Chegou-nos
há poucos dias a notícia da introdução do ensino do mandarim já no próximo ano
lectivo em algumas escolas secundárias públicas. Aparentemente não se via nenhum
mal nisso, porém, o que passou despercebido é que os professores são chineses, escolhidos
e pagos pelo governo da República Popular da China (RPA) e "com programas
elaborados por uma instituição que obedece ao governo” chinês. Obviamente que o
governo da china não vai pagar professores para leccionarem em Portugal apenas
para nos ser simpático… Experiências idênticas já foram realizadas noutros
países onde se concluiu que esta oferta da RPA implicava como pagamento a
“promoção da ideologia do governo chinês”. Verifica-se, assim, que, mais uma
vez, vamos chegar atrasados na implementação de medidas no sector educativo já
abandonadas por outros países e, no caso presente, não tem apenas a ver com
aspectos pedagógicos…
O
texto seguinte sobre este tema é parte de um artigo de opinião assinado no
Público de hoje, pelo Prof. Santana Castilho.
Parafraseando
José Saramago, há uma regra fundamental que é, simplesmente, não calar. Não
calar!
O
despacho nº 7031 - A/2015 introduz o ensino de mandarim em algumas escolas
secundárias públicas no próximo ano-lectivo. Os professores serão chineses e as
despesas correm por conta da República Popular da China, mediante um protocolo
com o Instituto Confúcio. Este instituto tem por objectivo imediato a promoção
da língua e da cultura chinesas. Mas outros vêm a seguir, ou mesmo antes, pese embora
tratar-se de matérias a que Confúcio era avesso. Com efeito, logo que a
iniciativa foi conhecida, chegaram notícias de experiências idênticas de países
ocidentais, que cancelaram acordos similares por ameaça à liberdade académica
(vigilância indesejável de estudantes e actos de censura). Dito nada pelo
Ministério da Educação sobre este começo menos auspicioso, sobram perguntas, a
saber: que diz o ministro à suspeita transnacional (França, Suécia, EUA e
Canadá, entre outros) quanto à utilização do Instituto Confúcio como
instrumento de promoção da ideologia do governo chinês? Poderemos aceitar que
uma disciplina curricular do sistema de ensino nacional seja leccionada por
professores estrangeiros, escolhidos pelo governo da China, pagos pelo governo da
China e com programas elaborados por uma instituição que obedece ao governo da
China? Conhecida que é a complexidade extrema da aprendizagem do mandarim,
particularmente no que à escrita respeita, fará sentido iniciá-la… no 11º ano?
Terá a iniciativa relevância que a justifique? Pensará o grande timoneiro Nuno
Crato substituir o Inglês (cujos exames acabou de entregar a outra instituição
estrangeira) pelo mandarim, como língua de negócios? Ou tão-só se apresta,
pragmaticamente, a facilitar a vida aos futuros donos disto tudo, numa visão
futurista antecipada pela genialidade de Paulo Futre?
A
indústria do financiamento alienou por completo a solidez pedagógica das
decisões e transformou o currículo escolar numa manta de retalhos de
experimentalismos sem coerência.
O ministério de Nuno Crato
ficará marcado por um contínuo de soluções aos solavancos, determinadas pela
ânsia de responder a um sistema político e económico que exige do ensino
resultados com impacto rápido no sistema produtivo. Uma simples lógica de
obediência a mecanismos simplistas de mercado, com total desprezo pela vertente
personalista da acção educativa e pela necessidade de colher aceitação social
para as políticas educativas.
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