Como muito
bem afirma José Vitor Malheiros no texto que assina hoje no Público, a
manifestação de 26 de Outubro “era contra
a troika, o Governo, a
"austeridade", a política de empobrecimento, o aumento da
desigualdade, o aumento da pobreza, o aumento do desemprego, o roubo de
salários e de pensões, a queda dos salários, a destruição dos direitos
laborais, a destruição da saúde, a destruição da educação, a destruição da
Segurança Social, a destruição do património público e a venda das empresas
públicas, a destruição dos transportes públicos, o exílio forçado dos jovens, a
fuga fiscal das grandes empresas para os off-shores, contra a injustiça e a
fome e a doença e a ignorância, contra a hipocrisia e as mentiras do Governo,
contra a desonestidade dos governantes, contra o ataque ao Estado de direito,
contra o ataque à democracia. Era de desejar que muita gente respondesse ao
apelo. Sabemos que muita gente responde ao apelo na sua cabeça e no seu coração
e sente na carne todas estas agressões. E, no entanto... Apesar de vivermos um
dos períodos mais negros da História de Portugal, apesar de sermos governados
por um Governo colaboracionista que renega todas as suas promessas, todos os
seus juramentos, todas as suas palavras, que despreza todos os seus compromissos
com os cidadãos e o seu país em prol de uma servidão abjecta a poderes inimigos
do interesse nacional, apesar disso... a manifestação” não atingiu o volume
que se esperava.
Haja muita ou pouca
participação em qualquer manifestação, cada um tem a natural tendência para
especular sobre o número de pessoas presentes. É bem provável que, actualmente,
se esteja a verificar algum cansaço naqueles que, embora com uma raiva
crescente percebem que, “por enquanto o
Governo está a ganhar ao povo”. Mas não se iludam os governantes porque
resignação é aquilo que não existe e a ira daqueles que todos os dias – mesmo todos
– se vêem cada vez mais atacados nos seus direitos básicos, não pára de
aumentar, qual balão prestes a rebentar. Por isso, adverte Malheiros “ninguém se resigna à fome dos filhos. As
pessoas esperam. Milhares e milhares que não estiveram na manif, talvez
milhões, sentem a mesma raiva no peito. O Governo está a conseguir encurralar
as pessoas, a condená-las ao desemprego e à pobreza, mas ninguém desistiu. A
fome e a humilhação não convidam à resignação e, um dia, há camisas rasgadas
que se transformam em bandeiras. É um slogan? Um verso de um poema? É. Mas é
também verdade. A História está cheia de exemplos. Não há nada tão mobilizador
como um verso”.
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