Tal
com se previa, houve uma votação muito renhida relativamente a todos os
projectos de lei que preconizavam a despenalização da eutanásia. Conhecendo-se
as posições de todas as forças políticas representadas no Parlamento e as contradições
em que se enredavam muitos deputados, seria sempre de esperar que o resultado
final pendesse para o “sim” ou para o “não” por escassa margem e foi o que veio
a acontecer.
Os
projectos de todos os partidos tinham pequenas diferenças, como se sabia, e,
portanto, os resultados das votações foram muito parecidos, reflectindo exactamente
essa dissemelhança. O mais provável era serem todos aprovados ou todos
chumbados. E foi o que veio a acontecer, tendo a vitória pendido, para o lado das
forças mais retrógradas da nossa sociedade.
Muitas
análises ainda vão ser feitas sobre os resultados das votações hoje efectuadas
no Parlamento mas, ainda a quente, duas conclusões há que retirar: 1) a lamentável
posição do PCP ao colocar-se contra uma clara proposta de progresso
civilizacional e ao lado das forças mais retrógradas deste país; 2) os
resultados mostram que é uma questão de tempo a vitória dos que defendem mais
um avanço da civilização com a despenalização da eutanásia e que, portanto, a
luta vai ter de continuar.
Tem
assim todo o cabimento que se transcreva aqui um pequeno texto assinado por
José Manuel Pureza na edição impressa do “Correio da Manhã” de hoje:
O
que está em causa nas votações é decidir se um médico que ajude alguém a
antecipar a sua morte por se encontrar com uma doença incurável que lhe provoca
um sofrimento insuportável deve ser preso.
Temos
o direito de obrigar uma pessoa a morrer numa agonia que a humilha aos próprios
olhos? Em nome de quê? De uma vida em abstrato que, em concreto, não é outra
coisa senão um suplício? Temos o direito de impor aos pobres que tenham uma
morte humilhante aos seus olhos e fechamos os olhos a que só os ricos possam ir
à Suíça ou à Holanda para cumprir a sua vontade?
Os
adeptos de que tudo continue como está dizem que há risco de se eutanizarem
crianças ou doentes mentais. No entanto, todos os projetos consideram essas hipóteses
como crime.
Nenhum fim de vida é indigno se for uma
escolha livre. Quem escolhe terminar os dias em sofrimento por crer que isso
purifica a alma tem de ser absolutamente respeitado. Quem opta por cuidados
paliativos, sabendo que isso envolverá o adormecimento e a perda de capacidade
de relacionamento com o mundo, tem de ser absolutamente respeitado. Então por
que razão não há de ser plenamente respeitado quem decida não enveredar por
nenhum desses caminhos por não estar disponível para passar as fronteiras da
dignidade que impôs a si mesmo? É isto que está em jogo.
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