Paulo Morais é uma conhecida
personalidade, geralmente bem aceite em muitos sectores da direita,
vice-presidente da direcção da organização anti-corrupção Transparência e
Integridade Associação Cívica, para além de docente do ensino superior nas
áreas da Estatística e da Matemática. Entre 2005 e 2008 foi vice-presidente da
Câmara Municipal do Porto (eleito pelo PSD), responsável pelos pelouros do
urbanismo, acção social e habitação.
A notoriedade pública de Paulo Morais tem
a ver com a denúncia que vem fazendo em diversos meios de comunicação social,
da promiscuidade entre poderes políticos e económicos. Escreve regularmente no
Correio da Manhã, de onde retirámos o seguinte texto publicado na edição de há
dois dias. Nele é afirmado com frontalidade que os principais beneficiários das
campanhas de recolha de alimentos para carenciados não são exactamente os que
mais precisam… Mas o melhor é ler-se o texto na íntegra.
Aparentes acções de grande
solidariedade, as campanhas de recolha de alimentos para carenciados constituem,
isso sim, agressivas operações comerciais. Quem acaba por mais lucrar são supermercados
e hipermercados, que vêem as suas vendas aumentar. A seguir vem o Estado, pois
este acréscimo de consumo representa também aumento na coleta de impostos. E os
pobres dos pobres que justificam as campanhas são, afinal, os menos
beneficiados.
Em dias de recolha de
alimentos, as grandes superfícies aumentam consideravelmente as suas vendas,
sem sequer necessitarem de promoções ou até qualquer trabalho de marketing
suplementar. As administrações do Pingo Doce e do Continente, que no seu
conjunto detêm 90% do mercado de distribuição, devem rejubilar com esta
campanha comercial, disfarçada de ação solidária. Ano após ano, os Bancos
Alimentares contribuem para o acréscimo da sua faturação em dezenas de milhões de
euros. Parte significativa deste montante engorda os lucros das empresas de distribuição.
E não só. Também o Estado tira proveito deste acréscimo de consumo, pela via do
IVA que é cobrado, em muitos dos produtos a 23%, o que representa também milhões
de euros.
Assim, os voluntários da Cruz
Vermelha que participam na ‘Operação Sorriso’ cumprem a função (involuntária) de
promotores de vendas do Continente. Os milhares de jovens que colaboram com o
Banco Alimentar julgam estar a ajudar as famílias portuguesas, mas as famílias
que mais beneficiam das campanhas de recolha de alimentos são as de Belmiro de
Azevedo e de Soares dos Santos.
A maior parte
da ajuda fica pelo caminho, chegando às centenas de milhares de necessitados
apenas uma reduzida percentagem do generoso esforço financeiro dos portugueses.
E está mal aproveitado o trabalho abnegado de milhares de voluntários
bem-intencionados que são usados, sem disso se aperceberem, como peças de uma
máquina comercial. Para que as operações de oferta de alimentos aos mais
carenciados sejam eficazes, há que encontrar esquemas alternativos de
distribuição direta dosa recursos. A actividade solidária não necessita de ser
taxada com IVA nem de intermediários que retêm a maioria do valor dos
donativos, como é o caso dos hipermercados.
Sem comentários:
Enviar um comentário