terça-feira, 5 de novembro de 2013

PODER POLÍTICO CAPTURADO


Durante a ditadura a política foi capturada pelo partido único. Ai daqueles que quisessem “intervir politicamente”. Não só eram esconjurados como sofriam na pele a sua ousadia.
Com o advento da democracia os portugueses reavivaram o seu interesse pela política no sentido de poderem escolher livremente. No entanto, aos poucos, foi-se assistindo a uma nova captura da política pelos chamados partidos do arco da governação, PS, PSD e CDS que foram distribuindo “tachos” e prebendas pelos seus filhotes.
Actualmente é o capital financeiro que manda em Portugal e controla o poder político através do Governo PSD/CDS com a prestimosa colaboração do Presidente da República. Quando o duo Passos/Portas cair, estará o PS pronto a substituí-los sem que nada de essencial se altere.
É dentro destas linhas de força que devemos ler um excelente artigo de Domingos Lopes no Público de hoje, que a seguir transcrevemos.
A política antes do 25 de Abril era ofício exclusivo dos membros do partido único: A União Nacional/Acção Nacional Popular.
Os defensores do regime iam para a política para se "sacrificarem" pela pátria.
Os outros que quisessem intervir politicamente na sociedade estavam ao serviço de poderes ocultos e maléficos, manipuladores ou manipulados pelo estrangeiro.
E para salvar o país de ervas ruins, Caxias e Peniche impunham a ordem.
Esta captura da política tinha como essência amedrontar todos os portugueses do perigo que era meter-se em política. Foram mais de cinco décadas a martelar nesta tecla: a política é uma coisa suja. A política era para Salazar e os seus apaniguados que não faziam política, salvavam Portugal.
O 25 de Abril de 1974 levou milhões de portugueses a interessarem-se pela política e a fazer as suas escolhas.
À medida que os governantes foram perdendo o sentido de governar para o bem da comunidade, os cidadãos iniciaram um processo de virar as costas aos políticos.
Na verdade, quando alcandorados no poder, o que os governantes passaram a fazer foi tratar dos seus interesses, enxamear instituições com fiéis do partido e fazer tábua rasa dos programas eleitorais e dos próprios partidos.
O arco do poder constituído pelo PS, PSD e CDS outra coisa não tem feito nas últimas duas décadas.
Governando com os olhos nos de cima e pisando os de baixo, o povo vem descrendo da política, das instituições e desesperando.
Com a crise provocada pelo explodir da bolha financeira e a assinatura do famigerado Memorandum da troika por parte dos partidos do arco da governação, assistimos ao assalto final da politica pelos chamados mercados financeiros.
Fugindo com a conivência dos governos à responsabilidade da crise por si provocada, o sistema financeiro capturou o poder político para impor a brutal austeridade, tentando justificá-la com a lengalenga dos portugueses viverem muito acima das suas possibilidades.
O capital financeiro manda realmente no Governo e faz transferir os rendimentos dos portugueses para saciar a sua gula de lucros.
Fá-lo à custa do recorde de desemprego, de perda de habitação, de suicídios, de encerramento de escolas, de hospitais, de empobrecimento galopante dos portugueses.
Depois do 25 de Abril nunca houve desigualdades tão acentuadas. Em nome dos mercados esmifra-se o já baixo nível de vida dos portugueses. O que interessa aos mercados é o que interessa ao Governo.
Dizem: ou isto, ou o caos. Porém isto é o caos. É a incerteza do dia seguinte. É ouvir da boca dos governantes uma coisa, sair à rua e esbarrar com outra mais dura e cruel. Todos sentem que com este Governo o empobrecimento veio para ficar; mesmo aqueles que pensavam que se podiam esconder.. Os isentos de qualquer arranhãozinho são os donos do dinheiro. Nesses é proibido tocar; são os representantes do deus dinheiro na Terra.
O Governo cortou e vai cortar mais para ser mais competitivo, alega.
Pretende diminuir de tal modo os salários que não haja multinacional que para cá não queira vir sobreexplorar a mão-de-obra ao preço da uva mijona. Aí seremos competitivos.
O Governo PSD/CDS está nas mãos da troika e dos mercados. É deles. E por ser deles, como é, ataca dia e noite os portugueses, a começar pelo Tribunal Constitucional, apoiado pela Santíssima Trindade da troika.
Do alto do Palácio de Belém, o Presidente normal sorri normalmente com a energia imparável da sua criatura. Tal e qual como na Europa normal.
O Presidente conhece muito, muito, muito bem os mercados, como gosta de afirmar, e não quer crises, porque os mercados querem estabilidade e que prossiga o trabalhinho de Passos, Portas e Companhia. Os governos vão até ao fim, diz Cavaco. A Bélgica, a Itália e Chipre não fazem parte da Europa. Talvez a estável Arábia Saudita venha a fazer por este critério.
O importante para este Presidente da República absolutamente normal é que, neste caos de tristeza e desespero, Portugal retroceda décadas, para bem dos insaciáveis e intocáveis mercados.
A captura da política é entregar as decisões políticas aos mercados que não vão a votos, e que cá têm os seus maiorais que de três em três meses lhes prestam contas. Abençoado seja a santíssima trindade: Presidente da República, Governo e troika.

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