domingo, 13 de maio de 2012

E O ABISMO AQUI TÃO PERTO

Ora aqui temos, mais uma vez, a opinião de um perigoso “radical”, o diretor adjunto do “Expresso”, Nicolau Santos, sobre as consequências das políticas recessivas levadas a cabo pela equipa Passos/Portas com a preciosa ajuda do pausado ministro Gaspar. Nesta caminhada para o abismo, chegará o momento em que estes sujeitos hão-de ficar sozinhos, tão óbvio é para cada vez mais gente, que o caminho que estão a trilhar só conduzirá o país para a catástrofe. Vale-nos neste momento a esperança suscitada pelo resultado das eleições em França e na Grécia assim como a clamorosa derrota que Merkel sofreu hoje no estado federado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Westfália.


Isto não está a resultar, dr. Gaspar

Em 2010, o setor da construção empregava mais de 600 mil pessoas. No final de 2011, já só dava trabalho a 450 mil. E a previsão é de que em dezembro deste ano não empregue mais de 250 mil pessoas. Responsáveis do setor dizem que se não forem tomadas medidas urgentes nos próximos seis meses, o colapso do setor será inevitável.

Nos primeiros três meses do ano, mais de 27822 famílias deixaram de conseguir cumprir os compromissos que tinham assumido comos bancos, à média de 306 famílias por dia e elevando para mais de 700 mil os portugueses que se encontram nesta situação. E o pior é que a tendência está a aumentar drasticamente: no ano passado, 34362 famílias deixaram de pagar os seus empréstimos, à média de 95 por dia, ou seja, este valor mais do que triplicou este ano. E todos os dias há 100 portugueses que deixam de pagar o empréstimo da casa ao banco.

Nas empresas, o incumprimento também está a aumentar rapidamente. Por dia, cinco empresas em nome individual declaram-se nesta situação (467 no primeiro trimestre). Olhando para o conjunto, mais de um quarto das empresas não consegue cumprir as suas responsabilidades, o pior valor registado desde 2003.

O poder local encontra-se numa situação “dramática” de asfixia financeira, admite a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP); os serviços públicos prestados por bombeiros e polícias estão severamente reduzidos por falta de verbas; o metro de Lisboa reduziu o número de carruagens em circulação e serviços, sobretudo para a periferia, tendo aumentado os tempos de passagem dos comboios; a Carris extinguiu carreiras, a Transtejo opera com menos ligações, etc., etc.

Como lembrava esta semana a ex-ministra do Plano, Manuela Silva, no Centro de Reflexão Cristão, a crise tem provocado novas injustiças e acentuado outras que vêm do passado. Uma dessas injustiças reside nas assimetrias territoriais por causa de sucessivos cortes nos serviços públicos de proximidade no domínio da saúde, educação, justiça e acessibilidade em transporte público. Outra injustiça reside no mercado de trabalho com o elevado desemprego (mais de 15% dos quias 44% de desemprego de longa duração e um terço dos jovens desempregados), vínculos laborais mais precários, aumento do horário de trabalho, níveis de remuneração degradados, injustiça na repartição funcional do rendimento (em desfavor do trabalho na relação com o capital) e desigualdade na repartição pessoal do rendimento como resultado das políticas adotadas e pela menor atenção dada às políticas redistributivas, às políticas fiscais e às transferências. E injustiça finalmente na provisão de serviços públicos, nomeadamente, a educação, cuidados de saúde e segurança social.

O Governo em geral e o ministro das Finanças em particular acreditam na tese de que ampliando a brutal dose de austeridade à economia, ela ressurgirá forte, dinâmica, inovadora e exportadora no final da aplicação da receita. Como é óbvio chegaremos ao final deste ajustamento mais pobres, com maiores desigualdades, mão-de-obra muito barata e com os melhores fora do país – e não à terra de leite e mel que Passos e Gaspar nos prometem. É necessário, imperioso e urgente inverter o rumo. A economia portuguesa está a morrer, varrida por um tsunami fundamentalista. E sobre os seus escombros só será possível construir um país que perdeu o comboio do futuro.

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