Por muito interessante que um qualquer
acontecimento político seja para a comunicação social, se surgir outro que
traga mais audiência, este último é o que passa a dominar em termos de
informação. O mais recente exemplo do que acabámos de afirmar passa-se com o
Orçamento do Estado para 2014 relativamente ao caso Machete. Sem que nada de
especial tenha acontecido que possa contribuir para o término deste caso, a
verdade é que já parece esquecido. Mas não devia estar, face à gravidade da
actuação do ministro dos Negócios Estrangeiros. Neste sentido aqui fica a nossa
modesta contribuição ao deixarmos a transcrição de um artigo de opinião (“Rui
Mau Chete” *) inserido no Diário de Coimbra do passado domingo (13/10/2013).
Rui Machete entrou da pior
forma no Governo e, por isso, só lhe resta encontrar uma boa saída. Primeiro,
foi o seu envolvimento no caso BPN, depois uma imensa trapalhada com Angola,
apesar de tudo, um caso sem a gravidade do anterior.
Percebo que ele tenha
subestimado as consequências do caso BPN, quando decidiu entrar neste Governo.
Não lhe consigo escrutinar os pensamentos, mas não me surpreende que a sua
reflexão tenha passado por isto: o Presidente da República também se envolveu
com o BPN e ninguém, até hoje, pediu a sua demissão. A partir desta dedução,
considerou-se suficientemente descontaminado, para integrar o Governo.
Enganou-se. Cavaco Silva goza
ainda de um estatuto especial e, exceptuando algumas picadas que vão surgindo
espaçadamente na imprensa, ninguém o incomodou muito, com uma compra e revenda
de acções, com mais-valias fabulosas. É o Presidente da República e ninguém
quer decepar o regime. Com um ministro dos Negócios Estrangeiros tudo é
diferente.
Se Rui Machete tivesse dito
toda a verdade de uma única vez, o assunto provocaria alguma polémica, mas
podia silenciar-se, num prazo relativamente razoável. Mas ele tem feito
exactamente o contrário. Contou os factos por episódios, desmentindo-se a si
próprio, com recurso a sofismas diversos, para tentar explicar que a diferença
entre a mentira e a verdade é coisa escassa e pouco relevante. Por muito
esforço que faça, Rui Machete não consegue convencer ninguém que a galinha é um
mamífero, com o corpo coberto de penas e que respira por guelras. Com as
inverdades e meias verdades, tem estado a despejar gasolina, em cima da fogueira.
Não devia sujeitar-se a isto.
E só tem uma única forma de corrigir o erro de ter entrado para o Governo – é sair.
Quanto mais prolongar a sua presença à frente do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, mais argumentos dará à oposição para o atacar, provocando com
isso um desgaste ao executivo, semelhante ao que se passou com Miguel Relvas. Já
devia ter pedido ao Primeiro-Ministro que lhe arranjasse um substituto. Se ainda
não o fez, mostra com isso a sua incapacidade política para se manter à frente
de uma das pastas mais importantes do executivo.
Podemos somar a tudo isto a
inépcia revelada, à frente do Palácio das Necessidades. Até hoje, ninguém lhe
ouviu uma declaração ou viu qualquer acção, facilmente relacionável com os
grandes pilares da política externa portuguesa. Fala mais do BPN do que da sua
vida de ministro. Europa, CPLP, Ibero-América, Atlantismo e Estados Unidos e
Pacífico são extravagâncias que Rui Machete só conhece vagamente de ouvido.
Falou agora de Angola com os
resultados que se viram. Em Portugal, afundou-se e, em Angola, perdeu
credibilidade. No segundo governo de José Sócrates, na sequência de um
incidente do género, Luanda chegou a queixar-se, dizendo que não tinha
interlocutor em Lisboa, referindo-se à inabilidade do então secretário de
Estado, José Gomes Cravinho. Depois do que se passou esta semana [passada], Luanda
já percebeu que falar com Machete não produz qualquer efeito.
Quando Pedro Passos Coelho o
convidou para o Governo apostou no seu antigo prestígio, na respeitabilidade
que supostamente gozava, sobretudo, no interior do PSD. E com isso, podia
baixar o tom, ou mesmo calar algumas críticas internas. Mas enganou-se e,
agora, sente-se refém do seu erro e incapaz de o emendar. Mas quanto mais tempo
demorar pior. Por isso, a bola está do lado de Machete e devia ser ele próprio
a ajudar o Primeiro-Ministro, pedindo a sua substituição.
Com este caso, vai-se provando
o fracasso da remodelação governamental. Poiares Maduro foi recrutado para
assumir a difícil tarefa de comunicar e explicar aos portugueses as decisões
governamentais. Cedo desistiu da tarefa e esforça-se agora para arranjar outro
ofício que justifique a sua presença no Governo. Maria Luís Albuquerque ficou,
desde cedo, amarrada aos escândalos dos swaps que ainda não terminou e Paulo Portas,
mostrando a pouca confiança que tem nela, assumiu-se como seu babysitter,
vigiando-lhe todos os passos e declarações. Rui Machete é o que se está a ver.
(*) Sérgio Ferreira Borges
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