Numa entrevista ao semanário Expresso, o histórico socialista não abre o jogo quanto a uma eventual candidatura em 2011, mas deixa várias críticas à actuação de Cavaco Silva no primeiro mandato, a começar pela última mensagem de ano novo. Para Alegre, ela "resulta de dois equívocos, que estão na base da candidatura de Cavaco Silva e dos seus discursos: um é o conceito de cooperação estratégica, que encerra em si a ideia de que o Presidente da República e o primeiro-ministro partilham a definição das linhas políticas que compete ao Governo. (...) O outro equívoco é a ideia de que ele, devido a essa experiência governativa, ia ajudar a resolver os problemas económicos e financeiros do país. Não pode. Ele não é o primeiro-ministro nº 2 e, como se viu, os problemas continuam".
Manuel Alegre diz ainda que a mensagem de Cavaco não serviu para acalmar o conflito entre os inquilinos de Belém e São Bento. "São duas pessoas parecidas, com pendor para a acção governativa e o PR não resiste a essa tentação, porventura com a melhor das intenções, e isso gera conflitualidade. Sobretudo quando tem pela frente um primeiro-ministro que não gosta que lhe entrem pelos domínios. E tem outra consequência: retira espaço ao líder da oposição, subalterniza-o. Acaba por ser o PR a assumir esse papel, independentemente de o querer ou não", diz o ex-candidato presidencial em 2006, que leu na mensagem de ano novo do Presidente "a contestação de algumas opções de fundo do Governo, e que foram sufragadas, independentemente da opinião que se tenha sobre elas. Por exemplo, o PR atacou claramente o investimento público".
Numa entrevista em que fez questão de vincar as diferenças com as acções de Cavaco Silva no primeiro mandato, Manuel Alegre sublinha que "uma eventual reeleição do actual Presidente podia dar origem a um fenómeno estranho: de aglomeração e mobilização de forças à volta do PR e de reconstituição de um centro-direita que neste momento não tem uma expressão política unificada à volta da figura do Presidente". Sobre a sua eventual candidatura, adianta que "para vencer, obviamente que o apoio do PS é importante".
A resposta à crise económica e social, no entender de Alegre, deve passar pela "qualificação, criatividade, responsabilidade social das empresas", uma vez que "não se atacam estes problemas desequilibrando as relações de trabalho sempre em desfavor dos mesmos". "Também é preciso atacar o que se passou com a Banca. Se não há dinheiro para a segurança social como há para salvar o BPN?", pergunta o antigo deputado socialista.
Sócrates também não sai isento de críticas nesta entrevista, a começar pela escolha de parceiros negociais para o Orçamento de Estado em 2010. "Evidentemente, o PS devia negociar à esquerda. Tentei quebrar esses tabus. Não sou refém de ninguém, e também não sou do Bloco de Esquerda, que isso fique muito claro. A minha relação é com o PS. É uma relação com altos e baixos mas é uma relação familiar. Mas desejaria que a esquerda fosse capaz de se entender."
Manuel Alegre diz não compreender algumas opções do novo governo na área da cultura. "Embora o primeiro-ministro também tenha falado do défice de cultura e uma das primeiras decisões desta ministra foi demitir Paula Mourão do Instituto Português do Livro, uma das pessoas mais qualificadas na Teoria da Literatura, vá lá saber-se porquê".
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