O
ano que agora decorre é fértil em algumas comemorações, uma delas relativa ao “Maio
68”, uma revolta estudantil que se estendeu aos trabalhadores e que ocorreu em
várias partes do mundo, com destaque para os Estados Unidos da América, Japão e
França, país em que se tornou mais mediático.
Infelizmente,
a geração actual sabe muito menos do “Maio 68” do que devia saber e, por isso,
torna-se muito interessante ler o seguinte texto que transcrevemos do “Diário
de Coimbra” de hoje, onde o autor (*) refere o essencial dos acontecimentos
então ocorridos de modo a que o leitor fique devidamente informado.
As
últimas linhas do artigo precedente referiam o início da contestação estudantil
à guerra do Vietname, que se ia radicalizando – revolta na universidade de Berkeley
(1964) com a prisão de oitocentas pessoas envolvidas, o mesmo acontecendo com a
luta pelos direitos cívicos, tendo como pano de fundo a “Grande Marcha” e a
criação dos “Panteras Negras” (Black Panthers, Outubro, 1967).
Nada
melhor para introduzir o tema de hoje do que colocar a questão, a mesma que
muitos estudantes colocaram: afinal, o que é que estou aqui (na universidade) a
fazer? A resposta dos estudantes foi a denúncia de um ensino absurdo,
exprimindo a sensação clara de se sentirem uma mera engrenagem na máquina de
uma sociedade profundamente doente.
Foi
no Japão, que os acontecimentos atingiram uma violência extrema, com o
movimento estudantil (Zengakuren, trezentos mil membros) a unir-se ao principal
sindicato operário, ao ponto de que nem o então Presidente Eisenhower conseguiu
fazer a visita oficial programada, resultante do pacto de estabilidade
nipo-americano, de 1960.
Já
na outrora República Federal Alemã, um fugitivo do regime soviético existente
do outro lado da fronteira (RDA) de nome Rudi Dutschke, lidera o movimento que
exige a democratização , a cogestao das universidades e a garantia de acesso de
membros da classe operária, mas sem sucesso, acabando por ser alvejado por um
extremista de direita (abril, 1968), enquanto em Itália, os professores eram
considerados “Barões da Cátedra” e acusados de ignorar o serviço público, com manifestações
iniciadas em Turino e que se propagaram a outras universidades no ano de 68, surgindo,
pela primeira vez a sigla “3M”: Marx, Mao e Marcuse (Herbert, americano de
origem alemã e autor dos então célebres livros “O Homem Unidimencional /Eros e
Civilização).
Mas
o mais mediático “Maio 68” aconteceu em França, com o movimento “22 de Março”,
na Universidade de Nanterre, prolongando um conjunto de iniciativas em
Estrasburgo e Nantes, em que dezenas de estudantes foram presos, também pela
sua oposição à guerra do Vietname, razões evocadas pelo Reitor, de fechar todas
as instalações académicas. A decisão não previa o ressurgimento dos protestos,
agora na Sorbonne, com as lideranças do “alemão” Daniel Cohn-Bendit, da
corrente dos “enraivecidos” de René Riesel e de René Vienet, membro da Internacional Situacionista, então
considerada na vanguarda do pensamento revolucionário, o que conduziu a
manifestações do norte a sul do país, com os sindicatos a obterem um aumento de
37,5% no salário mínimoe de dez para a generalidade dos assalariados (Acordos
de Grenelle), o que conduziu a uma verdadeira fuga do presidente Charles de Gaulle
(1959/69) para a base militar francesa na Alemanha (Baden-Baden).
Vinte
e oito dias depois de ter abandonado o país, ei-lo de regresso, a assistir a
uma manifestação de apoio de um milhão de pessoas, em pleno coração de Paris
(Champs Élysées) e a reassumir as suas funções, que viria, mais tarde, a
abandonar pelo fracasso do seu referendo constitucional.
Entretanto,
muita coisa se passou nas áreas do trabalho/economia, naturalmente na gestão universitária,
na relevância dos direitos, nomeadamente da mulher, na procura de um dos
vértices do triângulo francês – a igualdade,
sem esquecer a importância da sexualidade no quotidiano – numa verdadeira explosão
cultural, seja na literatura, na filosofia/teoria do conhecimento ou nos mais diversificados
domínios das ciências sociais. Quando Jean-Paul Sartre se deslocou à Sorbonne
ocupada pelos estudantes e encontrou um jovem “revolucionário” (Dany)
Cohn-Bemdit – que em 2008, editou um livro com o título sugestivo “Esquece 68” –
questionou-o “então é a revolução?” A resposta foi um não. O filósofo insistiu
na pergunta, mas Dany foi claro: “apenas uma revolta, não é o assalto ao Palácio
de Inverno” (revolução bolchevique), deixando Sartre dececionado.
(*) João Marques,
Diplomado em Ciências da Comunicação
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