Expresso, 15 de Maio de 2010
A estratégia foi a mesma: uma maratona negocial para ter tudo pronto naquele dia e noite, acontecesse o que acontecesse. Depois anuncia-se o acordo com os adversários do dia anterior, co-responsabilizando-os pelas medidas tomadas pela governação.
A ameaça é a mesma: ou isto ou o caos e a catástrofe, não há margem de manobra. Ou se chega a acordo ou eles vêm aí. Ou aceitam isto ou não há mais negociações, não há mais hipóteses, saem por aquela porta, não há regresso à mesa das negociações.
Porque se diz que não há alternativa.
Não sei se é inteligente, mas tem sido hábil e eficaz.
E na imprensa ainda surge como se fosse o primeiro a salvar alguma coisa. Como outrora a ministra.
O acordo prende os acordantes, em especial os que estavam de fora e deixa-os na situação de se mostrarem cúmplices, ingénuos ou ineptos.
No caso do PSD, a ressaca veio no dia seguinte com o inusitado pedido de desculpas ao país por parte de Pedro Passos Coelho que tarde percebeu que, perante este acordo, nada terá de substancial a apresentar em próximas eleições que o distinga de Sócrates.
Há outros que ainda hoje não parecem ter-se curado da ressaca e a maratona nem terá sido tão longa e insistem que não havia outra solução. Ainda hoje no Público se dá a conhecer que parte dos termos do que foi acordado com a maior parte dos sindicatos de professores tem muito poucas hipóteses de vir a ser cumprido, nomeadamente no que ao eventual concurso para 2011 e aos contratados diz respeito. Afinal, o que está legislado é novo concurso para 2013… Como no caso da avaliação para efeitos de graduação profissional…
Uma coisa há que admitir com frontalidade e, já agora, com humildade: o PS que está no Governo sabe reinventar-se nas suas estratégias enquanto os seus adversários parecem confiar excessivamente na sua condição de moribundo ambulante e que o poder lhes há-de cair nas mãos de maduro.
O que está em causa já não é a boa governação do país, é a manutenção de uma facção no poder com capacidade de desisão sobre as fatias orçamentais.
O grupo mais aguerrido no combate a este Governo foi neutralizado de 7 para 8 de Janeiro e nos 3 meses seguintes através de uma progressiva anestesia.
Agora foi neutralizado o maior partido da Oposição.
Há que dar a mão à palmatória e reconhecer mérito a Sócrates ou a quem por ele desenha estas negociações. Estão muito à frente em matéria de argúcia do que aqueles que não sabem libertar-se do passado ou que ainda não perceberam como lidar com o futuro.
Posted by Paulo Guinote
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