O
naufrágio ocorrido recentemente na barra da Figueira da Foz de que resultou a
morte de vários pescadores fez correr alguma tinta sobre o que falhou para que
fosse possível tamanho drama a pouca distância de terra sem que os meios de
socorro funcionassem como deviam.
No
texto que se segue (*), o investigador Rui Curado da Silva, candidato do Bloco
de Esquerda pelo distrito de Coimbra às recentes eleições legislativas, põe o
dedo na ferida, indo ao âmago da questão, a falha política relacionada com as
medidas de austeridade que levou à decisão do encerramento dos serviços de
socorro às 18 horas, como se a possibilidade de acidente não pudesse acontecer
depois desta hora.
Já
foram apontadas as principais falhas que provocaram o drama que se viveu na
barra da Figueira da Foz. Há muitas responsabilidades a apurar, falhas
técnicas, falhas humanas, etc. Mas a falha política, a falha de quem tutela os
serviços de socorro é a falha mais fria, a mais racional, a mais pensada,
aquela que não depende de um instante infeliz de um homem ou de uma falha
técnica ocasional de uma máquina. E neste caso essa falha, foi a decisão de
encerrar os serviços de socorro às 18 horas.
A
decisão de restringir a um determinado número de horas por dia serviços de
emergência dedicado a acudir a acidentes que podem ocorrer durante as 24 horas
do dia comporta sempre enormes riscos de mais tarde ou mais cedo se consumar um
acidente fatal. É aqui que se traça a fronteira entre a austeridade que mata e
políticas de racionalização que não entram em conflito com o conceito de urgência.
Um ataque cardíaco tal como um acidente marítimo não têm horas do dia para
ocorrer, mas este governo repetidamente implementou medidas de racionalização irracionais,
limitando horários de determinadas urgências ao comum horário laboral, como se a
morte ao final do dia fosse também para casa jantar e dormir. O conceito
estendeu-se também à segurança marítima e o acidente acabou por acontecer.
(*) Diário
as beiras
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