terça-feira, 29 de maio de 2018

DESPENALIZAÇÃO DA EUTANÁSIA: A LUTA VAI CONTINUAR



Tal com se previa, houve uma votação muito renhida relativamente a todos os projectos de lei que preconizavam a despenalização da eutanásia. Conhecendo-se as posições de todas as forças políticas representadas no Parlamento e as contradições em que se enredavam muitos deputados, seria sempre de esperar que o resultado final pendesse para o “sim” ou para o “não” por escassa margem e foi o que veio a acontecer.
Os projectos de todos os partidos tinham pequenas diferenças, como se sabia, e, portanto, os resultados das votações foram muito parecidos, reflectindo exactamente essa dissemelhança. O mais provável era serem todos aprovados ou todos chumbados. E foi o que veio a acontecer, tendo a vitória pendido, para o lado das forças mais retrógradas da nossa sociedade.
Muitas análises ainda vão ser feitas sobre os resultados das votações hoje efectuadas no Parlamento mas, ainda a quente, duas conclusões há que retirar: 1) a lamentável posição do PCP ao colocar-se contra uma clara proposta de progresso civilizacional e ao lado das forças mais retrógradas deste país; 2) os resultados mostram que é uma questão de tempo a vitória dos que defendem mais um avanço da civilização com a despenalização da eutanásia e que, portanto, a luta vai ter de continuar.
Tem assim todo o cabimento que se transcreva aqui um pequeno texto assinado por José Manuel Pureza na edição impressa do “Correio da Manhã” de hoje:
O que está em causa nas votações é decidir se um médico que ajude alguém a antecipar a sua morte por se encontrar com uma doença incurável que lhe provoca um sofrimento insuportável deve ser preso.
Temos o direito de obrigar uma pessoa a morrer numa agonia que a humilha aos próprios olhos? Em nome de quê? De uma vida em abstrato que, em concreto, não é outra coisa senão um suplício? Temos o direito de impor aos pobres que tenham uma morte humilhante aos seus olhos e fechamos os olhos a que só os ricos possam ir à Suíça ou à Holanda para cumprir a sua vontade?
Os adeptos de que tudo continue como está dizem que há risco de se eutanizarem crianças ou doentes mentais. No entanto, todos os projetos consideram essas hipóteses como crime.
Nenhum fim de vida é indigno se for uma escolha livre. Quem escolhe terminar os dias em sofrimento por crer que isso purifica a alma tem de ser absolutamente respeitado. Quem opta por cuidados paliativos, sabendo que isso envolverá o adormecimento e a perda de capacidade de relacionamento com o mundo, tem de ser absolutamente respeitado. Então por que razão não há de ser plenamente respeitado quem decida não enveredar por nenhum desses caminhos por não estar disponível para passar as fronteiras da dignidade que impôs a si mesmo? É isto que está em jogo.  

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