terça-feira, 19 de janeiro de 2010

SOBRE O BPN


A situação desesperada dos pequenos depositantes do BPN é abordada num texto de Daniel Oliveira inserido na edição de 16/1/2010 do semanário Expresso.

O futuro dos outros

“Isabel Feitas era funcionária da Quimonda. Para amealhar algum trabalhava em turnos de 12 horas. Recebia por isso 640 euros. Sabe-se lá com que esforço, conseguia poupar. Somava a isso os 45 mil euros que os pais juntaram numa vida inteira de trabalho e que lhe deixaram como herança. Ela pôs tudo no banco. Perdeu o emprego. Como não é licenciada, está atrás de tantos que com o ensino superior esperam por uma qualquer oportunidade. O dinheiro foi-se. Não porque Isabel tenha perdido a cabeça. Porque o banco era o BPN. Precisavam de liquidez e, sem saber, Isabel estava a emprestar as suas poupanças à SLN Valor. As ordens superiores eram para “arrasar os objectivos fixados”, por isso o funcionário só lhe contou meia- verdade. E é das meias-verdades que os jogadores vivem.

Numa excelente reportagem de Susana André, na SIC, vimos os rostos e as vidas de muitos pequenos clientes do BPN. Enganados e roubados no pouco que tinham por gente a quem sobra dinheiro e que usou o seu talento e bons contactos para pôr em prática esquemas engenhosos. Um padre que depositou as contribuições dos seus paroquianos para uma obra social pergunta: “como é que um bando de engravatados foi capaz com o dinheiro destinado aos pobres?” A resposta é simples: porque é esse o seu ramo de actividade. Os menos honestos ficam com tudo. Os que seguem as regras ficam apenas com parte dele. É apenas uma questão de grau.

Dizia um vendedor ambulante, outro cliente enganado por um bando de engravatados:”tinha o nome de um banco, se tivesse o nome de Dona Branca eu não metia lá o dinheiro”. O problema é mesmo esse. O BPN pode ter exagerado na marosca mas, como se viu na crise do subprime, o que as instituições financeiras fazem não é assim tão diferente do que fez a Dona Branca: jogar sem rede e sem aviso com o futuro dos outros na esperança de que nada corra mal. Sabendo que se correr mal os contribuintes pagam a factura.

Sim, o BPN é um caso de polícia. Mas as virtudes do capitalismo financeiro, da desregulação e da ganância como motor da economia que nos vendem há anos são um caso de política. E aí, nada parece ter mudado. O desabafo de Jorge Palma na música que servia de banda sonora à reportagem da SIC continua a fazer sentido para lá do BPN: “ quero o meu dinheiro de volta, tanta gente a dar-me a volta, não foi para isto que eu vim cá”.”

Recolha efectuada por Luís Moleiro

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