segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O CAPITAL FINANCEIRO TEM MUITOS DEFENSORES…


O artigo de opinião (*) seguinte que recolhemos do Diário de Coimbra de 22/10 tem o título completamente adequado, Simples confirmações porque refere factos reais que vêm, nem mais nem menos, confirmar circunstâncias há muito denunciadas por entidades e personalidades de quadrantes ideológicos não coincidentes, tão óbvias elas são.
Três situações são, em especial referidas: 1) a aquisição da dívida pública grega pelo BCE a que o ministro das Finanças alemão Schäuble se opôs a fim de “consolidar a hegemonia alemã na eurozona”; 2) os resgates que tiveram como finalidade “pagar aos bancos, ao FMI, BCE e estados que tinham comprado dívida pública grega”; 3) o adiamento sucessivo da aplicação da taxa Tobin sob um pretexto completamente fútil, o que impediu que um imposto de uma percentagem insignificante sobre transacções financeiras pudesse canalizar uma verba avultadíssima para os estados da zona euro.
Conselheiro para os assuntos internacionais no tempo de Clinton, diretor do departamento do FMI (2001) e, posteriormente, presidente da Reserva Federal de Nova Yorque até ser escolhido por Obama para secretário de estado do tesouro (ministro das finanças), no seu primeiro mandato (2008/12), eis uma personagem que esteve no cerne dos momentos mais marcantes do mundo da finança e da cleptocracia, desde a explosão da crise americana de 2007/8 até à sua exportação para o continente europeu.
Refiro-me a Timothy Geithner – Tim para os amigos –, que participou na já célebre reunião com o seu antecessor no governo Bush, ex-presidente e grande acionista do Goldman Sachs (GS) Henry Paulson, em que foi tomada a decisão de deixar falir o Lehmon Brothers, banco tentacular e um dos principais concorrentes do GS, nos mercados mundiais.
Homem que sempre gostou de notoriedade, Gheitner não podia deixar de revelar alguns factos relevantes em que interveio, o que fez recentemente com o livro (Stress Test), abordando uma temática mais relacionada com o mundo americano, mas com pormenores esclarecedores em assuntos europeus, caso das receitas de austeridade que estão a ser aplicadas para combater as dívidas públicas.
Como o livro ainda não me chegou às mãos, relevo alguns comentários de quem já o leu, caso do catedrático catalão de ciências políticas Vicenç Navarro, da universidade Pompeu Fabra, opinião confortada com outras leituras.
Pela sua importância, relevo a reunião do G-7 (E. Unidos, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Itália e Canadá) realizada em 2010, em que a dívida grega foi o tema central pelas implicações internacionais que poderia ter, dívida em grande parte originada pelos investimentos em equipamento militar, o maior  em termos percentuais (PIB) da Europa, como acentuou o Wall Street Journal (The Submarine Deals, 10 julho).
Durante o encontro, Gheitner defendeu sempre a aquisição da dívida pública grega pelo Banco Central Europeu (BCE), caso os estados da zona euro não encontrassem rapidamente uma outra solução nos mercados financeiros, saída, aliás, conforme às práticas seguidas pela Reserva Federal americana, mas foi severamente criticado pelo nosso já conhecido ministro alemão Schäuble, para quem a crise  “não era uma ameaça, mas uma oportunidade”, para disciplinar e impor reformas estruturais.
Para sua surpresa – refere – sentiu que o ministro alemão não queria considerar a sua alternativa, pois não era sua intenção ultrapassar a crise, antes consolidar a hegemonia alemã na eurozona, como hoje se verifica.
Deixando Geithner; relembro as afirmações do então governador do Banco Central Alemão Otto Pöhl, não duvidando que os resgates serviriam para pagar aos bancos, ao FMI, BCE e estados que tinham comprado dívida pública grega.
São assim mais compreensíveis os dados do Eurostat, ainda referentes a 2014, indicam-nos as percentagens da população em situação de pobreza ou de exclusão social: Grécia (36%), Espanha (29,2%), Portugal (27,5%) e União Europeia (24,4%), ou seja 122 milhões de europeus na rota da precariedade.
Já aqui falámos da Taxa Tobin, pensada pelo economista americano e Prémio Nobel em 1981, a contemplar todas as transações financeiras e que voltou a ser equacionada com a recente crise, mas sucessivamente adiada, agora com a elaboração de um documento interno a circular no Eurogrupo, rubricado pela Alemanha, Bélgica e Espanha e, pasme-se, por Portugal, alertando para o possível impacto macroeconómico negativo na sua aplicação.
Mesmo na sua configuração mais “leve”, a taxa poderia fazer reverter verbas da ordem dos €40 mil milhões/ano, para os estados da zona euro, reforçando as políticas de apoio e desenvolvimento sociais.
Mas, pelos vistos e numa total irresponsabilidade, somos condiscípulos dos que tudo fazem para não beliscar os superiores interesses instalados.
(*) João Marques, Diplomado em Ciências da Comunicação

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