O último número da “Visão” insere uma minientrevista (três perguntas) a Jorge Costa, autor do documentário “Donos de Portugal”, salientando tratar-se de “uma perspetiva de esquerda sobre a história económica do último século”. Em cinco dias teve 80 mil visualizações na net mas atualmente já ultrapassou as 100 mil. Recorde-se que este documentário foi transmitido pela RTP2 na madrugada do 25 de Abril, pelas 2 horas, quando, pela sua importância e qualidade deveria passar em horário nobre e mais do que uma vez. Não queremos especular mas imaginamos por que razão isto não aconteceu… Mesmo assim houve muita gente interessada.
TRÊS PERGUNTAS A JORGE COSTA…
1 São sempre as mesmas as famílias que há 150 anos mandam no País, independentemente do regime político?
Os “donos de Portugal” são hoje mais do que essas famílias, formadas por dezenas de casamentos em que o capital se concentrou: Mello, Champalimaud, Espírito Santo, Ulrich. Nas últimas três décadas afirmaram-se novos grupos – Amorim, Azevedo, Soares dos Santos – que cultivaram também a proteção do Estado, beneficiaram de rendas públicas e monopólios privatizados, foram confortados em setores sem risco (distribuição, imobiliário e obras públicas). Como os velhos grupos, também souberam alimentar, em democracia, o trânsito entre política e negócios.
2 E qual tem sido o papel do Estado?
A tese do livro “Donos de Portugal”, que este documentário retoma, é a de que o Estado tem feito a burguesia, distribuindo privilégios, rendas como as PPP e monopólios como a EDP ou a Galp. Paga-os com uma permanente transferência de riqueza por via fiscal e arbitra os conflitos entre grupos. O Estado novo usou meios radicalmente diferentes dos atuais. Mas, nas rendas do tabaco (final do século XIX), na proteção do Estado Novo aos Mello e Champalimaud como nas privatizações dos últimos 20 anos, é o Estado que conduz a concentração da riqueza e estrutura o domínio de um grupo social sobre toda a sociedade.
3 Qual o objetivo da denúncia que se faz no filme?
Pela mão dos governos PS e PSD-CDS, seguidores dos dogmas europeus tornámo-nos um país ainda mais periférico e vulnerável. Onde desapareceu a produção só medrou o crédito barato e a dependência externa. Os “donos de Portugal” veem neste colapso mais uma oportunidade – “reformas estruturais” para mão-de-obra mais barata, pior proteção social, privatização. Para a maioria, o resultado é mais atraso e desigualdade. Alguém andou a viver acima das nossas possibilidades. Poderão ser eles a tirar-nos desse buraco?
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