quarta-feira, 9 de outubro de 2013

SUJEIRA DE GOVERNO



Depois de mais de dois anos de Governo Passos/Portas, tem todo o cabimento a pergunta que Mário Soares deixava ontem no DN: “Que governo é este que atrai tantos delinquentes?”
Vamos por partes. Muito provavelmente, apenas um número ínfimo de portugueses já ouviu falar em Visto Dourado. Pois bem, trata-se de um visto especial concedido pelo Governo português a qualquer cidadão estrangeiro que lhe permitirá “chegar mais depressa à nacionalidade portuguesa” no caso de estar interessado em investir em Portugal. Mas há aqui um pormenor importante – o nosso Governo não quer saber nada sobre a proveniência dos capitais financeiros que cá entram, o que abre a possibilidade de o nosso país servir de plataforma de lavagem de dinheiro proveniente dos negócios mais sujos que se fazem no planeta.
Uma das respostas (não a única) que pode ser dada à pergunta formulada por Mário Soares talvez se encontre no artigo que Rui Tavares assina hoje no Público.
Se não existisse, este governo teria de ser inventado. Só este governo conseguiria ser apanhado a pedir desculpas a generais angolanos enquanto rouba velhinhas em Portugal. Nem nos filmes.
O pedido de desculpas aos generais angolanos tem sido entendido como uma caturrice de um político destreinado como o ministro dos Negócios Estrangeiros. Que nada. Pelo que me é dado entender, o ministro dos Negócios Estrangeiros não tem nada de destreinado, e neste particular limita-se a seguir a política do seu antecessor, Paulo Portas, que consistia em ativamente lamber as botas de qualquer oligarca estrangeiro que queira investir dinheiro em Portugal. Não há nada de subtil nem sofisticado nessa política.
Um dos elementos centrais desta política chama-se Visto Dourado, o que até rima com Apito Dourado. E funciona assim: se você for cidadão estrangeiro, e tiver meio milhão de euros para "investir" em Portugal, o governo dá-lhe um visto hiper-rápido e com super-poderes, com possibilidade de chegar mais depressa à nacionalidade portuguesa. Detalhe: não perguntamos de onde vem o dinheiro. Se você for cidadão estrangeiro, e tiver trabalhado no duro durante anos, pagando impostos portugueses, Segurança Social portuguesa ou fazendo estudos em Portugal, ponha-se na fila e espere pacientemente.
Segundo uma fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, até ao passado 29 de setembro, os vistos dourados foram abarbatados principalmente por russos, chineses e angolanos, que investiram um mínimo de meio milhão de euros, por exemplo, em imobiliário. Também um guineense: imagine-se, num país de população paupérrima, mas unanimemente considerado como um paraíso para o narcotráfico, de onde vem o dinheiro de um guineense disposto a investir mais de meio milhão de euros em Portugal.
Se é legal? Claro que é legal. Foi feito pela mesma maioria que faz as leis!
(Claro, sabe-se que a compra de imobiliário em Portugal, usando para tal veículos financeiros registados, por exemplo, nos Emirados Árabaes Unidos, é um mecanismo típico da lavagem de dinheiro que ocorre diariamente entre alguns destes países e o nosso. Também se sabe que os nossos parceiros do espaço Schengen reagem a qualquer irregularidade na atribuição de passaportes, e que fecham as fronteiras ao mínimo influxo de refugiados. Mas aceitam alegremente os depósitos dos ditadores dos países de cuja miséria recusam os refugiados. Há dias em que esta hipocrisia cansa demasiado.)
Em suma, a política de cócoras perante qualquer oligarca disposto a lavar o seu dinheiro em Portugal nasceu com Paulo Portas. O mesmo Paulo Portas que, agora como vice-Primeiro Ministro, avaliza o corte nas pensões de sobrevivência. Pedro Mota Soares, ministro do mesmo partido, vai sugerindo que o corte é apenas para os pensionistas que "acumulam" pensões, mais uma vez provando que este governo precisa sempre de lançar um anátema sobre as suas vítimas. Estes terríveis acumuladores de pensões são, por exemplo, pessoas que detêm uma pensão mínima, e que após a morte do cônjuge de décadas, dependem da pensão de sobrevivência (já por si metade da pensão do cônjuge falecido) para fazerem a diferença entre uma vida remediada e a miséria.
Pois é: se não existisse, este governo teria de ser inventado. Só não precisava de ter sido inventado para nós. E, pior ainda, por nós.

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