Apresentação
da candidatura BE/Algarve às Legislativas de 2015
Teatro
Municipal de Portimão – 30 de julho de 2015
João Vasconcelos
Caros
camaradas e amigos,
Cumprimentos
a todos e obrigado pela vossa presença.
É
necessário continuar a eleger deputados bloquistas pelo Algarve. É necessário
ainda com mais força, continuar a levar as lutas do Algarve ao Parlamento. Só
assim teremos um Bloco de Esquerda mais forte, mais capaz e mais determinado em
afrontar, com êxito, as políticas de austeridade que continuam a grassar na
nossa região. Mas acima de tudo, a eleição de deputados bloquistas pelo Algarve
será uma garantia de que as reivindicações e aspirações das suas populações
serão colocadas e nível parlamentar e junto das entidades governativas com
vista à sua satisfação. Será a garantia de potenciar lutas muito mais fortes
das gentes que vivem e trabalham no Algarve, em prol do bem-estar, da justiça
social, da dignidade e da democracia.
Por
outro lado, a eleição de deputados do Bloco pelo Algarve significará um
poderoso contributo na luta que temos pela frente contra as políticas
austeritárias, venham elas de onde vierem, da parte de qualquer governo ou da
União Europeia. A austeridade que destrói as nossas vidas e que mata tem de ser
derrotada! É possível a construção de uma alternativa diferente! Uma
alternativa de esquerda que se afirme na luta contra a finança predadora,
contra as elites corruptas e contra uma Europa anti-democrática e trituradora
dos direitos dos Povos e cada vez mais germanófila. Uma alternativa de esquerda
que vá de encontro aos direitos e anseios do povo, dos trabalhadores, das
crianças, dos jovens, das mulheres, das pessoas mais idosas, que vá ao encontro
de todos sem exclusões! Para tal é necessário um Bloco de Esquerda cada vez
mais forte.
Três
anos de imposições da troika e quatro anos de governação PSD/CDS atiraram o
nosso país para o desastre. PS, PSD e CDS assinaram o memorando troikista, logo
são os três responsáveis pelo agravamento da crise, pela miséria, pela
desgraça, que se abateu inexoravelmente sobre milhares de empresas e sobre
centenas de milhares de famílias.
Paradoxo
dos paradoxos – o governo de Passos/Portas adotou o programa da troika como o
seu programa e ainda foi muito mais além do que o programa da troika exigia e,
numa sanha ideológica e revanchista, como não há memória após a Revolução de
abril, tem procurado desmantelar, pedra sobre pedra, tudo o que ainda restava
no campo dos direitos sociais e laborais, serviços públicos, setores económicos
estratégicos que são vendidos ao desbarato... mas ainda não destruiu tudo!
Daí
ser crucial e de transcendental importância provocar uma derrota clamorosa da
coligação “Portugal à Frente”, pois um novo governo PSD/CDS limitar-se-ia a
destruir, de vez, as nossas vidas! Mas um governo PS, liderado por Costa, mais
não será do que mais do mesmo e a “alternativa” que tanto apregou mais não será
do que uma mera alternância e isso todos sabemos o que significa! Basta
exercitar um pouco a memória e fazer uma breve viagem ao passado, ainda não
muito distante!
