O
artigo de opinião (*) seguinte que recolhemos do Diário de Coimbra de 22/10 tem
o título completamente adequado, Simples
confirmações porque refere factos reais que vêm, nem mais nem menos, confirmar
circunstâncias há muito denunciadas por entidades e personalidades de quadrantes
ideológicos não coincidentes, tão óbvias elas são.
Três
situações são, em especial referidas: 1) a aquisição da dívida pública grega
pelo BCE a que o ministro das Finanças alemão Schäuble se opôs a fim de “consolidar
a hegemonia alemã na eurozona”; 2) os resgates que tiveram como finalidade “pagar
aos bancos, ao FMI, BCE e estados que tinham comprado dívida pública grega”; 3)
o adiamento sucessivo da aplicação da taxa Tobin sob um pretexto completamente
fútil, o que impediu que um imposto de uma percentagem insignificante sobre
transacções financeiras pudesse canalizar uma verba avultadíssima para os
estados da zona euro.
Conselheiro
para os assuntos internacionais no tempo de Clinton, diretor do departamento do
FMI (2001) e, posteriormente, presidente da Reserva Federal de Nova Yorque até
ser escolhido por Obama para secretário de estado do tesouro (ministro das
finanças), no seu primeiro mandato (2008/12), eis uma personagem que esteve no
cerne dos momentos mais marcantes do mundo da finança e da cleptocracia, desde
a explosão da crise americana de 2007/8 até à sua exportação para o continente
europeu.
Refiro-me
a Timothy Geithner – Tim para os amigos –, que participou na já célebre reunião
com o seu antecessor no governo Bush, ex-presidente e grande acionista do
Goldman Sachs (GS) Henry Paulson, em que foi tomada a decisão de deixar falir o
Lehmon Brothers, banco tentacular e um dos principais concorrentes do GS, nos
mercados mundiais.
Homem
que sempre gostou de notoriedade, Gheitner não podia deixar de revelar alguns
factos relevantes em que interveio, o que fez recentemente com o livro (Stress
Test), abordando uma temática mais relacionada com o mundo americano, mas com
pormenores esclarecedores em assuntos europeus, caso das receitas de
austeridade que estão a ser aplicadas para combater as dívidas públicas.
Como
o livro ainda não me chegou às mãos, relevo alguns comentários de quem já o
leu, caso do catedrático catalão de ciências políticas Vicenç Navarro, da
universidade Pompeu Fabra, opinião confortada com outras leituras.
Pela
sua importância, relevo a reunião do G-7 (E. Unidos, Alemanha, Japão, França, Reino
Unido, Itália e Canadá) realizada em 2010, em que a dívida grega foi o tema
central pelas implicações internacionais que poderia ter, dívida em grande
parte originada pelos investimentos em equipamento militar, o maior em termos percentuais (PIB) da Europa, como
acentuou o Wall Street Journal (The Submarine Deals, 10 julho).
Durante
o encontro, Gheitner defendeu sempre a aquisição da dívida pública grega pelo
Banco Central Europeu (BCE), caso os estados da zona euro não encontrassem
rapidamente uma outra solução nos mercados financeiros, saída, aliás, conforme
às práticas seguidas pela Reserva Federal americana, mas foi severamente
criticado pelo nosso já conhecido ministro alemão Schäuble, para quem a
crise “não era uma ameaça, mas uma oportunidade”,
para disciplinar e impor reformas estruturais.
Para
sua surpresa – refere – sentiu que o ministro alemão não queria considerar a
sua alternativa, pois não era sua intenção ultrapassar a crise, antes
consolidar a hegemonia alemã na eurozona, como hoje se verifica.
Deixando
Geithner; relembro as afirmações do então governador do Banco Central Alemão
Otto Pöhl, não duvidando que os resgates serviriam para pagar aos bancos, ao
FMI, BCE e estados que tinham comprado dívida pública grega.
São
assim mais compreensíveis os dados do Eurostat, ainda referentes a 2014,
indicam-nos as percentagens da população em situação de pobreza ou de exclusão social:
Grécia (36%), Espanha (29,2%), Portugal (27,5%) e União Europeia (24,4%), ou
seja 122 milhões de europeus na rota da precariedade.
Já
aqui falámos da Taxa Tobin, pensada pelo economista americano e Prémio Nobel em
1981, a contemplar todas as transações financeiras e que voltou a ser
equacionada com a recente crise, mas sucessivamente adiada, agora com a elaboração
de um documento interno a circular no Eurogrupo, rubricado pela Alemanha, Bélgica
e Espanha e, pasme-se, por Portugal, alertando para o possível impacto
macroeconómico negativo na sua aplicação.
Mesmo
na sua configuração mais “leve”, a taxa poderia fazer reverter verbas da ordem
dos €40 mil milhões/ano, para os estados da zona euro, reforçando as políticas
de apoio e desenvolvimento sociais.
Mas,
pelos vistos e numa total irresponsabilidade, somos condiscípulos dos que tudo
fazem para não beliscar os superiores interesses instalados.
(*) João
Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação
Sem comentários:
Enviar um comentário