O governo italiano decidiu evacuar de autocarro mais de 300 imigrantes que trabalham na apanha da fruta em Rosarno, na região da Calábria, alojando-os num centro de acolhimento a 170 quilómetros. Com esta medida, o executivo procura travar os confrontos que têm abalado a localidade e que começaram após dois imigrantes terem sido baleados por um grupo de jovens, na sequência de outras situações de ameaças e agressões racistas.
Os imigrantes têm na maioria nacionalidade ganesa e nigeriana e a central sindical CGIL afirma que são explorados pela máfia da 'Ndrangheta que controla o sector frutícola na região e lhes paga cerca de 20 euros ao dia. Os sindicalistas dizem que existem cerca de 50 mil imigrantes a trabalhar nestas condições em Itália.
A manifestação de protesto contra as agressões racistas juntou 2000 pessoas na quinta-feira e acabou em confrontos com a polícia e o incêndio de vários automóveis. Ao todo, 18 polícias e 19 imigrantes ficaram feridos. Na sequência dos incidentes, as declarações do ministro do Interior vieram incendiar ainda mais os ânimos e criar um clima de "caça ao imigrante.
"A situação em Rosarno, como noutros sítios, é difícil porque estes anos de imigração ilegal - que alimenta actividades criminosas - foi tolerado e nunca se fez nada eficaz sobre isso", declarou Roberto Maroni, indicado para o governo pelo partido xenófobo Liga Norte. No mesmo dia, a ministra da Educação apresentou a medida de impor quotas para a frequência escolar de crianças estrangeiras, no máximo de 30% por turma. Mariastella Gelmini, que pertence ao partido de Berlusconi, justifica a medida dizendo que "a escola deve ser lugar de integração".
As declarações do ministro ajudaram a acender o rastilho da violência racista, com um grupo de cem pessoas armadas com bastões e barras de ferro a perseguir os imigrantes que encontravam, e erguendo uma barricada junto a um dos locais onde se concentram os trabalhadores. Mais a sul, em Reggio di Calabria, dois imigrantes foram também espancados, outros dois foram baleados e mais cinco atropelados na noite de sexta-feira.
Já durante a manhã deste sábado, o forte dispositivo policial não impediu que a perseguição continuasse. A porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados em Itália confirmou alguns ataques a imigrantes que se tinham escondido nos campos, com pelo menos dez a conseguirem escapar de uma casa isolada, depois de um grupo de agressores a ter incendiado com gasolina.
O padre que Rosarno, ouvido pelo enviado do El País, afirmou que o povo da localidade não é racista "à excepção de alguns jovens cretinos e ignorantes". Carmelo Ascone está há 25 anos em Rosarno e define assim a situação: "É uma guerra de pobres contra pobres, porque aqui não há estado. Aqui manda a 'Ndrangheta".
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