Não
obstante ter passado mais de um ano sobre a saída da troika do país, a situação
social e económica continua na mesma e, até, se agravou nalguns aspetos. O
Algarve espelha bem o reflexo de todas essas políticas nefastas: muitas dezenas
de milhares de desempregados e de precários, muitos milhares de jovens e outros
trabalhadores vêem-se constrangidos a escolher
a emigração forçada, a pobreza e a exclusão social tornaram-se gritantes,
levando muitas famílias a procurar ajuda a apoio alimentar junto de
instituições e cantinas sociais que continuam a aumentar na região, quem ainda
trabalha aufere magros salários e privado de direitos sociais e laborais,
muitos trabalhadores funcionam como autêntica mão-de-obra escrava nestes tempos
ditos modernos do século XXI, alugados à peça a empresas privadas de trabalho
temporário, ou utilizados nos serviços públicos sob a forma engenhosa de
estágios profissionais ou de contratos de emprego e inserção. Os serviços
públicos também sofreram um rude golpe na região, com destaque para o
encerramento de escolas, tribunais, extensões de saúde e organismos ligados à
agricultura e pescas, estações da CP, postos de correios e muitos outros. Mas
foi no Serviço Nacional de Saúde da região que os ataques por parte de um
governo ultraliberal e ao serviço de interesses privados mais se fizeram notar
– a criação do Centro Hospitalar do Algarve conduziu à degradação dos serviços
de saúde e ao encerramneto de outros serviços e valências nos Hospitais de Faro,
Portimão e Lagos. A própria Maternidade do Hospital de Portimão encontra-se em
risco de fechar as portas de forma definitiva. A situação só não atingiu outras
proporções ainda mais negativas porque as populações, os utentes, os médicos e
outros profissionais ligados ao setor, as associações sindicais e até algumas
forças políticas protestaram e vieram para a rua em defesa do SNS! O Bloco de
Esquerda orgulha-se de ter estado presente nessas lutas e assim é que tem de
ser.
Outra
situação vergonhosa é a que se assiste a nível do INEM na região com o
desmantelamento progressivo dos seus serviços, colocando em risco os postos de
trabalho e pondo em perigo a vida das populações, acabando muitos por pagar com
a própria vida. A redução de valências do CODU (Centro de Orientação de Doentes
Urgentes) e a desativação do CAPIC (Centro de Apoio Psicológico e Intervenção
em Crise) degradaram substancialmente os serviços do INEN na região. A saída do
helicóptero ligeiro de Loulé para Beja em finais de 2012 já tinha contribuido
para depauperar os serviços do INEM regionais.
Um
outro aspeto que merece ser referido, agora de âmbito laboral e que marcou de
forma negativa a governação do PSD/CDS tem sido a chaga dos salários em atraso
e que no Algarve também atinge muitos
trabalhadores. Uma saudação muito especial aos trabalhadores do Clube Praia da
Rocha e em particular a Marilú Santana, que durante mais de 15 dias travaram
uma luta dura, mas vitoriosa, para reaver os seus salários em atraso. Nessa
luta também marcámos presença e apoio.
Uma
outra imagem de marca do atual governo foi a sua atitude agressiva e
prepotente, no âmbito da Pólis, contra
as populações das ilhas barreira da Ria Formosa. As populações, com a sua
poderosa luta e onde também tem pontuado o apoio do Bloco de Esquerda,
travaram, para já, os intentos das entidades responsáveis. O processo de
renaturalização das ilhas não pode apostar apenas em demolições, mas deve
acautelar os interesses de quem lá vive e trabalha, garantir o realojamento de
todos de forma condigna, fazer uma reavaliação do Plano de Ordenamento da Orla
Costeira onde haja planeamento e reabilitação das áreas construídas, o tratamento
de todos os efluentes lançados na Ria Formosa, a segurança e a proteção
ambiental, entre outros aspetos.
Finalmente,
uma das grandes nódoas e bem trágicas deste governo foi a imposição de
portagens na Via do Infante, responsáveis por dezenas de mortos, centenas de
feridos graves e milhares de outros feridos, além de estar a contribuir para a
destruição da economia regional. A requalificação da EN 125, uma autêntica rua
urbana e que nunca se constituirá como alternativa à A22, continua por
fazer-se. Ainda hoje estamos à espera de um relatório sobre o impacte das
portagens no Algarve, prometido por um certo ministro da economia. Certamente
que não teve tempo de elaborar tal relatório, tão afadigado andava com os célebres pastéis de nata! Mas continuaremos a
luta pela abolição das portagens no Algarve.
