As
alturas de crise generalizada das sociedades são propícias ao aparecimento de
salvadores da pátria que, com uma linguagem simples de vendedores de banha da
cobra, convencem os cidadãos de que têm a chave para a resolução de todos os
problemas. Essas personagens, algumas delas grotescas, têm obtido votações
significativas por essa Europa, criando, por vezes, preocupações sérias sobre o
futuro da democracia. Limitam-se a repetir exaustivamente as ideias que sabem
ser mais agradáveis aos ouvidos dos eleitores ainda que sem qualquer conteúdo
palpável. Portugal não ficou imune a esta moda, embora o populista, até agora
emergente, não tenha as características extremistas de outras paragens. Marinho
e Pinto agarrou ideias populares como a de que os políticos “são todos iguais”
para supostamente denunciar os seus privilégios, salários e regalias.
Curiosamente, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados esquece-se de clamar por
impostos mais baixos, salários dignos e direitos sociais. Mas o que já vimos a
este senhor foi contrafazer, em três meses que tem o seu mandato de
eurodeputado, tudo o que prometeu. Já se deu ao desplante de declarar que o
salário de bastonário (4800 euros) “não dá para muito” e, muito menos o de
deputado nacional – cargo que ele ambiciona – significativamente abaixo desse
valor.
É
bom que os eleitores portugueses não se deixem iludir de novo por Marinho, uma
vez que ele já mostrou ao que vem, e estejam atentos ao trabalho aturado e
sério de gente competente que não vende gato por lebre como também se pode
inferir do texto de opinião (*) que transcrevemos do Diário as beiras do passado dia 18 de Setembro.
Durante
a última legislatura, o trabalho da eurodeputada Marisa Matias, reuniu elogios
da direita à esquerda – eleita melhor eurodeputada na área da saúde pelos
restantes eurodeputados – pelo empenho e qualidade do seu trabalho no
Parlamento Europeu.
Nesta
legislatura, outro eurodeputado, Marinho e Pinto, está à beira de bater a
proeza de Paulo Portas, que em 1999, depois de eleito, permaneceu apenas três
no Parlamento Europeu. Marinho deixa o seu lugar a mais um eurodeputado
impreparado do MPT, sem trabalho de casa reconhecido sobre políticas europeias.
Para quem se candidatou com a missão de dignificar a política, começa bem…
Como
muitos, considero que Marinho Pinto é o nosso populista de serviço. Estamos,
apesar de tudo, bem melhor que outros países onde as formas de populismo
oscilam entre a xenofobia e a palhaçada, de Nigel Farage a Grillo.
Marinho
tem intervenções pertinentes sobre temas como a magistratura e a justiça,
capacidade argumentativa indubitável, mas para construir um programa político,
é preciso muito mais do que eu e o meu ego: é preciso um imenso trabalho de
equipa, é necessária coerência, que as tiradas marialvistas e mal-educadas
pouco ajudam. A grande questão é se o partido que pretende formar para
alimentar o próprio e insaciável ego ainda conseguirá enganar muitos eleitores.
(*)
Rui Curado da Silva,
Investigador
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