quarta-feira, 1 de julho de 2015

INTRODUÇÃO DO ENSINO DO MANDARIM EM PORTUGAL


Chegou-nos há poucos dias a notícia da introdução do ensino do mandarim já no próximo ano lectivo em algumas escolas secundárias públicas. Aparentemente não se via nenhum mal nisso, porém, o que passou despercebido é que os professores são chineses, escolhidos e pagos pelo governo da República Popular da China (RPA) e "com programas elaborados por uma instituição que obedece ao governo” chinês. Obviamente que o governo da china não vai pagar professores para leccionarem em Portugal apenas para nos ser simpático… Experiências idênticas já foram realizadas noutros países onde se concluiu que esta oferta da RPA implicava como pagamento a “promoção da ideologia do governo chinês”. Verifica-se, assim, que, mais uma vez, vamos chegar atrasados na implementação de medidas no sector educativo já abandonadas por outros países e, no caso presente, não tem apenas a ver com aspectos pedagógicos…
O texto seguinte sobre este tema é parte de um artigo de opinião assinado no Público de hoje, pelo Prof. Santana Castilho.
Parafraseando José Saramago, há uma regra fundamental que é, simplesmente, não calar. Não calar!
O despacho nº 7031 - A/2015 introduz o ensino de mandarim em algumas escolas secundárias públicas no próximo ano-lectivo. Os professores serão chineses e as despesas correm por conta da República Popular da China, mediante um protocolo com o Instituto Confúcio. Este instituto tem por objectivo imediato a promoção da língua e da cultura chinesas. Mas outros vêm a seguir, ou mesmo antes, pese embora tratar-se de matérias a que Confúcio era avesso. Com efeito, logo que a iniciativa foi conhecida, chegaram notícias de experiências idênticas de países ocidentais, que cancelaram acordos similares por ameaça à liberdade académica (vigilância indesejável de estudantes e actos de censura). Dito nada pelo Ministério da Educação sobre este começo menos auspicioso, sobram perguntas, a saber: que diz o ministro à suspeita transnacional (França, Suécia, EUA e Canadá, entre outros) quanto à utilização do Instituto Confúcio como instrumento de promoção da ideologia do governo chinês? Poderemos aceitar que uma disciplina curricular do sistema de ensino nacional seja leccionada por professores estrangeiros, escolhidos pelo governo da China, pagos pelo governo da China e com programas elaborados por uma instituição que obedece ao governo da China? Conhecida que é a complexidade extrema da aprendizagem do mandarim, particularmente no que à escrita respeita, fará sentido iniciá-la… no 11º ano? Terá a iniciativa relevância que a justifique? Pensará o grande timoneiro Nuno Crato substituir o Inglês (cujos exames acabou de entregar a outra instituição estrangeira) pelo mandarim, como língua de negócios? Ou tão-só se apresta, pragmaticamente, a facilitar a vida aos futuros donos disto tudo, numa visão futurista antecipada pela genialidade de Paulo Futre?
A indústria do financiamento alienou por completo a solidez pedagógica das decisões e transformou o currículo escolar numa manta de retalhos de experimentalismos sem coerência.
O ministério de Nuno Crato ficará marcado por um contínuo de soluções aos solavancos, determinadas pela ânsia de responder a um sistema político e económico que exige do ensino resultados com impacto rápido no sistema produtivo. Uma simples lógica de obediência a mecanismos simplistas de mercado, com total desprezo pela vertente personalista da acção educativa e pela necessidade de colher aceitação social para as políticas educativas.

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