A
eleição de deputados bloquistas pelo Algarve certamente constituirá uma
poderosa alavanca na luta contra a austeridade perpétua, os quais recusarão,
sem margem para dúvidas, as imposições
anti-populares de qualquer governo, do Tratado Orçamental e da Parceria
Transatlântica de Comércio e Investimento. Esses deputados estarão disponíveis
para viabilizar soluções de governo, desde que alternativas às políticas de
austeridade cega, estarão disponíveis para viabilizar medidas de combate à
crise económica e social e em defesa do estado social, dos serviços públicos,
do aprofundamento da democracia, da justiça social, do bem-estar, da dignidade,
em defesa daqueles que mais precisam.
O
Bloco de Esquerda, nestas legislativas, apresenta alguns compromissos que são
prioridades para o Algarve a pôr em prática na próxima legislatura. Algumas
dessas prioridades no âmbito da economia,
ambiente e ordenamento do território, já foram elencadas pelo camara José
Moreira. Passarei a referir mais
algumas:
Direito ao trabalho com
direitos e luta contra o desemprego, a precariedade e a exclusão social
Aqui
a prioridade vai para a centralidade do direito ao trabalho e do trabalho com
direitos. A atividade económica regional assenta maioritariamente no setor do
turismo de sol e praia e nas atividades ligadas a este setor, em detrimento da
atividade industrial, da pesca e da agricultura.
A criação de emprego é uma das prioridades da ação politica do
Bloco na próxima legislatura, apostando na reabilitação urbana dos centros
históricos das cidades e outras localidades; criação de um programa de apoios
fiscais e subsídios à criação de emprego e autoemprego com a contratualização
de apoios às microempresas, e ao setor cooperativo; promoção do emprego social,
nomeadamente nos equipamentos e serviços sociais, culturais e desportivos.
A luta contra o desemprego passará pela apresentação de propostas
para proibir os falsos recibos verdes, proibir os estágios não remunerados, acabar
com o trabalho voluntário por empresas públicas e privadas, obrigar à
vinculação imediata dos trabalhadores precários que satisfaçam necessidades
permanentes no Estado, tornar regra as 35 horas semanais, tanto para o setor
privado como para o público, acabar com os abusos das agências de recrutamento
de trabalho temporário, alterar o Código de Trabalho repondo o primado da
negociação coletiva e da democracia nas
empresas e levar à extinção dessa vergonha nacional que representam os
programas de Contratos de Emprego e Inserção (CEI e CEI+ e CEI Património),
implementados pelas IPSS, Câmara Municipais e outros organismos públicos.
A
título de exemplo e para não ir mais longe, no passado dia 15 de julho a Câmara
Municipal de Portimão bateu o record da precariedade - de uma assentada aprovou
a colocação, com a oposição do Bloco de Esquerda, de 72 pessoas CEI para trabalhar nos estabelecimentos
de ensino no próximo ano letivo e por um período de 11 meses, auferindo um
salário miserável ao fim do mês: 50 auxiliares de ação educativa, 18
cozinheiros, 3 animadores socioculturais e 1 Técnico Superior de Psicologia.
Os
Contratos de Emprego e Inserção criados pelo governo Sócrates em 2009 e
aplicados em força
pelo atual governo PSD/CDS, não passam de manobras governamentais para tentar
diminuir o desemprego de forma artificial – quase 100 mil a nível nacional - e
utilizar os trabalhadores praticamente como mão de obra escrava e sem quaisquer
direitos laborais. Além destes trabalhadores ocuparem necessidades de emprego
permanente, vão os mesmos para a rua percorrido menos de um ano e auferem ao
fim de um mês de trabalho uma miséria de 83,84€ mais o subsídio de refeição de
4,27€, para além do subsídio de desemprego (mas o subsídio é um direito e
descontaram para usufruir do mesmo).
As
Câmaras Municipais, a própria ANMP e outras entidades acabam por pactuar e tornam-se
coniventes com o governo ao recorrerem, sem protestar, a este tipo de recurso a
mão-de-obra quase escrava – torna-se um imperativo acabar com esta vergonha!
