A
situação que actualmente se vive no Brasil deve ser observada com muita atenção
por todos os democratas a nível mundial. Por isso mesmo, o resultado das
eleições que vão ter lugar no país irmão não dirá apenas respeito ao futuro dos
brasileiros mas será um ponto de referência para todo o mundo democrático que não
quer ver o regresso do fascismo através do voto popular.
No
editorial que assina no “Público” de hoje, Ana Sá Lopes designa Jair Bolsonaro,
candidato da extrema-direita, por “jagunço”, com toda a propriedade porque a
única proposta deste indivíduo para enfrentar os problemas do Brasil assenta na
violência pura e dura. Se ele vencer as próximas eleições de Outubro, é a
democracia que sai derrotada a nível global. Este perigo real aconselha um
empenhamento dos democratas à escala mundial, independentemente das suas
filiações partidárias.
Uma
vitória de Bolsonaro no Brasil seria um forte bálsamo para todos os inimigos da
democracia que já começam a deter fortes baluartes tanto na Europa como na América,
através do voto popular.
Como
afirma muito bem Ana Sá Lopes a terminar o texto seguinte, “quando os
democratas falham, não perdem só eleições — abrem comportas de represas muito
difíceis de estancar”. Cabe a todos nós evitar que essas compotas se abram…
Jair Bolsonaro não precisa de sair da cama do hospital
— onde continua internado depois de ter sido vítima de uma facada no princípio
do mês — para continuar a liderar as sondagens às eleições para à presidência
do Brasil. E isso, como escrevia o Economist na sua última edição, é de
facto “um perigo para a América Latina”. Bolsonaro representa o pior do Brasil
dos coronéis e da ditadura militar cujos métodos fascistas continua a defender
abertamente.
“O erro da ditadura foi torturar e não matar”,
afirmou Bolsonaro em 2016, altura em que, durante o impeachment de
Dilma, dedicou o seu voto ao coronel Ustra, o chefe da PIDE lá do sítio e
“terror de Dilma Rousseff”. Anos antes tinha dito: “No período da ditadura
deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo Presidente Fernando
Henrique, o que seria um grande ganho para a nação.”
Bolsonaro está para o Brasil como Duterte está para as
Filipinas: já disse de uma mulher “que não merecia ser violada por ser muito
feia” e afirmou-se incapaz de amar um filho homossexual — que preferia ver
morrer de acidente a aparecer com “um bigodudo”.
O Brasil de Bolsonaro sempre existiu. Infelizmente, a
decadência de um PT minado pela corrupção deu-lhe a força que até aqui não
tinha conseguido. Como escreve a nossa
enviada especial Clara Barata nesta edição, “quando faz campanha, Preto Zezé
diz contactar com muitos eleitores que vão votar em Bolsonaro. ‘É um
sentimento das pessoas, digamos, não tanto ideológico. Acham que vai ser um
salvador da pátria e resolver os problemas da violência. Apesar de estar na
política há 27 anos, as pessoas acham que ele nunca foi da política’, diz este
candidato”.
O perigo da
chegada do jagunço-salvador-da-pátria à Presidência da República do Brasil é
real. Quando os democratas falham, não perdem só eleições — abrem comportas de
represas muito difíceis de estancar.
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