domingo, 10 de janeiro de 2010

Saudação…Bobos e Espertos



Não, não vou ser indulgente, porque vou acreditando que muitas vezes é uma forma polida de desprezar alguém, por isso, apesar de amargo, quero ironicamente saudar o acordo fresquinho ME-Sindicatos sobre o futuro”novo” Estatuto e Avaliação de Desempenho Docente. Não posso também de passagem saudar os diligentes e instrumentalizados dirigentes sindicais, os meus célebres colegas blogosféricos fazedores de opinião, os também colegas, durante meses, arregimentadores militantes de ódios e raiva de sala de professores, os que nunca leram um documento, mas que num passe de mágica se tornaram “experts” de tudo relativo a Estatuto, ADD, Supervisão Pedagógica e afins e, por ultimo, aos sorrisos encantadores, mesmo mavioso de quem percebeu , honra lhe seja feita, que com “papas e bolos…”

Não sei se é um bom ou mau acordo, mas como sei ler e ainda percebo alguma de metomínia, imagens , metáforas , significantes e significados, pasmo o entendimento e a futura paz a voltar às escolas. Saúdo a “minha” classe paupérrima de afectos , que ao primeiro afago, à primeira carícia, se derrete delicodoce perante uma simples mudança de terminologia, de texto, de “poemário”. Saúdo também os colegas tão, tão convictos das suas opiniões, que esperam sempre das convicções dos outros sejam blogues ou sindicatos, para tornarem mais convictas as convicções que nunca tiveram.

Saúdo este entendimento, porque não havendo titularização, há “titulares” e havendo ADD como havia, há outra que é quase a mesma, com objectivos (facultativos-que praticamente se tornarão obrigatórios, percebam porquê!), aulas assistidas, (corpo de docentes avaliadores com especialização –claro…corrida à Bolt, de muitos que antes odiavam as aulas assistidas – como vos conheço, Classe!) relatório de autoavaliação e tudo, e depois, Relator e Conselho Pedagógico ( Claro com os Coordenadores a não serem eleitos pelos próprios colegas que vão avaliar, mas sim pela DE). Ah! O relator terá de ter “Tendencialmente” formação especializada, perceberam, não perceberam? Saúdo este acordo pelo que ele esconde de oportunidade política, de interesses escondidos, do “ficarem todos a ganhar”, perdendo a classe!

Então, com um bocadinho de “chantilly” e açúcar, o que era azedo antes, agora come-se? Como vão agora os meus colegas “arregimentadores” travestir isto para eu engolir?

Pronto , paz nas escolas, como se a houvesse antes, como se agora (ò hipócritas) se conseguisse distinguir o mérito, como se agora as aulas assistidas fossem diferentes das que foram, como se agora o pedido de MB, ou Excelente, não tenha a mesma carga, só porque esferográficas de má qualidade apressaram assinaturas num documento. Agora a paz, agora “tudo como antes no quartel em Abrantes”, embora pareça que não.

E…era isto o mais importante? Isto vai modificar a essência do ser Professor e do se ser Professor? Vai trazer vontades de se ser melhor Professor, de ser quase um “bom professor”? Isto vai ajudar o colega em dificuldades? Vai incentivar o que não lê, não reflecte, o “dinossauro”, o “estagnado”? Isto vai ajudar aqueles que são os mais desgraçados, esquecidos e enxovalhados da classe docente, os CONTRATADOS?

Assim, saúdo este acordo “histórico” . E para o saudar, os meus parcos leitores já sabem que a ironia de vez em quando gosta de me visitar, a literatura, a excelente literatura, neste caso a brasileira, que tanto amo. Um texto magnífico de Clarice Lispector, irónico, ácido na sua aspera beleza. Porque efectivamente neste processo, houve os “bobos”, os ”espertos”, mas também os oportunistas, os idiotas, os arregimentados. Olhem eu situo-me entre o bobo e o inteligente com cabeça própria!

Já agora para terminar, só estas informações para qualquer mixordeiro que venha aqui chafurdar : Era titular e estou –me completamente nas tintas que fosse o meu “título-ao-ar”. Foi para bem da classe! Numa leitura de “escanteio”, o acordo até me parece favorecer, ou pelo menos, não prejudicar. Adoro ser Coordenador, tenho um Departamento de 13 colegas de se lhe tirar o chapéu, mas podem estar descansados, porque da mesma forma que nunca aceitarei nenhum cargo num dos órgão de gestão, nomeadamente no Conselho Geral (porque não concordo com este modelo de gestão) nunca, mas nunca, abdicarei da minha essência, daquilo que amo, que é ser Professor , do cheiro, da vibração da sala de aulas, por isso Supervisor a tempo inteiro “Jamés” , e se relator por obrigação, já que não tenho “tendência a” , vai pingar limão dentro de mim, de tristeza e raiva. Ah! Quanto a lutas ( tenham calma que fui a Lisboa!) de mandada sindicalização…pois está-se mesmo a ver…o Mar é tão belo!

Recolha de Fernando Oliveira

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