quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O ROSNAR DE PASSOS...


A crónica que o advogado Domingos Lopes assina hoje no “Público” (transcrita a seguir) tem a ver com as últimas acções políticas levada a cabo por Passos Coelho ainda na qualidade de líder do PSD. A ironia atravessa todo o texto de forma que o leitor o lê com grande gozo e é com pena que o vê chegar ao fim.
Passos Coelho tinha de vir a público, antes de se ir embora de presidente do PSD, continuar o seu combate a favor da desregulação das relações laborais, para dar mais poder aos patrões, deixando os assalariados em situação mais frágil, obrigando-os a aceitar condições cada vez mais desvantajosas.
E veio no seu estilo inconfundível de político direitinho, certinho, com o pin de Portugal na lapela do casaco. Tão direitinho e certinho que ao referir-se ao PCP e ao BE invocando a “linguagem” animal empregou o verbo rosnar, em vez do verbo ladrar, referindo-se ao velho provérbio “cão que ladra não morde”.
De facto, um homem que se a vê a si tão cheio de virtudes seria incapaz de utilizar o verbo que designa a comunicação dos cães optando por uma versão menos desagradável, na sua convicção de homem direitinho e certinho, sem um cabelo desalinhadinho.
Na verdade, ao longo destes dois anos e meio, Passos não tem parado de rosnar. O Governo não caiu, ao contrário do que ele profetizou em consonância com o piar de Cavaco Silva. Não mordeu nada.
Mas o mais inesperado foi o diabo não entender o rosnar de Passos, o que o levou a ficar quietinho no inferno não atendendo ao chamamento do constante rosnar do doutor Passos. Voltou a não morder por falta de comparência do diabo.
Ainda há tempos, Passos rosnou a bem rosnar apostando tudo em Teresa Leal para candidata à Câmara de Lisboa. E nem sequer mordeu em Cristas, quanto mais em Medina.
O resultado de tal rosnar foi tão mauzinho que teve de se ir embora. Sem rosnar (um homem certinho e direitinho não vai andar por aí), viu o seu candidato ser derrotado por Rui Rio. Passos está em maré de ter de ir ao dentista para descobrir as razões de tanto rosnar e de tão pouco morder.
Levaram-no, no dia 12 deste mês, a uma assembleia de jovens e continuou a sua luta a favor do empobrecimento, mas desta vez com algumas variantes face à dureza da realidade contra a qual não adianta piar, como dizia o senhor professor Cavaco.
Passos prometera empobrecer o país fazendo dele um dos mais competitivos do mundo. Colado a Schäuble e a Merkel, jamais lhe passou pela cabeça que o país podia crescer apagando os seus quatros anos de austeridade. Jamais lhe passou pela cabeça que Centeno fosse escolhido para presidente do Eurogrupo. E que Portugal crescesse, como cresceu. E que o desemprego caísse, como está a cair. E que as exportações tivessem atingido níveis bastante aceitáveis. E que se respire. Sim, respira-se em Portugal. No tempo da austeridade sufocava-se. Respirando-se, pode-se encarar o futuro, incluindo com todas as dificuldades que se adivinham. Mas respira-se. Não se sufoca.
Bem rosnou Passos, mas em nada mordeu. Deixa a liderança do PSD a Rio, sem poder morder os calcanhares a Costa.

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