domingo, 6 de maio de 2012

CARIDADE E JUSTIÇA SOCIAL

Muitos dos comentários à volta da ação levada a cabo pelo Grupo Jerónimo Martins (JM) no passado dia 1 de maio andam à volta do conhecido slogan segundo o qual, colocados perante a deficiente distribuição da riqueza, a direita defende a caridade e a esquerda a justiça social. As duas diferentes formas de combater a pobreza têm uma diferença fundamental: a justiça social confere direitos enquanto a caridade não. Todos sabemos que os ricos e poderosos fogem de uma justa repartição da riqueza como o diabo foge da cruz mas isso não invalida que, de vez em quando, promovam uma distribuição de moedas, sempre que a plebe se encontra mais agitada. É uma espécie de medida preventiva, não se dê o caso de alguns pobres, mais atrevidos, se lembrarem de exigir uma verdadeira justiça social. Os descontos atirados aos pobres pelas lojas Pingo Doce inserem-se perfeitamente nesta estratégia. Se por acaso perderam dinheiro na promoção, o que não acreditamos, para um grupo económico com a pujança do JM, são trocos que servem para evitar males maiores… e sempre vão protegendo um poder político que lhes é completamente afeto.
O seguinte texto de Nicolau Santos que transcrevemos do suplemento Economia do “Expresso” de ontem constitui um excelente complemento para o que atrás deixámos escrito.


SÓ FAZEM DESCONTOS A 1 DE MAIO?
O que o Grupo Jerónimo Martins fez no 1º de maio, ao reduzir em 50% o valor das compras nos supermercados Pingo Doce acima de €100, foi aviltante e ignóbil. Aviltante porque se tratou de um truque baixo destinado a demonstrar que o 1º de maio é um feriado que para os cidadãos trabalhadores não tem nenhum significado especial. Ignóbil porque se aproveitou das dificuldades que os portugueses vivem para estimular o que de pior e mais primário existe em nós.
Se a JM queria fazer esta ação promocional, podia escolher todos os dias do ano menos este. Optou por 1 de maio para fazer uma provocação baixa. Resta saber quem pagará os 50% de desconto. No último aumento do IVA, a JM ficou com os louros as quem encaixou a perda foram os fornecedores. E resta saber com que cara virá falar de ética o patrão que autorizou esta provocação e que acusa os políticos de truques e mentiras.

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