Concluído
o processo eleitoral, começam a cair na comunicação social as análises aos
resultados. Desta vez há muito que comentar porque a Assembleia da República
(AR) sofreu forte renovação com quase metade de novos deputados para além da
alteração numérica de todos os grupos parlamentares.
É
opinião generalizada dos analistas políticos de todos os quadrantes que o
principal vencedor destas eleições foi o Bloco de Esquerda, tão evidentes são
os valores apresentados – os melhores resultados de sempre do Bloco. Não há que
fugir das evidências ainda que com grande dor de cotovelo de muitas
personalidades e organizações políticas.
A
coligação de direita fez um grande alarido com a vitória nas eleições – teve
mais votos que qualquer outro partido/coligação – mas pouco mais tem a festejar
já que perdeu mais de 700 mil votos e de duas dezenas de deputados. Desde logo,
para ver aprovado o seu programa de Governo e Orçamento de Estado para 2016
necessita dos votos da esquerda light, leia-se PS.
Numa
análise simples mas correcta, o jornalista José Vitor Malheiros (*) toca nos
pontos principais das conclusões que se devem tirar dos resultados eleitorais,
como se pode ler a seguir.
A
coligação de direita PaF ganhou as eleições. Contra toda a razoabilidade, mas
como as sondagens previam. Ganhou as eleições, mas perdeu. Perdeu a maioria
absoluta. Perdeu cerca de 12 pontos percentuais. Perdeu mais de 730.000 votos.
Perdeu 22 ou 23 deputados.
Se
olharmos para estas perdas, a leitura é evidente, independentemente dos gostos
políticos. Há menos pessoas hoje a querer um governo da direita do que havia em
2011. Um número muito elevado de portugueses que votaram PSD ou CDS em 2011 (um
em cada quatro), fugiu agora do voto à direita, o que significa uma condenação
da governação do PSD-CDS e uma condenação das políticas de austeridade. A base
de apoio da direita encolheu.
O
PS perdeu as eleições. Perdeu porque não ultrapassou o PaF. Perdeu porque fez
um programa de direita light, sem alma, sem convicção, sem visão e sem coragem.
Perdeu, mas ganhou. Ganhou mais de quatro pontos percentuais. Ganhou mais de
180.000 votantes. Ganhou 13 ou 14 deputados. A base de apoio do PS cresceu.
Quanto a António Costa, perdeu sem ganhar nada. Perdeu porque não conseguiu
melhor, em termos numéricos, que a vitória poucochinha de António José Seguro
nas europeias - que, foi, apesar de tudo, uma vitória.
Mas
é claro que estes números não dizem tudo por si só. A coligação PSD-CDS ganhou
porque continua a ser a formação partidária com mais votos. O PS perdeu porque
não conseguiu ultrapassar o PaF e perdeu porque nem sequer captou todos os
votantes que abandonaram o PSD-CDS. Ou, se os captou pela direita, perdeu a
maioria deles pela esquerda.
O
Bloco de Esquerda ganhou. Foi o único que ganhou mesmo. Quase duplicou a sua
votação em número de votos (288.206 para 549.153) e em percentagem (5,19% para
10,22%) e obteve um recorde em número de deputados: 19 em vez dos 8 que tinha e
mais que os 16 que eram a sua marca máxima.
A
CDU também ganhou. Ganhou porque aumentou a sua percentagem de votantes (7,94%
para 8,27%). Ganhou porque conquistou 3.400 novos votantes. Ganhou mas perdeu.
Perdeu porque foi ultrapassado pelo BE. Perdeu porque, dos mais de 260.000
votantes que se deslocaram nesta eleição para a esquerda do espectro
parlamentar, apenas captou aqueles escassos 3.400.
O
CDS ganhou. Ganhou porque faz parte do PaF, que ganhou. Mas como o PaF nem
sequer conseguiu o mesmo número de votos que o PSD sozinho nas últimas eleições
(teve menos uns 167.000), fica a suspeita de que o CDS possa ter perdido.
Talvez tenha até desaparecido.
O
PAN ganhou porque elegeu um deputado. O Livre/Tempo de Avançar perdeu porque
não elegeu nenhum.
A
direita ganhou porque o partido/coligação mais votado é de direita e porque vai
formar governo. Mas perdeu porque os cidadãos deram à esquerda quase o dobro de
votos que deram à direita e porque o governo de direita viverá numa
instabilidade constante devido à falta de apoio parlamentar.
A
esquerda ganhou porque teve quase duas vezes mais votos que a direita. Mas
perdeu porque não se consegue entender para formar governo, nem sequer para
concretizar uma actividade legislativa consequente.
A
direita ganhou porque a esquerda não a irá derrubar com medo de que o PSD e o
CDS se vitimizem e consigam uma maioria absoluta em eleições antecipadas. A
esquerda ganhou porque vai ter o governo a comer da sua mão no Parlamento.
(*) Público
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