Ainda
no âmbito do combate ao desemprego e à exclusão social na região, torna-se
premente criar um Programa de Emergência
Social para acudir aos mais carenciados, envolvendo a todas as organizações e
movimentos sociais, e alargar a atribuição do Subsídio Social de Desemprego a
todas as pessoas sem trabalho – uma
questão de dignidade!
Defesa e melhoria dos serviços públicos
Uma
outra prioridade centra-se na defesa e
melhoria dos serviços públicos na região, com destaque para o Serviço
Nacional de Saúde e a Escola Pública, que têm estado “debaixo de fogo” por
parte deste governo e cujo objetivo tem sido o favorecimento de interesses
privados, degradando os serviços públicos e prejudicando as populações.
No domínio da saúde uma das prioridades passará pela demissão da Administração e extinguir
a má experiência que representou a criação do Centro Hospitalar do Algarve
– uma verdadeira aberração na região que conduziu à degradação dos serviços
públicos de saúde e ao encerramento de outros serviços e valências; também valorizar
o Hospital de Faro e o Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, com gestão
descentralizada e reforçando-os com novas valências e serviços, incluindo a
melhoria dos serviços das suas Maternidades; aumentar a oferta de cuidados de
saúde na região, através do início da construção do Hospital Central do Algarve, a
criação de Unidades Locais de Saúde (ULS), o aumento da oferta de
especialidades, colocação de mais médicos, enfermeiros e outros técnicos de
saúde para responder às necessidades dos utentes, e manutenção e reforço dos serviços do INEM na região.
No campo do ensino e da educação,
as prioridades na
próxima legislatura terão em conta a criação de uma rede de creches públicas
tutelada pelo Ministério da Educação garantindo atendimento de qualidade às
crianças na primeira infância; criação de quadros permanentes de pessoal auxiliar
e monitores de tempos livres; incluir e reforçar as Atividades de Complemento
Curricular (AEC’s) nos currículos escolares e prover à colocação de mais
professores nos quadros das escolas; acabar
com os mega-agrupamentos escolares que só têm conduzido à degradação da
escola pública e ao recrudescimento do trabalho burocrático; retorno à gestão democrática das escolas com
prevalência dos critérios de natureza pedagógica e científica sobre critérios
de natureza administrativa, e uma gestão orientada por princípios de
democraticidade e de participação de todos implicados no processo educativo; combater toda e qualquer tentativa de
municipalização do ensino, o que a acontecer, conduz ao descomprometimento
do Estado quanto ao financiamento e de responsabilidade social pela educação
pública, reforça o controlo sobre as escolas, comprometendo ainda mais a
construção da sua autonomia, e desenvolve sistemas arbitrários e pouco
transparentes de seleção de pessoal docente e não docente; valorizar o ensino
especial, dotando-o de mais meios e recursos humanos, materiais e financeiros; reforçar
a importância da Universidade do Algarve.
A
nível de outros serviços públicos as
propostas irão no sentido de proceder à abertura de um matadouro público na região do Algarve, e a luta será intransigente contra a privatização da água e das
empresas municipais de distribuição de água, de resíduos e saneamento.
A aposta na Regionalização
Uma
outra prioridade que os deputados bloquistas pelo Algarve irão colocar no
Parlamento prende-se com a Regionalização, com ou sem simultaneidade a nível
nacional. Não há descentralização administrativa a sério sem regionalização. A
criação da Região Administrativa do Algarve potenciará o combate às assimetrias
e às desigualdades entre o litoral e o interior, permitindo atenuar as crises
que se abatem sobre a região. Também funcionará como um fator de valorização da
identidade da região, abrindo portas a um modelo de desenvolvimento sustentável,
mais participado e mais democrático.
