domingo, 12 de julho de 2015

A VONTADE DE CHUTAR A GRÉCIA PARA FORA DO EURO



Está a tornar-se demasiado evidente que está em curso uma tentativa de aniquilação de um governo democraticamente eleito num dos países da zona euro. A vontade de se resolver a crise da moeda única (impropriamente chamada crise grega) é pouca, a menos que isso signifique a expulsão da Grécia da zona euro. De qualquer maneira, é notório que as posições de grande dureza reveladas pela “sede do império” (leia-se Alemanha) começam a sofrer contestação de dentro do campo conservador, tal é o seu radicalismo! Mesmo em Portugal essas críticas estão a aparecer da parte de personalidades de quem seria impensável ainda há pouco tempo atrás.
Deixamos aqui dois excertos de textos assinados respectivamente por João Miguel Tavares e pelo General Loureiro dos Santos como prova da nossa afirmação.
Já são demasiados artigos revanchistas, demasiadas declarações emproadas do Governo, demasiadas bocas do Presidente da República, demasiados se-não-formos -19-ficamos-18 para o meu gosto.
A maior parte da direita está com sérias dificuldades em esconder o seu desejo de chutar a Grécia para fora do euro, e esse é um sentimento que compreendo mal.
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Sobretudo, esta mania de apontar a porta da saída à Grécia é triplamente chocante.
Chocante, porque ninguém pode avaliar a dimensão do abalo do Grexit numa união monetária que era suposto ser indissolúvel. Chocante, porque a direita não pode transmitir às pessoas uma ideia de Europa resumida à eficácia da moeda única ou de um conjunto de opções de natureza estritamente económica; a União Europeia é muito mais do que isso – é um projecto político, um sonho de progresso, um ideal de livre circulação e de aproximação entre povos. Chocante, porque virar as costas à Grécia é uma demonstração de insensibilidade por parte da direita, que deve meter isto na cabeça: pode-se amar a liberdade individual e reconhecer, em simultâneo, que o aumento das desigualdades é um gigantesco problema contemporâneo. A Grécia não tem toda a razão – mas alguma razão, ela tem.  
João Miguel Tavares, Portugal Glorioso (blog)
O que pretendo é chamar a atenção para o clamor da população grega contra Berlim, que é acusada de prosperar à custa da crescente miséria dos países do Sul, evidenciando um antigermanismo acentuado.
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Só a existência de um mecanismo de transferências compensatórias dos países mais ricos, beneficiados com o euro, para os mais pobres, por ele prejudicados, poderia atenuar aquilo que estes sentem como injustiças, gerando um mal-estar difícil de atenuar.
Esta “malaise” leva os povos a considerar como culpados aqueles que mais vantagens retiram dos dispositivos existentes, ou seja, os alemães. Como resultado do poder que lhe atribuem.
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É como se estivéssemos perante um descontentamento que, de facto, significa uma revolta latente que não se consegue pôr em acção.
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Mas basta observar Schäuble, ministro das finanças alemão, cuja insuportável arrogância se manifesta quando, aparentemente em tom de brincadeira, vai revelando o que pensa realmente sobre o poder imperial de Berlim sobre os restantes países europeus particularmente os periféricos. Ao afirmar que talvez valesse a pena falar com o secretário de tesouro norte-americano, a fim de apresentar a proposta de trocar a Grécia por Porto Rico.
É contra manifestações de imperialismo deste tipo que se insurgem os cidadãos de uma Europa que, infelizmente, se deixou capturar pelas malhas do euro, ficando sem opções próprias. Parecendo, agora, restar-lhe apenas um único caminho - a obediência cega aos ditames alemães como “bons alunos”. Em vez de vários países em idênticas circunstâncias e com os semelhantes problemas conjugarem as suas posições e procurarem caminhos comuns para conseguirem massa crítica suficiente e assim poderem influenciar quem tem a última palavra em termos de decisão – a chanceler alemã. 
(…)
Talvez seja a altura de tanto Berlim como as restantes capitais europeias reflectirem sobre a origem desta tensão entre os povos do Sul e do Norte, e de tentar pôr-lhe termo, para bem de todos nós – europeus do Norte e do Sul, de Leste de Oeste.
General Loureiro dos Santos, Público

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