quinta-feira, 13 de setembro de 2018

ESTE PAÍS NÃO É PARA PROFESSORES…


Desde há anos a esta parte, qualquer Governo seja do PS ou de direita têm nos seus programas as maiores juras de amor ao sector educativo. Tão certo como o sol nascer todos os dias, rapidamente esse amor se desvanece e, em pouco tempo, vem à luz do dia o frete em que se torna para o executivo em funções cumprir as suas obrigações na área da educação. E o mais triste de se verificar é que a acção dos governos “socialistas” em nada difere da que é levada a cabo pela direita – todos nos lembramos das megamanifestações de descontentamento dos professores que tiveram lugar durante o consolado de Sócrates.
Aproveitando alguma má vontade fomentada na opinião pública contra os docentes, estes tornaram-se os alvos por excelência da culpa do que corre mal no âmbito da educação e até nas contas públicas… Os opinadores de direita, mal surge qualquer reivindicação por parte dos professores, são lestos a montar uma campanha de propaganda como a que está a acontecer neste início de ano lectivo em que os docentes são, no mínimo, apelidados de privilegiados, sob os mais diversos pretextos. Estas campanhas não têm nada de inocentes e são levadas a cabo com base no radicalismo neoliberal cujo principal objectivo é a destruição da escola pública, para que a educação se transforme em negócio para os privados.
De qualquer maneira, apesar dos alegados privilégios de que gozam os professores, a verdade é que todos os anos se verifica um decréscimo no número de candidatos à docência. Porquê? É fácil constatar que, por muitas razões, estamos perante uma profissão cada vez menos atraente para quem entra no ensino superior, como concorda o autor do artigo de opinião seguinte, Rui Gualdino Cardoso, também ele professor (*).
Durante o fim-de-semana passado, as notícias sobre o baixo número de candidatos a professores foi badalando pelos noticiários, jornais e redes sociais, mas já não é a primeira vez que isso acontece.
Nos últimos anos os números têm vindo a decrescer, já o ano passado foi notícia. Mas, este ano, as 693 vagas ocupadas de 1204 disponíveis ficam muito aquém em relação às ocupadas em 2017, um decréscimo superior a 40%. Estes números serão a norma a partir de agora. Ser professor já não é uma profissão atraente e quem ainda envereda por ela, cedo ou tarde, verifica que este país não é para professores.
Mas não é o único. Por essa Europa fora já se viram casos semelhantes, mas, como não interessa, ladeiam-se olhos com palas, não se olha para o lado e segue-se o caminho sem pensar em consequências futuras.
Há uns anos ouviam-se rumores de que no Reino Unido a falta de professores se fazia sentir a tal ponto que já se recrutavam “profissionais” entre os militares em fim de contrato, dando-lhe formação para outro tipo de campo de batalha. Na Alemanha, a procura de professores já se encontra numa fase de desespero. Segundo as últimas estimativas faltam cerca de 40.000 professores no sistema de ensino alemão e ainda vai piorar nos próximos anos. Por França o cenário é parecido, a procura de professores torna-se cada vez mais difícil.
Mas o que aconteceu nestes países para chegarem a este ponto? Não é necessário procurar muito para se encontrar uma razão. A falta de investimento na área de educação, a falta de condições de trabalho, os baixos salários em relação a outras carreiras semelhantes, a instabilidade ao nível de colocação e familiar que esta profissão acarreta, a desautorização do papel do professor enquanto educador, o crescente desrespeito do papel do professor na sociedade, estão entre muitas outras razões para estes cenários.
Lá fora é assim, por cá também é, e será, como lá.
Dentro de poucos anos, o cenário nas escolas portuguesas será semelhante aos países acima mencionados. Com a falta de candidatos a professores que hoje se verifica e com a eminente saída para a aposentação de milhares de professores nos próximos anos, o sistema de ensino, inevitavelmente, entrará em rutura por falta de profissionais.
Nessa altura, restar-nos-á o exemplo do que está a acontecer em alguns municípios do Reino Unido, com professores de Educação Física, formados em Portugal, a lecionar Matemática e Ciências, por na sua formação base terem uma ou duas cadeiras sobre essas matérias. Serão estes os professores do futuro?
(*) “Público

Sem comentários:

Enviar um comentário