O
modelo de regionalização só pode realizar-se se resultar da decisão popular, e
se for apoiado em estruturas democráticas e representativas, eleitas pelos
algarvios, sendo esta condição necessária para um desenvolvimento sustentável,
estruturante e garante de uma descentralização efetiva, não mascarada por
qualquer municipalização ou intermunicipalização avulsa.
Democratizar o acesso à cultura
A
crise e a austeridade castigaram fortemente a cultura e o Orçamento de Estado
apenas lhe reservou para este ano o simbólico valor de 0,1% do PIB. A cultura
com este governo ficou reduzida a uma mera Secretaria de Estado, sem peso para
definir adequadas políticas culturais num universo em que 80% da população não
participa em qualquer atividade cultural e onde a televisão é o único meio de
fruição cultural para metade dos portugueses. As próprias autarquias,
endividadas, cortam nos orçamentos municipais para as iniciativas culturais,
orientando a sua atividade para os grandes eventos.
No
Algarve, verifica-se uma forte viragem do setor da cultura para o turismo de
massas, excluindo as populações e abandonando formas e conteúdos emergentes de
forte cariz regional. A falta de estratégia para a rede de equipamentos
culturais existentes na região, que sofre de uma sangria de meios técnicos e
recursos humanos, acentua a precarização dos profissionais do setor,
condicionando a sua autonomia e a diversidade da criação artística. Torna-se
necessário uma visão estratégica e integradora, orientada para a captação de
recursos financeiros, técnicos e humanos que apoiem a criação de cultura e
promovam manifestações artísticas de qualidade.
Nesta
área a prioridade será norteada para a criação do estatuto do artista, com vista a uma maior proteção social e por
condições dignas e trabalho para os técnicos do setor – uma cultura com direitos.
Torna-se
necessário proceder a um levantamento de todas as infraestruturas culturais e
das suas valências na região do Algarve, colocando-as ao serviço das
populações, dinamizar os espaços alternativos, potenciar o trabalho dos
equipamentos em rede permitindo a redução de custos e a rentabilização de
recursos.
Deve
haver um reforço do investimento nas Artes da região com vista à
sustentabilidade equilibrada das políticas culturais, valorizar a história e a
identidade algarvias, o património do Algarve deve ser protegido e valorizado e
alvo de uma maior dotação orçamental, devendo ser defendido dos interesses
privados e continuar a ser fruído por todos. A Dieta Mediterrânea, qualificada
pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, deve ser potenciada,
funcionando como motor para o conhecimento etnográfico regional, funcionando
também como uma alavanca económica.
Deve
haver uma aposta no turismo cultural, de qualidade. A Direção Regional da
Cultura deve estar ao serviço de todos os agentes culturais e a Secretaria de
Estado deve ceder o lugar a um Ministério da Cultura – estas serão as
prioridades bloquistas a nível cultural.
O combate à corrupção e a
criminalização dos salários em atraso
A
luta pela transparência absoluta e o combate sem tréguas à corrupção também
serão prioritários para o Bloco de Esquerda. A corrupção tornou-se endémica e
atinge altas individualidades e organismos não só ligados à vida privada, mas
também corrói a administração pública, envolvendo inclusive, “peixe grosso” no
aparelho de Estado ao mais alto nível. Casos como o BPN, BPP, BANIF, BES, Monte
Branco, Operação Furacão, Face Oculta, Universidade Moderna, caso dos
Submarinos, Operação Marquês, o mundo tenebroso das PPP’s e tantos outros,
muitos ainda a contas com a justiça, têm sido uma triste e escandalosa
realidade do nosso quotidiano. Enquanto alguns têm vivido à custa do saque de
muitos milhões, centenas e até milhares
de milhões, o país fica mais pobre e os seus cidadãos atravessam uma infinidade
de dificuldades e muitos mesmo passam fome.
