quinta-feira, 17 de maio de 2018

MAIO 68, O ESSENCIAL



O ano que agora decorre é fértil em algumas comemorações, uma delas relativa ao “Maio 68”, uma revolta estudantil que se estendeu aos trabalhadores e que ocorreu em várias partes do mundo, com destaque para os Estados Unidos da América, Japão e França, país em que se tornou mais mediático.
Infelizmente, a geração actual sabe muito menos do “Maio 68” do que devia saber e, por isso, torna-se muito interessante ler o seguinte texto que transcrevemos do “Diário de Coimbra” de hoje, onde o autor (*) refere o essencial dos acontecimentos então ocorridos de modo a que o leitor fique devidamente informado.  
As últimas linhas do artigo precedente referiam o início da contestação estudantil à guerra do Vietname, que se ia radicalizando – revolta na universidade de Berkeley (1964) com a prisão de oitocentas pessoas envolvidas, o mesmo acontecendo com a luta pelos direitos cívicos, tendo como pano de fundo a “Grande Marcha” e a criação dos “Panteras Negras” (Black Panthers, Outubro, 1967).
Nada melhor para introduzir o tema de hoje do que colocar a questão, a mesma que muitos estudantes colocaram: afinal, o que é que estou aqui (na universidade) a fazer? A resposta dos estudantes foi a denúncia de um ensino absurdo, exprimindo a sensação clara de se sentirem uma mera engrenagem na máquina de uma sociedade profundamente doente.
Foi no Japão, que os acontecimentos atingiram uma violência extrema, com o movimento estudantil (Zengakuren, trezentos mil membros) a unir-se ao principal sindicato operário, ao ponto de que nem o então Presidente Eisenhower conseguiu fazer a visita oficial programada, resultante do pacto de estabilidade nipo-americano, de 1960.
Já na outrora República Federal Alemã, um fugitivo do regime soviético existente do outro lado da fronteira (RDA) de nome Rudi Dutschke, lidera o movimento que exige a democratização , a cogestao das universidades e a garantia de acesso de membros da classe operária, mas sem sucesso, acabando por ser alvejado por um extremista de direita (abril, 1968), enquanto em Itália, os professores eram considerados “Barões da Cátedra” e acusados de ignorar o serviço público, com manifestações iniciadas em Turino e que se propagaram a outras universidades no ano de 68, surgindo, pela primeira vez a sigla “3M”: Marx, Mao e Marcuse (Herbert, americano de origem alemã e autor dos então célebres livros “O Homem Unidimencional /Eros e Civilização).
Mas o mais mediático “Maio 68” aconteceu em França, com o movimento “22 de Março”, na Universidade de Nanterre, prolongando um conjunto de iniciativas em Estrasburgo e Nantes, em que dezenas de estudantes foram presos, também pela sua oposição à guerra do Vietname, razões evocadas pelo Reitor, de fechar todas as instalações académicas. A decisão não previa o ressurgimento dos protestos, agora na Sorbonne, com as lideranças do “alemão” Daniel Cohn-Bendit, da corrente dos “enraivecidos” de René Riesel e de René Vienet,  membro da Internacional Situacionista, então considerada na vanguarda do pensamento revolucionário, o que conduziu a manifestações do norte a sul do país, com os sindicatos a obterem um aumento de 37,5% no salário mínimoe de dez para a generalidade dos assalariados (Acordos de Grenelle), o que conduziu a uma verdadeira fuga do presidente Charles de Gaulle (1959/69) para a base militar francesa na Alemanha (Baden-Baden).
Vinte e oito dias depois de ter abandonado o país, ei-lo de regresso, a assistir a uma manifestação de apoio de um milhão de pessoas, em pleno coração de Paris (Champs Élysées) e a reassumir as suas funções, que viria, mais tarde, a abandonar pelo fracasso do seu referendo constitucional.
Entretanto, muita coisa se passou nas áreas do trabalho/economia, naturalmente na gestão universitária, na relevância dos direitos, nomeadamente da mulher, na procura de um dos vértices  do triângulo francês – a igualdade, sem esquecer a importância da sexualidade no quotidiano – numa verdadeira explosão cultural, seja na literatura, na filosofia/teoria do conhecimento ou nos mais diversificados domínios das ciências sociais. Quando Jean-Paul Sartre se deslocou à Sorbonne ocupada pelos estudantes e encontrou um jovem “revolucionário” (Dany) Cohn-Bemdit – que em 2008, editou um livro com o título sugestivo “Esquece 68” – questionou-o “então é a revolução?” A resposta foi um não. O filósofo insistiu na pergunta, mas Dany foi claro: “apenas uma revolta, não é o assalto ao Palácio de Inverno” (revolução bolchevique), deixando Sartre dececionado.
(*) João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação

Sem comentários:

Enviar um comentário