terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A DESASTRADA IDA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA À TOMADA DE POSSE DE BOLSONARO


Poderá ter sido um disparatado telefonema de Marcelo para uma conhecida apresentadora de programas de entretenimento o suficiente para desviar as atenções da opinião pública relativamente à desastrada ida do Presidente da República à tomada de posse de Bolsonaro? “Espalhanço monumental” é o que lhe chama Domingos Lopes, com alguma benevolência, no artigo de opinião que assina hoje no “Público” já que esse espalhanço se dispersa, no mínimo, em duas direcções, qual delas a mais grave: 1) Branqueamento da imagem de uma figura sinistra que, daqui em diante, pelas piores razões, irá trazer o Brasil para as primeiras páginas da comunicação social de todo o mundo; 2) O gritante absurdo do convite de Marcelo a Bolsonaro para visitar Portugal. Pelo meio há ainda que referir o encontro que o “capitão Presidente” concedeu ao nosso Presidente da República que não trouxe nada de bom para a imagem de Portugal a nível internacional.

A ideia de Marcelo ir à tomada de posse de Bolsonaro podia ser boa, mas foi péssima. Bastou passar dois ou três dias para ver que, apesar da “irmandade”, a ida foi um espalhanço monumental, uma daqueles falhanços que não é do Estado, mas sim exclusivamente do detentor do mais alto cargo político em Portugal.
Marcelo está habituado a lidar com o que se pode chamar uma agenda de superficialidades: aparecer preocupado com as situações alarmantes; rejubilante com as vitórias desportivas; ternurento com os infelizes; insinuante com os desafios eleitorais; superdesportivo a dar mergulhos em praias marítimas e fluviais; e sempre, sempre pronto para dar afeto, um primor, o special one
A vontade de transformar vinte minutos (o tempo que o capitão Presidente lhe concedeu) numa vitória diplomática é um absurdo gritante. Houve um quinto tema – a visita de Bolsonaro a Portugal (que duvido que se concretize).
Ora vinte minutos, onde tratou de cinco temas - a comunidade portuguesa no Brasil, a comunidade brasileira em Portugal, as relações entre Portugal e Brasil a CPLP e a visita a Portugal de Bolsonaro, a dividir por cinco temas dá quatro minutos, o que significará que cada Presidente deverá ter falado entre dois minutos por tema, caso algum deles não se tenha remetido ao silêncio …
Ora esta reunião …"formal e substancialmente boa entre irmãos”… não pode deixar de ser vista, em termos meramente político-diplomáticos como um espalhanço monumental e daí a necessidade de Marcelo substituir factos por uma conclusão.
O que disseram (se é que disseram) é segredo, mas em todo o caso o mais importante foi a tentativa frustrada de Marcelo arengar que não podia ser melhor, chegando ao cúmulo de se lembrar que as reuniões entre irmãos são rápidas… talvez pairasse já na sua inteligência política o falhanço da ida assistir à indecorosa tomada de posse do Brasil por parte de Bolsonaro e seus capangas e que tresandava às alfurjas do fascismo.
Se dúvidas houvesse dissiparam-se, pois ainda Marcelo mal tinha aterrado em Lisboa e Bolsonaro dava o tiro de partida para a caça às bruxas no aparelho do Estado - os simpatizantes de partidos de esquerda vão ser despedidos … assim, por serem de esquerda. Os apoiantes da ditadura podem ficar, não são políticos. Os filhos vestem azul e as filhas rosa.
Salazar na sua odienta perseguição aos comunistas instituiu uma famigerada fórmula para assegurar a tal educação limpa, sem ideologia, que consistia na última pergunta aos candidatos a professores: Qual a razão do erro do comunismo? A resposta: o comunismo está errado devido ao egocentrismo da criança…
Ora como se vê esta é a educação limpa, sem vestígios de ideologia, que vigorou em Portugal nos tempos de Salazar e que Bolsonaro quer ressuscitar.
Ainda não se tinha recomposto da viagem e, no Brasil, Bolsonaro atacava os tribunais de Trabalho porque o cavernícola entende que para o trabalhador não há direitos laborais.

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Quem se mete aos sorrisos com candidatos a ditadores fica mal visto. E se lhe chama irmão…

Como pôde Marcelo, Presidente de uma República laica, democrática, considerar irmão Bolsonaro que coloca Deus, no plano institucional, acima da Constituição, e tem no seu governo éne evangélicos, como um verdadeiro jihadista evangélico? E que acha que cada brasileiro deve ter duas armas? E que não houve ditadura no Brasil, nem tortura… Que falhanço, meu irmão. 

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