Não
é admissível que aqueles que têm a responsabilidade de gerir a coisa pública
pratiquem uma gestão ruinosa, ou se envolvam em casos de corrupção, gerando
dívidas monstruosas e que as populações terão de pagar. Face a enormes
endividamentos, não é admissível que Câmaras Municipais tenham de recorrer a
empréstimos ao Estado com condições draconianas, como por exemplo terem de
aplicar todos os impostos e tarifas municipais à taxa máxima durante vários
anos e quem paga estes empréstimos e estas taxas são os munícipes. E são
inventadas novas taxas como as chamadas taxas municipais de proteção civil que
não passam de impostos encapotados. São os munícipes que têm de pagar por tudo
isto, mas que não são responsáveis pelas políticas de má gestão praticadas. Só
a título de exemplo, a Câmara de Portimão vai recorrer ao Fundo de Apoio
Municipal com um empréstimo de 142 milhões de euros a pagar em 25 anos! Deste
total, 126 milhões destinam-se a pagar dívidas aos bancos, onde se incluem mais
de 10 milhões de juros de mora! Um autêntico negócio da China! Parece que em
Portimão já não haverá mais taxa de proteção civil. Então sempre vale a pena
lutar e o Bloco orgulha-se de ter estado, com muitos outros, na primeira linha
de combate pela abolição da taxa.
Por
isso é tão premente eleger deputados do Bloco de Esquerda pelo Algarve! Para
ajudar a acabar com este tipo de leis e impostos municipais que só oneram e
desgraçam a vida das populações, já tão causticadas pela crise e pelos impostos
de índole nacional! Para ajudar a criar nova legislação que obrigue os
prevaricadores, desde que culpados, a pagar com os seus bens e património os
prejuízos que causaram ao bem público e às populações!
Uma
outra prioridade passa por criminalizar os salários em atraso, pois não podemos
aceitar como normal o não pagamento dos salários em atraso quando é uma
situação anormal, ilegal e imoral. Quem trabalha tem de receber. O não
pagamento de salários a quem trabalha significa um atentado à dignidade humana
e aos direitos mais elementares dos trabalhadores.
Mobilidade
Uma
mobilidade facilitada é um fator de combate às assimetrias e ao atraso na
região. As prioridades nesta vertente vão para a luta, sem tréguas, pela
abolição urgente das portagens na Via do Infante e apoiando todas as ações da
Comissão de Utentes, ou de outras movimentos sociais anti-portagens; promover a
requalificação imediata e total da EN 125 e a construção de todas as suas
variantes retiradas do contrato com a concessionária pela Estradas de Portugal;
eletrificar e modernizar toda a linha férrea do Algarve; criar um Serviço
Regional Rápido Lagos-Portimão-Faro-Olhão-Tavira-Vila Real de Stº António,
assim como um Serviço Urbano Aeroporto-Faro- Olhão- Tavira; criar uma
Autoridade Regional de Transportes no Algarve.
Para
terminar, ainda as portagens na Via do Infante: PS, PSD e CDS são os
responsáveis pela imposição dessa calamidade que são as portagens no Algarve. O
PS criou a lei das portagens, o governo PSD/CDS apoiou e aplicou a lei. Não
obstante as consequências desastrosas que as portagens representam para o
Algarve e para o país, o governo PSD/CDS e o PS continuam a não reconhecer a
negra realidade dessas consequências: destruição da economia regional com mais
desemprego e falências de empresas, perda de competitividade em relação à
vizinha Andaluzia, grave retrocesso em termos de mobilidade na região, uma EN
125 ainda por requalificar e que não passa de uma perigosa rua urbana, de novo
transformada na “estrada da morte” de má memória. Devido às portagens temos um
verdadeiro “estado de guerra” não declarado no Algarve, com uma média de 23
acidentes e viação por dia, uma média de 30 vítimas mortais, de 150 feridos
graves e centenas de outros feridos por ano. Em 3 anos e meio de portagens já
são mais de uma centena de vítimas mortais, grande parte delas na EN 125. Este
governo e disso não se pode furtar – tem as mãos sujas de sangue e tem de ser
responsabilizado perante tantas famílias destroçadas!
