A
crónica que o advogado Domingos Lopes assina hoje no “Público” (transcrita a seguir) tem a ver com as
últimas acções políticas levada a cabo por Passos Coelho ainda na qualidade de líder
do PSD. A ironia atravessa todo o texto de forma que o leitor o lê com grande
gozo e é com pena que o vê chegar ao fim.
Passos Coelho tinha de vir a público, antes de se ir embora de
presidente do PSD, continuar o seu combate a favor da desregulação das relações
laborais, para dar mais poder aos patrões, deixando os assalariados em situação
mais frágil, obrigando-os a aceitar condições cada vez mais desvantajosas.
E veio no seu estilo inconfundível de político direitinho,
certinho, com o pin
de Portugal na lapela do casaco. Tão direitinho e certinho que ao referir-se ao
PCP e ao BE invocando a “linguagem” animal empregou o verbo rosnar, em vez do
verbo ladrar, referindo-se ao velho provérbio “cão que ladra não morde”.
De facto, um homem que se a vê a si tão cheio de virtudes seria
incapaz de utilizar o verbo que designa a comunicação dos cães optando por uma
versão menos desagradável, na sua convicção de homem direitinho e certinho, sem
um cabelo desalinhadinho.
Na verdade, ao longo destes dois anos e meio, Passos não tem
parado de rosnar. O Governo não caiu, ao contrário do que ele profetizou em
consonância com o piar de Cavaco Silva. Não mordeu nada.
Mas o mais inesperado foi o diabo não entender o rosnar de
Passos, o que o levou a ficar quietinho no inferno não atendendo ao chamamento
do constante rosnar do doutor Passos. Voltou a não morder por falta de
comparência do diabo.
Ainda há tempos, Passos rosnou a bem rosnar apostando tudo em
Teresa Leal para candidata à Câmara de Lisboa. E nem sequer mordeu em Cristas,
quanto mais em Medina.
O resultado de tal rosnar foi tão mauzinho que teve de se ir
embora. Sem rosnar (um homem certinho e direitinho não vai andar por aí), viu o
seu candidato ser derrotado por Rui Rio. Passos está em maré de ter de ir ao
dentista para descobrir as razões de tanto rosnar e de tão pouco morder.
Levaram-no, no dia 12 deste mês, a uma assembleia de jovens e
continuou a sua luta a favor do empobrecimento, mas desta vez com algumas
variantes face à dureza da realidade contra a qual não adianta piar, como dizia
o senhor professor Cavaco.
Passos prometera empobrecer o país fazendo dele um dos mais
competitivos do mundo. Colado a Schäuble e a Merkel, jamais lhe passou pela
cabeça que o país podia crescer apagando os seus quatros anos de austeridade.
Jamais lhe passou pela cabeça que Centeno fosse escolhido para presidente do
Eurogrupo. E que Portugal crescesse, como cresceu. E que o desemprego caísse,
como está a cair. E que as exportações tivessem atingido níveis bastante
aceitáveis. E que se respire. Sim, respira-se em Portugal. No tempo da
austeridade sufocava-se. Respirando-se, pode-se encarar o futuro, incluindo com
todas as dificuldades que se adivinham. Mas respira-se. Não se sufoca.
Bem rosnou Passos, mas
em nada mordeu. Deixa a liderança do PSD a Rio, sem poder morder os calcanhares
a Costa.
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