domingo, 16 de maio de 2010

Ao que Sócrates reduziu o País, segundo Vasco Pulido Valente

Viva Portugal!

- por Vasco Pulido Valente


Não vale a pena falar sobre o caderno de encargos que Sarkozy e Merkel impuseram a Portugal. Nem da caricata submissão e das contradições do primeiro-ministro. Para efeitos práticos, José Sócrates não existe. Como logo viu O Inimigo Público, ainda não lhe disseram que já deixou de governar. Está em S. Bento como estaria uma planta, à espera do momento próprio de ser removido. É uma espécie de delegado regional da "Europa" ou, se preferirem, um moço de recados, com um emprego temporário e, ainda por cima, vexatório. No meio dos triunfos do Benfica e da visita do Papa e, à parte uma frase melancólica ou um adjectivo de passagem, ninguém reparou que o país sofreu a maior humilhação nacional deste último século. O que mostra aonde chegou o país, mas também o que sempre foi a "Europa".

Poderia ser de outra maneira? Não parece. Como contar com a mais vaga "solidariedade" ou sequer delicadeza do sr. Sarkozy ou da sra. Merkel, que não nos conhecem ou têm qualquer motivo para gostar de nós? Para quem nos paga (e de certa maneira somos todos pagos) não passamos de um povo inferior e semibárbaro, que gasta prodigamente o dinheiro que não ganhou e que depois vem de mão estendida pedir esmola. Os ricos não respeitam mendigos; de maneira geral, correm com eles. Sobretudo, correm com os mendigos que não percebem, ou fingem que não percebem, o seu lugar no mundo e tentam aldrabar o próximo e viver a crédito. Para a Alemanha e para a França, os portugueses, como os gregos, merecem uma boa lição e muita cautela, não os leve a natureza, como de costume, para maus caminhos.

Custa engolir isto ao fim de vinte anos de retratos de família e da imunda cegarrega da "união". Só que nunca houve "união". As grandes potências da Europa - a Alemanha, a Inglaterra e a França - não desapareceram e continuaram a desprezar por convicção e hábito os semicafres do Mediterrâneo e do Leste, que se dignam proteger e, de quando em quando, explorar. As tribos do Báltico, ao menos, sendo louras, permitem um certo sentimento de afinidade. O resto, não: essa tropa fandanga miserável, eternamente envolvida em querelas de má morte, preguiçosa e suja não faz parte da Europa por mais do que um desgraçado acidente geográfico. Por isso, o Sarkozy e a sra. Merkel não hesitaram em chamar o irresponsável sr. Sócrates, pregar uma descompostura ao referido Sócrates e mandar o homem para casa com o rabo entre as pernas. E, para cúmulo, com razão. Viva Portugal!

Vasco Pulido Valente
publicado em 15.Maio.2010, no jornal PÚBLICO

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