Especialmente
em época de eleições é muitas vezes referido que Portugal vota maioritariamente
à esquerda mas tem sido governado pela direita. É verdade.
A
propósito, tem todo o sentido questionar-se se o país é mais à esquerda ou mais
à direita, considerando-se que PS, PCP, Bloco e outras formações mais pequenas
que concorrem às eleições formam a esquerda.
Com
o conhecimento que lhe é mundialmente reconhecido, o Prof. Boaventura Sousa
Santos responde a esta questão em poucas palavras no Público de hoje. De
salientar um facto evidente e pouco referido entre nós sobre o quase escândalo
que constitui o espaço que é dado por jornais de referência a comentadores de
direita, ao arrepio do pluralismo democrático, uma situação só vista em países onde
a democracia sofre tratos de polé.
Convém
começar por definir o que é ser esquerda. Numa concepção minimalista, esquerda
é toda a posição política que promove todos (ou a grande maioria dos) seguintes
objectivos: luta contra a desigualdade e a discriminação sociais, por via de
uma articulação virtuosa entre o valor da liberdade e o valor da igualdade
plasmada no equilíbrio entre os direitos civis e políticos e os direitos
sociais, económicos e culturais; defesa forte do pluralismo, tanto nos media como na economia, na educação
e na cultura; democratização do Estado por via de valores republicanos,
participação cidadã e independência das instituições, em especial, do sistema
judicial; luta pela memória e pela reparação dos que sofreram (e sofrem) formas
violentas de opressão; defesa de uma concepção forte de opinião pública, que
expresse de modo equilibrado a diversidade de opiniões; defesa da soberania
nacional e da soberania nacional de outros países; resolução pacífica dos
conflitos internos e internacionais. Ser de direita é ser contra todos ou a
grande maioria destes objectivos.
A expressão o “país” usada na
pergunta é ambígua neste contexto. Se o país for o conjunto dos portugueses é
difícil responder, pois os inquéritos à opinião nunca incidiram sobre todos os
objectivos. Se o “país” for a opinião publicada nos meios de comunicação
principais, Portugal é de direita. Excluindo os países que foram parte do bloco
soviético, não conheço outro país na Europa onde os jornais de referência dêem
tanto espaço (comentários regulares, últimas páginas) a comentadores de direita.
Chega ser escandaloso pelo estilo trauliteiro da direita que tem voz
privilegiada. Se o “país” forem os portugueses que votam nas eleições, então o
pais é inequivoca e consistentemente de esquerda, se considerarmos que os
partidos de esquerda são o PS, PCP, BE e agora o Livre e outros pequenos
partidos que se consideram de esquerda radical. Ao longo dos anos, este
conjunto tem sido quase sempre o preferido dos portugueses.
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