Perante
tanta calamidade e para tentar obscurecer a luta que o Algarve tem travado
contra as portagens, em grande parte empreendida pela Comissão de Utentes da
Via do Infante, vêm agora Passos Coelho e o PSD propor a redução das portagens;
António Costa e o PS exigem igualmente uma redução do tarifário. Afinal
continuam a coincidir nas suas propostas, bem tímidas e que não passam de mera
propaganda eleitoral. A redução dos tarifários das portagens de nada ou pouco
serve e, além disso, a concessionária pode exigir um pedido de reequilíbrio
financeiro. Só no ano passado os pedidos de reequilíbrio financeiro por parte
das PPP rodoviárias atingiram o montante de 3 mil e 700 milhões, enquanto os
encargos líquidos chegaram a 1544 milhões de euros. O que interessa
verdadeiramente é a abolição pura e simples das portagens e a total e imediata
requalificação da EN 125.
Mais
grave ainda é quando não se propõem beliscar o contrato com a concessionária,
uma PPP deveras bem ruinosa e que, mesmo com a cobrança de portagens, acarreta
um prejuízo para os contribuintes de cerca de 40 milhões de euros anuais! É
obra! E verdadeiramente surreal é quando os anexos contêm cláusulas
confidenciais – o quadro deverá ser bem negro. Sabendo-se da gravidade de toda
esta situação, grandes e poderosos interesses devem estar em causa. É por isso
que é tão importante continuar a eleger deputados bloquistas pelo Algarve, para
ajudar a rebentar com estes contratos e dar mais força à luta pela abolição das
portagens!
O
Bloco de Esquerda orgulha-se de, juntamente com muitos outros, ter estado na
primeira linha de combate para acabar com as portagens. Ainda não foi possível,
mas iremos lá, concerteza com muito mais luta. Agora todos vêm falar que estão
contra as portagens no Algarve, que fizeram isto e que fizeram aquilo, que
ainda não foi possível acabar com elas, etc. Mas de uma coisa podem estar descansados:
digam o que disserem, deem todas as voltas que quizerem, mas nunca conseguirão
apresentar mais iniciativas, dentro e fora do Parlamento, na luta contra as
portagens do que o Bloco de Esquerda! Nestas lutas o Bloco encontra-se à frente
e numa posição bem destacada. Saúdo alguns desses lutadores que fazem parte
desta candidatura e que se encontram nesta sala e que, sem recursos, têm feito
o impossível. E o possível é a continuação da luta com todos aqueles que
quiserem e acabar de vez com as portagens.
Os
deputados a eleger pelo Bloco na região, além dos assuntos de cariz nacional,
vão levar as lutas do Algarve ao Parlamento. Serão a voz daqueles que os
elegeram e apresentarão propostas para a resolução dos seus anseios e
reivindicações. Pescadores, mariscadores, agricultores, professores, habitantes
das ilhas barreira da Ria Formosa, utentes da Via do Infante, trabalhadores do
comércio e hotelaria, desempregados, precários, jovens, mulheres, trabalhadores
da saúde e educação e muitos outros, poderão sempre contar com os deputados do
Bloco a eleger pelo Algarve, assim como com os deputados bloquistas a nível
nacional.
A
luta é difícil mas cá estamos para mais um combate. E quem disse que há lutas
fáceis? As lutas são sempre difíceis, dependendo do grau de intensidade de cada
uma delas. São vários os concorrentes mas nunca voltamos a cara à luta. Como um
país não se vende, vamos lutar para recuperar o que é nosso! Há que ter
esperança e não desistir. Sabemos que a razão nos assiste e o segredo da
vitória reside no ânimo, na coragem, na determinação e na luta! E nós lutamos
todos os dias, somos os “imprescindíveis” de Bertolt Brecht: “há os que lutam
um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam
muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são os
imprescindíveis”. É assim o Bloco de Esquerda.
Muito obrigado a todos... e a luta é já a
seguir.
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