Definitivamente
a democracia deixou de ser um regime simpático para os donos disto tudo sempre que
a vontade do povo livremente expressa rejeita o engano em que tem vivido e dá
um murro na mesa. Ser democrata e defender a democracia passou a ser coisa de “radicais”
e “extremistas” que fazem deste regime muito mais do que o exercício do acto de
votar de quatro em quatro anos na escolha de governantes que em campanha
eleitoral prometeram tudo e o seu contrário e no dia seguinte às eleições dão o
dito por não dito com a maior desfaçatez.
Exactamente
a democracia exige o cumprimento, entre outros, da Lei Fundamental ou seja da Constituição
de República, cujo Artigo 1º dos princípios fundamentais evocado no texto (*)
que apresentamos a seguir (transcrito do Público) é muito claro na sua letra e
no seu espírito. Neste momento a Constituição da República Portuguesa e a
democracia são letra morta enquanto grassar a pobreza extrema, muitas vezes
escondida em estatísticas manipuladas pelos governantes e seus porta-vozes na
comunicação social.
Não
podemos, pois, permitir que “a pobreza em Portugal tome proporções muito
semelhantes a um cataclismo” se o fosso entre ricos e pobres continuar a
crescer.
Ajudar
é um dever que cabe à política humana do Estado, não é só um dever cívico do
cidadão comum.
A
pobreza, a precariedade e a falta de recursos são um problema que, de um dia
para o outro, nos bate à porta. Passamos então a contar todos os dízimos com
que, ao longo dos anos, contribuímos para nos ajudar a superar eventuais fases
más.
Devíamos
ser uns para os outros, o Estado e as suas medidas, incentivos e apoios deviam
ser para todos nós, portugueses.
Tenho
este desejo antigo, de que Portugal seja a pátria ideal para todos os seus
cidadãos sejam eles ativos ou inativos.
Na
Constituição da República Portuguesa, o Artigo 1.º dos princípios fundamentais
constata que “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa
humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre,
justa e solidária”.
Tão
belas palavras empregues no crer que, com o poder democrático, tudo seria
diferente. Porém, ano após ano, com o aumento da desigualdade, a falta de
empenho dos sucessivos governantes para alterar o rumo, tem feito os
portugueses acreditar em tudo, menos nas bases de um país que deveria ter como
maior parceiro, o povo; começando por escutar as suas necessidades, para que
fossem postas em marcha algumas das suas vontades.
Em
vez disso, temos um governo que se esquece do povo, que não atenua as
disparidades dos salários, o que, no dia-a-dia, se reflete no poder de compra
da classe baixa, a mais afetada. Cria-se, assim, um fosso abismal no que toca à
dignidade do cidadão e à sua sobrevivência. O que a grande maioria dos
portugueses faz, não é viver, é limitar-se a existir e a sonhar que, um dia,
possam ter um lugar para viver e, pelo menos, duas refeições diárias
garantidas.
Existem
dois escalões de portugueses, o rico (a primeira opção do governo e a sua
principal preocupação) e o pobre, que sem opção nem defesa, se dilui de uma
sociedade e de um país que é seu por direito.
Portugal
é o 12.º País da EU com a maior taxa de pobreza com 2,7 Milhões de pessoas em
risco elevado de pobreza.
A
cada dia que passa, as nossas famílias usam a tática imperfeita para ”tapar o
buraco” em que se encontram, recorrendo ao método de abrir um “buraco” para
tapar o outro, sobrevivendo, assim, com uma elasticidade económica instável,
temporária e deflectível do seu processo normal. Deste modo, os portugueses
tornam-se reféns de uma economia flutuante, que é mantida pelos destroços da
economia vigente.
A
pobreza em Portugal toma proporções muito semelhantes a um cataclismo, que,
naturalmente, acontecerá pelo rumo contínuo desta história.
Pior
que a pobreza material que nos assola, só mesmo a pobreza mental dos nossos
governantes, que diariamente nos atinge.
Quantas
são as vezes que vêm a público dizer que, o que ganham, mal dá para viverem!
Pudessem eles ter a noção de quão descabido é (tentarem) vestir a pele do
pobre, pois a barriga deles está cheia, e a vida corre-lhes por entre os dedos,
enquanto se demoram a contar o dinheiro que lhes enche os bolsos.
Os
números reais da pobreza em Portugal são camuflados, ocultados pelos
verdadeiros heróis: o povo.
Se
não fosse o nosso forte cariz humano e solidário em ajudar o próximo, os
números não seriam estes, certamente.
Por
isso, temos de agradecer a todos aqueles que vestem a pele de doutores,
engenheiros e economistas e agradecer a quem realmente governa este país, para
que a taxa de pobreza não dispare para números ridículos, de tão reais que eles
são.
É
urgente que nos desfaçamos em elogios aos voluntários, aos solidários aos
caridosos. Ao cidadão comum deste país que faz de ajudar o próximo, o seu lema
de vida, mesmo que a sua vida não seja, ela própria, aquém de decente.
Ter
responsabilidade social é isto, lutar por um país mais justo, prestar homenagem
a quem a merece e criticar quem sucessivamente cria e atira os problemas para o
contribuinte resolver.
(*) Paula Leite, Presidente da ANAMP – Associação Nacional de
Amputados
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