Apresentamos
a seguir um texto – título acima – da autoria do bloquista Tiago Grosso (*) transcrito
da última edição do semanário Barlavento.
A elevada taxa de abstenção verificada no acto eleitoral do passado dia 4 de
Outubro é o pano de fundo para este artigo de opinião onde os abstencionistas são
criticados pelas razões que evocam para justificar a sua ausência da mesa de
voto.
Trata-se
de uma opinião totalmente legítima mas que talvez não seja subscrita por muitos
bloquistas por ser demasiado redutora.
Afinal,
a abstenção foi maior do que há quatro anos. Há muito a dizer sobre os
abstencionistas portugueses. E não são coisas boas. Além da importância óbvia
das eleições políticas para aquilo que é a definição da forma como a Assembleia
da República se compõe, as eleições são também ótimas alturas para o povo
português fazer acusações insultuosas sobre a saúde mental dessa gente que dá
pelo nome de… portugueses. Permitam-me, portanto, que faça as minhas também.
Uma das coisas que mais se ouve dizer em relação à abstenção é que os
portugueses estão desiludidos com a política e com os políticos. Este argumento
é logo à partida muito duvidoso. Não é possível que alguém se desiluda com algo
que não conhece. Ainda assim, os meios de comunicação conservadores (a maioria)
são sempre muito céleres em reproduzir esse argumento. Não se pense, no
entanto, que estes o fazem de forma inconsciente. Este comportamento nada tem
de ingénuo. Serve apenas para manter o nevoeiro sobre um assunto que, em última
análise, beneficia a manutenção do estado de coisas, passando a falsa ideia de
que o povo é melhor do que a classe política que o governa. Ora, se quisermos
ser realmente justos para com o povo, e para com os políticos, devemos começar
por reconhecer que isso não é verdade. Basta ver o que se passou com a questão
dos refugiados sírios, cujas alarvidades disseminadas nas redes sociais, não
encontraram paralelo no meio partidário português. Bom, não é bem verdade. O
PNR reproduziu muitas dessas alarvidades, mas também é certo que o PNR está
mais próximo de um número de circo do que propriamente de um partido político.
Voltando ao tema. O argumento da descrença nos políticos, frequentemente debitado
a par com o argumento de que estes são todos iguais, é regra geral, proclamado
por quem está mais alheado da política e não passa de uma desculpa esfarrapada
para a própria falta de interesse. Dizer-se que se é contra os políticos e
contra a política, fica bem, não compromete e é bem mais fácil do que ter uma
verdadeira opinião. O problema é que esta atitude não resolve nada. Se
pensarmos bem, há qualquer coisa de muito estranho nas pessoas que não votam. É
o facto de acharem que as decisões políticas não as afetam. Ou que afetando,
arranjam sempre maneira de se safar. Um biscate aqui, menos um recibo ali e a
coisa compõe-se. No fundo, o abstencionista é aquela pessoa que, sentindo um
ladrão a assaltar a sua casa, se esconde debaixo da cama à espera que ele se vá
embora. Com uma diferença - o abstencionista tem tanto medo de fazer alguma
coisa, que é bem capaz de passar uma vida inteira à espera. Pode-se até dar o
caso do ladrão ocupar permanentemente a sua casa e ele nada fazer. Pelo menos
foi o que aconteceu com Portugal. O abstencionista é um romântico incorrigível.
Não há no mundo quem tenha uma visão tão trágica e fatídica da vida. Não
acredita em melhorias, mas aceita com a maior das naturalidades, o facto de o
país estar a piorar a olhos vistos desde há alguns anos. Parece que mudar para
melhor é impossível, mas para pior já é a coisa mais natural do mundo.
(*) Técnico
superior de turismo
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