quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A AUSTERIDADE MATOU



O naufrágio ocorrido recentemente na barra da Figueira da Foz de que resultou a morte de vários pescadores fez correr alguma tinta sobre o que falhou para que fosse possível tamanho drama a pouca distância de terra sem que os meios de socorro funcionassem como deviam.
No texto que se segue (*), o investigador Rui Curado da Silva, candidato do Bloco de Esquerda pelo distrito de Coimbra às recentes eleições legislativas, põe o dedo na ferida, indo ao âmago da questão, a falha política relacionada com as medidas de austeridade que levou à decisão do encerramento dos serviços de socorro às 18 horas, como se a possibilidade de acidente não pudesse acontecer depois desta hora.
Já foram apontadas as principais falhas que provocaram o drama que se viveu na barra da Figueira da Foz. Há muitas responsabilidades a apurar, falhas técnicas, falhas humanas, etc. Mas a falha política, a falha de quem tutela os serviços de socorro é a falha mais fria, a mais racional, a mais pensada, aquela que não depende de um instante infeliz de um homem ou de uma falha técnica ocasional de uma máquina. E neste caso essa falha, foi a decisão de encerrar os serviços de socorro às 18 horas.
A decisão de restringir a um determinado número de horas por dia serviços de emergência dedicado a acudir a acidentes que podem ocorrer durante as 24 horas do dia comporta sempre enormes riscos de mais tarde ou mais cedo se consumar um acidente fatal. É aqui que se traça a fronteira entre a austeridade que mata e políticas de racionalização que não entram em conflito com o conceito de urgência. Um ataque cardíaco tal como um acidente marítimo não têm horas do dia para ocorrer, mas este governo repetidamente implementou medidas de racionalização irracionais, limitando horários de determinadas urgências ao comum horário laboral, como se a morte ao final do dia fosse também para casa jantar e dormir. O conceito estendeu-se também à segurança marítima e o acidente acabou por acontecer.
(*) Diário as beiras

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