Durante a ditadura a política foi
capturada pelo partido único. Ai daqueles que quisessem “intervir politicamente”.
Não só eram esconjurados como sofriam na pele a sua ousadia.
Com o advento da democracia os
portugueses reavivaram o seu interesse pela política no sentido de poderem
escolher livremente. No entanto, aos poucos, foi-se assistindo a uma nova captura
da política pelos chamados partidos do arco da governação, PS, PSD e CDS que
foram distribuindo “tachos” e prebendas pelos seus filhotes.
Actualmente é o capital financeiro que
manda em Portugal e controla o poder político através do Governo PSD/CDS com a
prestimosa colaboração do Presidente da República. Quando o duo Passos/Portas cair,
estará o PS pronto a substituí-los sem que nada de essencial se altere.
É dentro destas linhas de força que
devemos ler um excelente artigo de Domingos
Lopes no Público de hoje, que a seguir transcrevemos.
A política antes do 25 de
Abril era ofício exclusivo dos membros do partido único: A União Nacional/Acção
Nacional Popular.
Os defensores do regime iam
para a política para se "sacrificarem" pela pátria.
Os outros que quisessem
intervir politicamente na sociedade estavam ao serviço de poderes ocultos e
maléficos, manipuladores ou manipulados pelo estrangeiro.
E para salvar o país de ervas
ruins, Caxias e Peniche impunham a ordem.
Esta captura da política tinha
como essência amedrontar todos os portugueses do perigo que era meter-se em
política. Foram mais de cinco décadas a martelar nesta tecla: a política é uma
coisa suja. A política era para Salazar e os seus apaniguados que não faziam
política, salvavam Portugal.
O 25 de Abril de 1974 levou
milhões de portugueses a interessarem-se pela política e a fazer as suas
escolhas.
À medida que os governantes
foram perdendo o sentido de governar para o bem da comunidade, os cidadãos
iniciaram um processo de virar as costas aos políticos.
Na verdade, quando
alcandorados no poder, o que os governantes passaram a fazer foi tratar dos
seus interesses, enxamear instituições com fiéis do partido e fazer tábua rasa
dos programas eleitorais e dos próprios partidos.
O arco do poder constituído
pelo PS, PSD e CDS outra coisa não tem feito nas últimas duas décadas.
Governando com os olhos nos
de cima e pisando os de baixo, o povo vem descrendo da política, das
instituições e desesperando.
Com a crise provocada pelo
explodir da bolha financeira e a assinatura do famigerado Memorandum da troika
por parte dos partidos do arco da governação, assistimos ao assalto final da
politica pelos chamados mercados financeiros.
Fugindo com a conivência dos
governos à responsabilidade da crise por si provocada, o sistema financeiro
capturou o poder político para impor a brutal austeridade, tentando
justificá-la com a lengalenga dos portugueses viverem muito acima das suas
possibilidades.
O capital financeiro manda
realmente no Governo e faz transferir os rendimentos dos portugueses para
saciar a sua gula de lucros.
Fá-lo à custa do recorde de
desemprego, de perda de habitação, de suicídios, de encerramento de escolas, de
hospitais, de empobrecimento galopante dos portugueses.
Depois do 25 de Abril nunca
houve desigualdades tão acentuadas. Em nome dos mercados esmifra-se o já baixo
nível de vida dos portugueses. O que interessa aos mercados é o que interessa
ao Governo.
Dizem: ou isto, ou o caos.
Porém isto é o caos. É a incerteza do dia seguinte. É ouvir da boca dos
governantes uma coisa, sair à rua e esbarrar com outra mais dura e cruel. Todos
sentem que com este Governo o empobrecimento veio para ficar; mesmo aqueles que
pensavam que se podiam esconder.. Os isentos de qualquer arranhãozinho são os
donos do dinheiro. Nesses é proibido tocar; são os representantes do deus
dinheiro na Terra.
O Governo cortou e vai cortar
mais para ser mais competitivo, alega.
Pretende diminuir de tal modo
os salários que não haja multinacional que para cá não queira vir sobreexplorar
a mão-de-obra ao preço da uva mijona. Aí seremos competitivos.
O Governo PSD/CDS está nas
mãos da troika e dos mercados. É deles. E por ser deles, como é, ataca
dia e noite os portugueses, a começar pelo Tribunal Constitucional, apoiado
pela Santíssima Trindade da troika.
Do alto do Palácio de Belém,
o Presidente normal sorri normalmente com a energia imparável da sua criatura.
Tal e qual como na Europa normal.
O Presidente conhece muito,
muito, muito bem os mercados, como gosta de afirmar, e não quer crises, porque
os mercados querem estabilidade e que prossiga o trabalhinho de Passos, Portas
e Companhia. Os governos vão até ao fim, diz Cavaco. A Bélgica, a Itália e
Chipre não fazem parte da Europa. Talvez a estável Arábia Saudita venha a fazer
por este critério.
O importante para este
Presidente da República absolutamente normal é que, neste caos de tristeza e
desespero, Portugal retroceda décadas, para bem dos insaciáveis e intocáveis
mercados.
A
captura da política é entregar as decisões políticas aos mercados que não vão a
votos, e que cá têm os seus maiorais que de três em três meses lhes prestam
contas. Abençoado seja a santíssima trindade: Presidente da República, Governo
e troika.
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