Ouvem-se
com frequência clamores de protesto de muitos portugueses sobre os altos
impostos que pagam e com toda a razão. As culpas são normalmente atribuídas ao
Estado mas passam ao lado da perspectiva mais correcta. Vivemos submetidos a um
sistema fiscal injusto porque é permitido a alguns pagarem pouco enquanto a
maioria paga muitíssimo. Se todos pagassem o que é justo, os que são tributados
em excesso passariam a pagar menos.
A existência de paraísos fiscais tem uma responsabilidade
fundamental na ocultação dos lucros das grandes empresas, como referem os
eurodeputados 50 a 70 mil milhões
de euros por ano” combater a evasão fiscal
dos poucos beneficiará os muitos e irá proteger e fortalecer a base da nossa
educação, saúde e segurança social”.
Um sistema
fiscal sólido e justo é uma das bases do Estado Social. Se queremos professores
nas escolas, médicos nos hospitais e assistência social durante a reforma,
precisamos de um sistema tributário que funcione.
É por isso que é tão grave que as
multinacionais continuem a ser autorizadas a ocultar lucros em paraísos fiscais
e a jogar com os Estados, que competem uns com os outros, para obter acordos
fiscais lucrativos. A optimização fiscal agressiva é uma prática gananciosa sem
escrúpulos e prejudica seriamente os nossos sistemas tributários.
Nesta perspectiva,
nós enquanto principais forças progressistas da Dinamarca, Espanha, França,
Suécia e Portugal, apelamos a verdadeiras soluções para as grandes questões
transfronteiriças do nosso tempo e decidimos começar por abordar a questão dos
paraísos fiscais.
Na sequência dos casos LuxLeaks, Panama e Paradise Papers, todos concordaram que era
imprescindível lutar contra os paraísos fiscais. Agora é o tempo de agir – de
uma vez por todas! Porque as promessas firmes para acabar com os paraísos
fiscais converteram-se em palavras vazias.
A lista negra de paraísos fiscais da
UE é um claro exemplo disso mesmo. A começar pela definição de paraísos
fiscais, a lista negra da UE eliminou o seu próprio objectivo antes mesmo de
começar, ao indicar claramente que uma taxa de imposto de 0% sobre as
sociedades não constitui em si mesmo uma violação do critério de tributação
justa. Ora, se uma taxa de imposto de 0% sobre as sociedades não é injusta,
então o que é?
Como já é hábito na UE, as negociações
das listas negras dos paraísos fiscais foram feitas à porta fechada, longe da
opinião pública. Várias fugas de documentos mostraram, no entanto, que alguns
Estados-membros bloquearam activamente a criação de uma lista negra abrangente,
e que os incluía. É uma farsa criar uma lista negra e deixar de fora paraísos
fiscais óbvios como Malta, Luxemburgo, Irlanda ou a Holanda. Estes paraísos
fiscais da UE custam aos restantes Estados-membros milhares de milhões de euros
em receitas fiscais, que se perdem todos os anos.
Para piorar as coisas, as promissoras
reformas dos paraísos fiscais foram removidas da lista negra e transferidas
para a chamada lista cinza, evitando assim quaisquer sanções. A lista já
incompleta está agora reduzida a dez paraísos fiscais.
Estes Estados-membros, classificados
como paraísos fiscais cinza, aprovaram, deliberadamente, legislação que permite
que as multinacionais, os chefes de Estado corruptos e os super-ricos escondam
a sua riqueza. Ao contrário de todas as evidências, a UE optou por confiar
nestes paraísos fiscais que simultaneamente afirmam estar a fazer tudo o que
está ao seu alcance para criar uma política mais justa.
Estamos muito preocupados. E o facto
de a pessoa responsável pela luta contra os paraísos fiscais e evasão fiscal
ser, nada mais, nada menos, que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude
Juncker, ex-primeiro-ministro do Luxemburgo, em nada diminui a nossa
preocupação. Juncker não foi apenas chefe de Estado de um paraíso fiscal da UE,
como usou a sua posição para negociar pessoalmente acordos fiscais ilegais com
multinacionais.
A construção da União Europeia
favoreceu a livre circulação de capitais, permitindo ao mesmo tempo políticas
de dumping social, através das
quais os Estados-membros reduzem impostos para atrair capital. Além disso,
permite-se ainda a existência de paraísos fiscais, como o Luxemburgo, dentro do
espaço europeu. Este não é apenas um problema de tributação de impostos na
Europa, mas em todo o mundo, uma vez que o Luxemburgo funciona como um centro
para fluxos opacos de capitais globais.
A evasão fiscal é uma questão
crescente em todo o mundo. As estimativas colocam a receita fiscal perdida em
cerca de 50 a 70 mil milhões de euros por ano, apenas na UE. Esta é uma enorme
ameaça ao Estado Social na Europa e deixa milhões de pessoas na pobreza nos
países em desenvolvimento.
Quando a UE se recusa a introduzir uma
legislação sólida, os países afectados devem agir por conta própria. Neste
sentido, nós, as forças progressistas da Europa, vamos propor iniciativas
coordenadas nos nossos parlamentos nacionais para criação de uma lista negra de
paraísos fiscais abrangente. De país para país, numa coligação de interessados,
introduziremos regulamentação mais rígida.
Queremos fortalecer os critérios de
tributação justa para que países com impostos muito baixos para as
multinacionais não escapem da lista negra.
Queremos remover a lista cinza, como
forma de criar pressão sobre os paraísos fiscais europeus, mesmo que estes nos
continuem a prometer a lua. Queremos uma lista negra que inclua todos os países
e jurisdições que não cumpram os critérios – incluindo Estados-membros da UE.
Finalmente, queremos aumentar a
pressão sobre os paraísos fiscais que fazem parte da lista negra. Queremos
proteger os lançadores de alerta e punir os bancos e conselheiros fiscais
ligados a paraísos fiscais. Exigimos a possibilidade de proibir a celebração de
qualquer contrato entre o Estado e empresas envolvidas em evasão fiscal ou
planeamento tributário agressivo. É absurdo que a tomada de decisão no sector
público não possa recusar contratos com empresas que activamente enfraquecem as
contas públicas.
Actualmente,
proibir essas empresas de celebrar contratos públicos é contrário à legislação
europeia. Deste modo, a UE está a impedir os Estados e os municípios de
protegerem os sistemas de bem-estar social contra empresas que fogem aos
impostos. É, pois, fundamental que se altere esta legislação. Por isso não
deixaremos de desafiar a legislação europeia existente, de desobedecer e de
tentar encontrar formas para impedir essas empresas de lesar os interesses dos
cidadãos.
Este
é o começo de uma longa luta. Medidas adicionais serão anunciadas nos próximos
meses – tanto no Parlamento Europeu como em muitos dos nossos parlamentos
nacionais. Combater a evasão fiscal dos poucos beneficiará os muitos e irá
proteger e fortalecer a base da nossa educação, saúde e segurança social.
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