A
esmagadora maioria da informação que chega até nós através da comunicação
social, em especial a televisiva é quase toda vazia de qualquer sentido
crítico. A tendência é que quase todos acreditem que aquela é a realidade nua e
crua, a que não é preciso acrescentar mais nada. E não é sempre assim, por
isso, é muito importante diversificarmos as fontes de informação para ficarmos
com uma ideia mais perfeita da realidade que nos cerca e sermos capazes de
colocar perguntas.
A
barbárie que o denominado Estado Islâmico está a levar a cabo nasceu do nada?
Por
que razão, os Estados Unidos (através da CIA) e os serviços secretos da Mossad
(Israel) apoiaram a criação de um exército de radicais islâmicos que agora
espalham o terror por onde se instalam?
Depois
do aparecimento das primeiras vítimas do Ébola, por que razão, altos
responsáveis pela saúde em África demoraram seis meses para tomarem as
primeiras medidas?
Qual
a explicação para o apoio financeiro fornecido por várias multinacionais ao
grupo terrorista Boko Haram que opera no norte da Nigéria?
Estas
e outras questões são tema do seguinte texto (*) que transcrevemos do Diário de
Coimbra do passado dia 11 de Setembro.
O
escritor Slavko Goldstein recordava recentemente no suplemento literário
Bebelia (El País) o que aconteceu quando o exército alemão invadiu a Jugoslávia
em 1941, permitindo ao nacionalista nazi Ante Palevic proceder a uma limpeza
étnica na Croácia – metade da população sérvia, judia e cigana foi eliminada –
e, como ainda não havia a fórmula dos fornos de gás, se criou um aparelho preso
ao braço, que permitia as degolações em série.
Para
nós, que nascemos já depois da II Grande Guerra, que nos últimos três anos de
conflito registou 11,5 mil mortos e 13 mil feridos por dia, e com muitos
responsáveis por crimes de massa hediondos, nomeadamente, alemães, a morrerem
de velhice, tudo parecia já longínquo e eis que surgem sinais bélicos ou de
calamidades no leste da Europa, do outro lado do Mediterrâneo e no centro de
África.
As
imagens e a informação proveniente das zonas controladas pelo Estado Islâmico
(Daech), conjugadas com as práticas da seita Boko Haram no norte da Nigéria,
das perseguições tribais e religiosas, da Somália à República Centro Africana e
o surto do vírus do ébola, provocam-me uma sensação nauseabunda, dificultando o
próprio ato de escrever.
Quando
hoje leio as propostas apresentadas pelo presidente americano para “enfrentar e
derrotar” o grupo terrorista Daech, no seu califado sírio e iraquiano, não
posso deixar de questionar-me por que o criaram, já que a coligação proposta
por Obama inclui, paradoxalmente, parte dos países que estiveram na origem ou
apoiaram a organização de al-Baghdadi, das monarquias do golfo à Turquia,
passando pelos serviços secretos da Mossad (Israel) ou a “nossa conhecida” CIA
– sem necessidade da confirmação do ex-NSA Edward Snowden para o saber.
O
meu apostolado – grita o arcebispo caldeu de Mossul, importante cidade
iraquiana, junto ao limite do Curdistão – foi ocupado pelos radicais islâmicos
e, ou nos convertemos ou somos mortos, num espaço de massacres, delapidações,
violações e degolações incomensuráveis.
Quanto
ao vírus do ébola, seis meses depois das primeiras vítimas foi o tempo que
demorou a organização da união africana para convocar uma reunião sobre a
epidemia, pelo que prefiro sublinhar aqui as palavras do presidente
internacional dos médicos sem fronteiras Joanne Liu, acusando a coligação
mundial de inação na saúde pública.
Já
aqui falámos da Ucrânia, pelo que me limito a revelar o ressurgimento da Nato,
agora com a criação de uma força de intervenção rápida, prevendo a mobilização
de uma brigada (5/7 mil homens) no espaço de uma semana e a exigência de
investimentos em armamento em 2% do PIB, durante a próxima década para os
países que a integram.
Num
país com quase um milhão de quilómetros quadrados, quatro grupos étnicos que
representam cerca de 70% dos 170 milhões de habitantes e o PIB mais consolidado
do continente, eis o norte islâmico de terras férteis, representado pelo Boko
Haram a impor a sua “lei islâmica”, raptando crianças ou executando quem lhes
apetece.
Consultando
“Afrik.com”, “Afrique Media” ou “Global Alliance Profile”, os leitores ficarão surpreendidos
com a identificação das multinacionais que suportam financeiramente uma tal
estrutura terrorista, a começar pelos fabricantes de transgénicos para a agricultura.
Depois
do “vírus financeiro”, eis-nos perante a brutalidade de novas epidemias.
(*) João
Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação
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