segunda-feira, 27 de julho de 2015

A POLÍTICA NÃO TEM DE RIMAR COM CORRUPÇÃO


Foram sempre os mesmos partidos que nas últimas três décadas estiveram à frente dos destinos de Portugal e, apesar de, em cada legislatura sempre terem feito o contrário do que prometerem durante as campanhas eleitorais, em todas as eleições legislativas continuam a obter a maioria dos votos, numa espiral interminável. Ainda que não se perceba por que razão o povo português persiste em continuar a eleger governantes que o vão sistematicamente enganando, a verdade é que é esta a realidade. Na “política” há gente séria que os eleitores continuam a esquecer e que, apesar de sobejas provas de honestidade que nos vão demonstrando são metidos no mesmo saco dos desonestos, de forma completamente injusta. É claro que a ideia espalhada pelos fazedores de opinião do sistema, de que quem vai para a actividade política é para se governar, faz o seu caminho que é o mais conveniente para os partidos da rotatividade do poder pois cria-se a ideia de que não vale a pena mudar…
Mas vale a pena mudar, que mais não seja para se perceber que há alternativas dignas de ser postas em prática, para além da mediocridade existente.
Não é a primeira vez que Domingos Lopes chama a atenção em artigo de opinião para o facto de que a “República necessita de gente séria, honrada e competente” e, mais uma vez o faz com muita autoridade no Público de hoje.

Desde sempre o ser humano teve, dentro de si, a apetência para condutas de favorecimento pessoal causando prejuízo a toda a sociedade.
Seja no estranho regime socialista chinês fabricante de bilionários membros do partido comunista, na terra de Agostinho Neto, em França, nos EUA, em Portugal de banqueiros de elevada confiança como se tem visto ou na Alemanha dos submarinos.
Só que em Portugal as sucessivas vagas de casos ao mais alto nível fazem pensar que muitos dos políticos se dedicam à política porque lhes é mais fácil por essa via “safarem-se” na vida.
Entre uma profissão e uma carreira política a grande maioria dos quadros dirigentes dos partidos preferiu abandonar a profissão ou nem sequer chegar a entrar.
Em geral vai para a carreira política gente cuja convicção é tratar da vida. Há exceções, raras.
O país é dirigido por um núcleo da burguesia compradora, parasitária que ataca o Estado mas vive das áreas protegidas do Estado. Para tanto tem os seus homens de mão no governo. Precisam de ter uma boa parte da elite política ao seu serviço.
À semelhança do que se passa no mundo, os donos do dinheiro querem lucros rápidos. E investem os seus trunfos no arco.
Os políticos do arco do poder têm um problema parecido com o do pecado original nos católicos. Entram para fazer vénia ao poder económico. Ab initio. É o pecado.
Mal entram na política sabem quem manda e quem manda pode. Eles vão a votos. Os que mandam não vão, mandam nos que vão para o governo. E está-lhes no sangue conformarem-se.
E se governassem a pensar nos de baixo a quem prometeram muito receberiam pouco pois que se saiba a consciência não é rica em contas bancárias.
Os de cima, os que mandam a sério, esses podem mudar a vida a qualquer um. O pecado original é esse – fazer vénias aos que mandam na economia, aos que são donos disto tudo.
Numa sociedade tão desigual, desequilibrada a todos os níveis, cheia de revistas de famosos e programas televisivos delirantes de basbaquismo, onde cada vez se lê menos e se olha mais, é previsível que os do poder tendam a governar-se enquanto o podem fazer. A maior parte deles (há exceções) sem a menor competência, salvo a de se saber posicionar para preencher cargos que defendam os interesses do “nosso partido”, perdão, o interesse nacional, como ficou demonstrado na venda EDP ou dos CTT…
Há gente na política que nem capacidade teve para fazer um curso, mesmo naquelas Faculdades que mais parecem aviários de cursos.
Pois gente desta pode rapidamente chegar a banqueiro ou a gestor ou a consultor ou ao tribunal, como infelizmente se tem visto.
No poder sentem o quão fácil é poder aceder a off shores… a fechar os olhos e a recompensa do beneficiado com a consequente perda para a comunidade.
O que importa é a fortuna e ela está mão de semear nos gabinetes alcatifados do poder executivo, legislativo ou autárquico.
Gente que passou despercebido por onde andou, mas que no partido criou através de uma cultura de carreirismo e de descoberta de inimigos internos (o que já alastra ao futebol) ganhou notoriedade e guindou-se a altos cargos cuja mesa está recheada de iguarias apetecíveis.
 A maior parte dos nossos governantes provêm deste viveiro. Tirando a história e alguns históricos quais são as diferenças entre PSD e CDS? E entre PS e PSD? E à esquerda há assim tanta diferença ou a diferença é para cada um ter mais fregueses na freguesia e segurá-los para poder continuar a desfrutar o pequeno poder que justifica o partido?
Em Portugal os principais dirigentes partidários do tal arco nunca fizeram outra coisa que não fosse política, salvo alguns consultores em empresas ligadas ao partido ou de Oénegês.
A política é essencial para alcançar a paz social e a justa redistribuição dos rendimentos, o que exige homens e mulheres de elevadas qualidades cívicas e morais.
Os partidos, que têm governado o país nos últimos trinta anos, promoveram a altos cargos governamentais muita gente que se serviu dessa posição para se enriquecer sem causa e para arranjar para os seus partidos meios de subsistência.
O deslumbramento e a obsessão pelas vantagens económicas, de que se não for naquela altura nunca mais darão o grande salto social, também ajudarão a compreender a enchente de casos criminais das gentes do arco da governança.
A República necessita de gente séria, honrada e competente. Não é verdade que competência rime com ganância. Nem que política rime com corrupção.
O povo tem responsabilidade. Já sabe o que espera de quem sempre fez o que fez, isto é, o contrário do que prometeu.
Quando a honradez precisa da coragem do povo nas urnas, que ninguém se deixe iludir pelo ramerrão da vida e pela ideia de que nada há a fazer a não ser deixar a corrupção triunfar.

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