O dia seguinte
Terminou, finalmente, a que foi, talvez, a maior maratona de eleições da história da democracia portuguesa. Nos últimos seis meses, o tema principal de toda a comunicação andou sempre à volta das eleições.
Notava-se, claramente, que o cidadão comum já estava farto de ver tratado o mesmo tema, todos os dias, nos telejornais, na comunicação social escrita e na rua. Na maioria dos casos, as opções já estavam tomadas há muito tempo e, pouca coisa havia a alterar.
Veio, mais uma vez, provar-se que as três eleições que se realizaram desde Junho não tiveram nada a ver, umas com as outras. Que o diga o Bloco de Esquerda cujos excelentes resultados nas duas primeiras eleições não tiveram qualquer continuidade nas autárquicas. A evolução verificada não satisfaz as expectativas dos muitos simpatizantes e aderentes desta força política.
Alguns adversários/inimigos do Bloco apressaram-se, de imediato, a proclamar o seu funeral político. Expressões como “foram os grandes derrotados”; “o que está na moda, depressa sai da moda” ou “deliciosa derrota” fazem parte do foguetório que tem vindo a ser atirado por essas personagens.
De qualquer maneira, o resultado das eleições autárquicas de 11 de Outubro deve conduzir-nos a uma reflexão ponderada para compreendermos o que, de facto, aconteceu e não fazermos a vontade aos nossos adversários, embarcando num derrotismo sem sentido. Não há qualquer razão para passarmos do oitenta para o oito. Sem qualquer ordem de prioridade, consideremos, assim, os seguintes pontos:
- O Bloco de Esquerda é uma força jovem, com excelentes quadros a nível central mas, ainda, algo imatura perante o eleitorado, a nível local. Foi uma luta muito desigual perante forças partidárias muito implantadas no terreno. Há uma tendência para se votar em quem já se conhece, mesmo que com algumas reservas.
- Verificou-se uma polarização do “voto útil”, numa tendência para o mal menor.
- Há uma visão presidencialista das autarquias. Tende a votar-se na figura do presidente em exercício.
- Muita da obra feita nos últimos anos pelos candidatos bloquistas quase não chega ao conhecimento dos eleitores, em muitos casos, por via do controlo da informação. O que se passou em Portimão é um bom exemplo. O PS local portou-se como que dono e senhor dos ecrãs gigantes, instalados em todo o concelho, para além do que se passa com a comunicação social escrita…
- Não podemos esquecer que teve lugar uma significativa expansão territorial das candidaturas do Bloco de Esquerda e um aumento do número de candidatos e candidatas nestas autárquicas. Contudo, ainda há muito para fazer neste aspecto. Estamos, por assim dizer, só a começar.
- Houve um crescimento do número de votos no BE acompanhado de um aumento, ainda que, ligeiro do número de novos autarcas eleitos, relativamente a 2005.
Desde que nasceu, o Bloco tem vindo sempre a progredir eleitoralmente. Os seus aderentes e simpatizantes habituaram-se a um permanente sucesso mas não nos devemos esquecer que, na política como na vida, nem sempre tudo corre conforme os nossos desejos. Não há que desanimar e continuar a ir à luta porque, quem vai à luta, tanto pode ganhar como perder mas quem não vai, perde sempre. Quando rejubilam com um fracasso do BE e quando lhe desferem ferozes ataques, são os seus próprios adversários que reconhecem a sua força.
Luís Moleiro Santos, aderente do BE
Nota: opinião exclusiva do autor. A análise dos resultados será transmitida brevemente.
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