A greve dos funcionários que fazem a
recolha do lixo em Lisboa, pela realidade que comporta, deveria ter maior atenção
por parte das organizações mais representativas dos trabalhadores.
Estamos perante uma actividade
fundamental para a saúde pública que deveria ser muitíssimo bem remunerada, com
regalias e direitos compatíveis. É exactamente o contrário do que acontece e,
mesmo assim, no caso presente que está a acontecer em Lisboa, os cantoneiros
apenas lutam pela manutenção dos seus parcos direitos. Como forma de
solidariedade para com estes trabalhadores quase invisíveis fazemos nossas as
palavras de Nicolau Santos no Expresso Economia do passado sábado.
As pessoas que
recolhem o lixo numa cidade são das mais ignoradas da sociedade. O trabalho que
fazem não é ambicionado por ninguém. Ganha-se pouquíssimo, trabalha-se a horas
impróprias, em condições precárias, fazendo o que ninguém quer fazer. As perspectivas
de carreira não existem e ninguém quer um filho a fazer tal trabalho. E, no
entanto, produzindo os seres humanos quantidades apreciáveis de lixo
diariamente, a limpeza das cidades é crucial por questões estéticas,
seguramente, mas por razões de saúde pública, imperativamente. E é por isso que
quando as pessoas que recolhem o lixo fazem greve, as cidades ficam um caos,
seja em Nápoles ou Lisboa. O mais surpreendente é que estão a fazer greve
porque os seus mal pagos empregos não sejam precarizados com a sua passagem
para as juntas de freguesia. E para manter os poucos direitos laborais que têm.
Por muito que não gostemos do lixo a acumular-se à nossa porta é difícil não dar
razão aos grevistas. Porque fazem um trabalho invisível mas fundamental para a
sociedade. E porque este movimento parece isso mesmo: uma forma de dispensar
algumas centenas de cantoneiros. Se tem pés, penas e bico de pato e anda como
um pato, é provável que seja um pato.
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