O regime político em que vivemos tem vindo a transformar-se numa imitação grosseira de democracia. As decisões determinantes para as nossas vidas são tomadas por entidades não submetidas ao voto popular. Por outro lado, os executantes daquelas decisões, embora eleitos contradizem na prática todos os compromissos que anunciaram em campanha eleitoral.
O que se passa atualmente em Portugal é exatamente um espelho desta situação que não é exclusiva do nosso país. O dito é dado por não dito com o maior descaramento que se possa imaginar, sem que os seus responsáveis sofram qualquer punição – nem sequer política – pelos seus atos. Inclusivamente, todos nos lembramos de que Sócrates foi mesmo reeleito depois de tantas situações mal esclarecidas em que esteve envolvido.
O povo português tem sido de uma complacência sem limites para com os péssimos governantes que ultimamente têm estado a dirigir os destinos do país. Perante o desemprego, a fome e as carências de toda a ordem que a maioria dos portugueses está sujeita, a contestação pouco vai além das palavras, muitas delas expressas a medo e de forma anónima. Mesmo assim, ainda há quem pretenda calar esses tímidos desabafos colocando-nos vendas na boca.
O seguinte texto de Daniel Oliveira que transcrevemos do “Expresso” de ontem é mais uma chamada de atenção para a o espartilho em que a nossa liberdade vai estando metida.
CALA-TE!
Miguel Relvas, ministro com a tutela da comunicação social ameaçou divulgar a vida privada de uma jornalista se ela escrevesse uma notícia que não lhe agradava. Ainda está no seu lugar. O reitor da Universidade do Porto disse:”Acho que se estivessemos seis meses todos calados, não criássemos mais problemas do que os que já existem e deixássemos as coisas correr, daqui a seis meses, trabalhando, veríamos que as coisas até evoluiriam melhor do que o que pensámos.” É responsável por uma instituição académica, onde se espera o incentivo à crítica. Um tribunal mandou o blog do movimento Precários Inflexíveis apagar todos os comentários a um post em que eram feitas denúncias a atropelos graves à lei laboral por parte de uma empresa. O juiz não quis averiguar se elas eram verdadeiras. Mandou censurar. Espera-se que o tribunal defenda o cumprimento da lei e a liberdade de expressão. Tornou-se um hábito nacional: mandar calar os outros. E ele vem de responsáveis pelos três pilares da nossa democracia: o poder político, a academia e a justiça. Onde estão agora os que, nos últimos anos, sentiram a “asfixia democrática”.
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