quarta-feira, 10 de outubro de 2018

NO IRÃO HÁ MUITO PETRÓLEO…


A história da intervenção das potências ocidentais (leia-se nomeadamente Estados Unidos e Reino Unido) no Médio Oriente, ao cheiro do petróleo não é de agora mas o que sabemos é que se pautou sempre pela usurpação das riquezas locais á custa da miséria das populações dessas regiões e, muitas vezes das vidas daqueles que ousaram levanta-se contra tamanha usurpação. As guerras que actualmente acontecem nesta zona do planeta têm uma origem muito antiga e tem sempre a ver com o mesmo: o domínio e apropriação de fontes de fornecimento de petróleo e gás natural. Apenas pessoas ingénuas podem acreditar que as actuais, intervenções de grandes potências na Síria, por exemplo, têm algo a ver com a defesa dos direitos humanos perante tiranos como Assad.
O texto que apresentamos a seguir foi retirado do “Diário as beiras” de hoje e constitui um artigo de opinião assinado por Pedro MotaCurto que não faz mais do que recordar a intervenção anglo-americana no Irão ao longo do século XX até ao triunfo da revolução islâmica em 1979. É importante relembrar o que então teve lugar naquela zona do planeta para se perceber melhor o que actualmente se passa.

A democracia no Irão, uma das nações mais antigas do mundo, remonta aos últimos anos do século XIX.
Em 1908, os ingleses descobriram petróleo, no sul do Irão. Em 1919, estabeleceu-se um acordo entre o Xá do Irão e a Anglo-Iranian Oil Company, a atual British Petroleum (BP), no qual ficou estabelecido que o Irão receberia 16 por cento dos lucros gerados com a exploração do petróleo. Este acordo neocolonial foi criticado pelos Estados Unidos.
A partir de 1928, o Irão tentou, quase sempre sem êxito, renegociar o acordo, procurando beneficiar um pouco mais a depauperada economia iraniana. Os lucros da empresa inglesa, maioritariamente estatal, pois 51% pertencia ao Estado Inglês, eram astronómicos. O petróleo iraniano abastecia praticamente toda a Europa e alimentou as máquinas bélicas das duas grandes guerras mundiais.
“Sem o petróleo do Irão não haveria esperança alguma de se atingir o nível de vida a que aspiramos na Grã-Bretanha” (Ernest Bevin, do Foreign Office).
Em 1935, o Xá Reza Pahlevi proibiu o uso do véu por parte das mulheres.
Em 1946, os trabalhadores iranianos da refinaria, a maior parte vivendo na miséria, entraram em greve. Os iranianos revoltavam-se contra o domínio dos ingleses na exploração do petróleo nacional. O presidente americano, Truman, servia de intermediário entre iranianos e ingleses, procurando que chegassem a um acordo, no que respeita à repartição dos lucros do petróleo. Winston Churchil nem queria ouvir falar em tal hipótese.
Em 1951, a revista Time escolheu como “Homem do Ano”, Mohamed Mossadegh, primeiro-ministro do Irão, eleito democraticamente. Mossadegh ( 1882-1967 ) era um aristocrata iraniano que estudara em Paris e em Neuchâtel, onde concluíra um doutoramento em Direito. O parlamento iraniano exigia a nacionalização da Anglo-Iranian Oil Company.
Neste ano, Mossadegh discursou nas Nações Unidas, defendendo a causa iraniana contra a opressão económica dos ingleses, tendo sido recebido em Washington pelo presidente americano, Harry Truman.
Em 1952, os americanos elegeram um novo presidente, Dwight Eisenhower. No Reino Unido, os conservadores venciam as eleições, substituindo os trabalhistas. Estavam criadas as condições para uma intervenção dos serviços secretos ingleses (MI6) e americanos (CIA) no Irão.
Em 1953, um golpe de estado aniquilou a democracia no Irão, prendeu Mossadegh e restabeleceu o controlo da produção e comércio do petróleo iraniano pelos ingleses da BP. Este ato de agressão externa provocaria consequências que iriam perdurar durante décadas, minando as relações entre americanos e iranianos e originando inúmeras alterações radicais na política do Médio Oriente. Churchil e Eisenhower colocariam o Xá no poder, que iria governar em ditadura, até à revolução islâmica de 1979.
Stephen Kinzer é um conceituado jornalista, tendo sido repórter do jornal New York Times. Foi correspondente em mais de 50 países e escreve para o New York Review of Books e The Guardian. É autor de inúmeros livros, sendo um especialista na história das intervenções americanas para derrubar regimes políticos.
Em 2003, publicou um dos seus livros mais famosos, “Os Homens do Xá – O Golpe no Irão e as Origens do Terrorismo no Médio Oriente”, que foi considerado, pelo jornal Washington Post e pela revista The Economist, como um dos melhores livros do ano.
“Não existe nada de novo no mundo a não ser a História que não conhecemos”, afirmou um dia o presidente americano Harry Truman.

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