terça-feira, 2 de outubro de 2018

DISPARIDADES SALARIAIS


Muito por mérito do Bloco, o tema das disparidades salariais nas empresas está agora a ser objecto de discussão pública a ponto de o BE já ter apresentado “um projecto de lei mandatando o Governo a definir um referencial de disparidade máximo (pay gap).
De tal forma esta situação é considerada importante que o “Expresso” a aborda longamente no seu suplemento de Economia deste sábado num texto assinado por Cátia Mateus e Sónia M. Lourenço. É desse texto que retirámos o seguinte excerto.
Os presidentes executivos (CEO) das empresas cotadas do PSI-20 ultrapassaram o período do resgate da troika com um aumento salarial de 49,7%. Já os trabalhadores perderam 6,2%. Como resultado, entre 2010 e 2017, o pay-gap (fosso salarial entre as remunerações auferidas pelos CEO das empresas e o salário médio dos trabalhadores) agravou-se. No ano passado, as remunerações brutas anuais dos CEO das empresas do PSI-20 eram, em média, 33 vezes superiores aos salários dos trabalhadores. Há oito anos, os líderes ganhavam 24 vezes mais. E casos há em que a remuneração do líder é 160 vezes superior ao salário médio auferido pelos trabalhadores que lidera. Os valores relativos a 2010 referem-se, ainda assim, a um ano anterior à chegada da troika a Portugal mas em que havia já alguns efeitos da crise financeira internacional. Quando se analisa o período da recuperação da economia, a partir de 2013, quando o PIB bateu no fundo, a diferença é também abissal: 35,8% de aumento nos CEO e 6% nos trabalhadores.
Na semana em que PS e Bloco de Esquerda levaram a questão da disparidade salarial a discussão no Parlamento, o Expresso analisou os relatórios e contas das 18 empresas cotadas que integram o índice principal da Bolsa portuguesa, para traçar a evolução das desigualdades salariais em Portugal entre 2010, o ano anterior à chegada da troika, e 2017, o último ano disponível.
Quase um milhão de euros era, no final do ano passado, a remuneração média dos presidentes executivos das empresas do PSI-20, considerando as componentes fixa e variável e excluindo complementos de reforma e outros benefícios sociais. Nesta contabilização não foi considerada a Pharol (ex-PT SGPS), pelo facto de a empresa não ser neste momento comparável com a PT SGPS, que era a holding do Grupo Portugal Telecom e incluía as várias operações em diferentes países que entretanto foram vendidas. No somatório das restantes 17 empresas, os CEO levaram para casa quase €17 milhões no último ano. A média das suas remunerações aumentou quase 50% nos últimos oito anos.
Do lado dos trabalhadores, as contas são inversas. Comparando com 2010, a média salarial dos trabalhadores (ponderada pelo número de funcionários em cada empresa cotada) sofreu, em 2017, uma redução de 6,2%. Há oito anos, o salário médio bruto anual ponderado nestas empresas era de €22.865. No último ano, o valor médio desceu para €21.451. Para esta redução terão contribuído empresas como a Altri, BCP, Grupo Ibersol, Mota-Engil, Navigator, Sonae Capital e Ramada, que nivelaram por baixo os salários praticados.

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