise não chega aos ricos"
Com
a crise iniciada em 2008 a proporção do orçamento familiar destinada a suportar
a alimentação baixou 27%. Mas isto apenas na faixa da população mais pobre. Já
no grupo dos mais ricos não houve alterações de monta. Um dos elementos da
equipa do projecto Rendimento Adequado em Portugal (RAP) analisou os inquéritos
às despesas familiares entre 2005-2006 e 2010-2011. E ontem apresentou alguns
resultados.
Entre
os mais pobres (aqui definidos como os agregados que fazem parte dos 20% que
menos gastam globalmente), Susana Brissos detectou alterações muito
significativas na forma como o orçamento familiar é distribuído - com o peso
das despesas com a habitação a subir substancialmente (como se tivesse havido
uma transferência directa dos custos com alimentos e afins para os relacionados
com a casa). Já nos agregados mais ricos, assinala "a enorme estabilidade
dos coeficientes orçamentais da despesa total", o que, conclui, parece
"confirmar a máxima popular de que "a crise não chega aos
ricos"".
Esta
foi uma das análises apresentadas no Instituto Superior de Economia e Gestão,
em Lisboa, num seminário destinado a fazer o balanço do primeiro ano do RAP -
um projecto que se destina a quantificar montante necessário para viver
dignamente em Portugal. O RAP inclui investigadores de três instituições
universitárias, é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e tem
como investigador principal José António Pereirinha.
Entre
Junho e Outubro foram entrevistados 68 adultos com diferentes perfis de três
concelhos do país. Os resultados das entrevistas são claros: para as pessoas
viver dignamente é mais do que garantir a subsistência física. É sentir-se
seguro, ter acesso à cultura e ao lazer, integrar a sociedade - poder ir ao
café até, como exemplificou um entrevistado. Será em função das respostas que
se calculará quanto custa viver dignamente em Portugal - esse é o passo que se
segue. Um cálculo que pode mudar a forma como se define a pobreza - em Portugal
entende-se que está em risco de pobreza quem tem menos de 420€/mês para viver.
Sem comentários:
Enviar um comentário