Desde
há anos a esta parte, qualquer Governo seja do PS ou de direita têm nos seus
programas as maiores juras de amor ao sector educativo. Tão certo como o sol
nascer todos os dias, rapidamente esse amor se desvanece e, em pouco tempo, vem
à luz do dia o frete em que se torna para o executivo em funções cumprir as
suas obrigações na área da educação. E o mais triste de se verificar é que a
acção dos governos “socialistas” em nada difere da que é levada a cabo pela
direita – todos nos lembramos das megamanifestações de descontentamento dos
professores que tiveram lugar durante o consolado de Sócrates.
Aproveitando
alguma má vontade fomentada na opinião pública contra os docentes, estes
tornaram-se os alvos por excelência da culpa do que corre mal no âmbito da
educação e até nas contas públicas… Os opinadores de direita, mal surge
qualquer reivindicação por parte dos professores, são lestos a montar uma
campanha de propaganda como a que está a acontecer neste início de ano lectivo
em que os docentes são, no mínimo, apelidados de privilegiados, sob os mais
diversos pretextos. Estas campanhas não têm nada de inocentes e são levadas a
cabo com base no radicalismo neoliberal cujo principal objectivo é a destruição
da escola pública, para que a educação se transforme em negócio para os
privados.
De
qualquer maneira, apesar dos alegados privilégios de que gozam os professores,
a verdade é que todos os anos se verifica um decréscimo no número de candidatos
à docência. Porquê? É fácil constatar que, por muitas razões, estamos perante
uma profissão cada vez menos atraente para quem entra no ensino superior, como concorda
o autor do artigo de opinião seguinte, Rui Gualdino Cardoso, também ele
professor (*).
Durante o fim-de-semana passado, as notícias sobre o
baixo número de candidatos a professores foi badalando pelos noticiários,
jornais e redes sociais, mas já não é a primeira vez que isso acontece.
Nos últimos anos os números têm vindo a decrescer, já
o ano passado foi notícia. Mas, este ano, as 693 vagas ocupadas de 1204
disponíveis ficam muito aquém em relação às ocupadas em 2017, um decréscimo
superior a 40%. Estes números serão a norma a partir de agora. Ser professor já
não é uma profissão atraente e quem ainda envereda por ela, cedo ou tarde,
verifica que este país não é para professores.
Mas não é o único. Por essa Europa fora já se viram
casos semelhantes, mas, como não interessa, ladeiam-se olhos com palas, não se
olha para o lado e segue-se o caminho sem pensar em consequências futuras.
Há uns anos ouviam-se rumores de que no Reino Unido a
falta de professores se fazia sentir a tal ponto que já se recrutavam
“profissionais” entre os militares em fim de contrato, dando-lhe formação para
outro tipo de campo de batalha. Na Alemanha, a procura de professores já se
encontra numa fase de desespero. Segundo as últimas estimativas faltam cerca de
40.000 professores no sistema de ensino alemão e ainda vai piorar nos próximos
anos. Por França o cenário é parecido, a procura de professores torna-se cada
vez mais difícil.
Mas o que aconteceu nestes países para chegarem a este
ponto? Não é necessário procurar muito para se encontrar uma razão. A falta de
investimento na área de educação, a falta de condições de trabalho, os baixos
salários em relação a outras carreiras semelhantes, a instabilidade ao nível de
colocação e familiar que esta profissão acarreta, a desautorização do papel do
professor enquanto educador, o crescente desrespeito do papel do professor na
sociedade, estão entre muitas outras razões para estes cenários.
Lá fora é assim, por cá também é, e será, como lá.
Dentro de poucos anos, o cenário nas escolas
portuguesas será semelhante aos países acima mencionados. Com a falta de
candidatos a professores que hoje se verifica e com a eminente saída para a
aposentação de milhares de professores nos próximos anos, o sistema de ensino,
inevitavelmente, entrará em rutura por falta de profissionais.
Nessa altura, restar-nos-á o exemplo do que está a
acontecer em alguns municípios do Reino Unido, com professores de Educação
Física, formados em Portugal, a lecionar Matemática e Ciências, por na sua
formação base terem uma ou duas cadeiras sobre essas matérias. Serão estes os professores
do futuro?
(*) “Público”
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