Desde a sua formação que o presente Governo mostrou as suas enormes fragilidades. Para começar, o primeiro-ministro, sem qualquer experiência governativa, mostrou as suas deficiências ao ceder perante o populismo fácil de formar um Governo com um número muito limitado de ministérios, tornando alguns deles quase ingovernáveis pelo seu gigantismo. Para um observador atento, a inclusão num lugar de relevo de uma figura como Miguel Relvas, só por milagre não daria as broncas a que todos estamos a assistir. Bastava termos presenciado dois ou três frente a frente no Jornal das 9 da SIC para percebermos o tipo de personalidade do agora ministro. Nem a máquina de propaganda que ele gere consegue esconder o trauliteirismo e a falta de escrúpulos que parecem compor os seus genes.
Tendo como ponto de partida a acção de Miguel Relvas, o texto seguinte que transcrevemos do Diário de Coimbra de domingo (27/5) tece fortes críticas ao executivo cuja acção vem contribuindo para a degradação da economia do país, como revela um recente relatório da OCDE.
Miguel Raivas…!
Começa a ser difícil levar este país a sério. Para não dizer impossível. O ministro Relvas envolveu-se, naquilo a que nos habituámos a chamar de trapalhada, conspirando com o ex-chefe das secretas; essa figura repelente e sebosa que responde por Silva Carvalho.
E para minorar os efeitos da sua imprudência, pressionou jornalistas e a direcção do “Público”, com intoleráveis ameaças, visando mesmo a vida privada de uma repórter. Por aqui se vê o carácter da criatura, semelhante ao do antigo espião.
Portugal é um país de imitações e a política não se esquiva a este fado. Desde os tempos de António Guterres que todos os governos entendem que devem ter um Jorge Coelho, sem se preocuparem em encontrar uma figura, com as mesmas qualidades políticas. E não vale a pena falar dos defeitos que todos lhe conhecemos. Basta que seja trauliteiro, para desempenhar a missão.
Foi assim com Durão Barroso que escolheu José Luís Arnault, para a missão, e com Santana Lopes que preferiu Rui Gomes da Silva. Ambos, apesar de tudo, tinham outro polimento. Com Sócrates, assistimos diariamente aos dislates de Santos Silva. E agora, com Passos Coelho, temos visto Miguel Relvas nessa insuportável missão de cabo de esquadra, disposto a espancar, por todas as vias, quem não lhe obedecer, ou quem tenha a coragem de estorvar os intentos do Governo.
Passos Coelho já percebeu que, um ministro como Relvas, comete asneiras suficientes para conduzir um governo à queda. E, por isso, tem dado sinais de desejar alguma distância, demarcando-se, embora com equívocos, de algumas atitudes e afirmações do seu peão de brega de confiança. Mas o chefe do Governo tem também os seus próprios disparates – e não são assim tão poucos – para resolver. Por isso, não lhe sobra tempo nem espaço para branquear a tolice alheia.
A importância de tudo isto podia ser relativizada, se o Governo gozasse do agrado geral. Mas esse não é o caso. Temos pela frente um executivo que, a acreditar no mais recente relatório da OCDE, se está a espalhar ao comprido, contribuindo para a degradação da economia. No relatório do boletim trimestral da organização, publicado na terça-feira, o economista-chefe, italiano, Pier Carlo Padoan, diz exactamente a mesma coisa que eu escrevi, aqui, há uma semana. Não há mérito especial da minha parte ou da dele. Das duas partes houve apenas a constatação do óbvio. Diz ele que “a fadiga em relação às reformas, está a aumentar e que a tolerância, em relação a um reajustamento governamental, pode estar a chegar ao fim”. A diferença está nas conclusões. Eu entendo que este percurso deve ser invertido, ele entende, apesar da sua análise, que a austeridade deve aumentar. Diga-se que Padoan já passou pelo FMI, sendo então responsável pelo dossier Portugal e, por isso, é um economista puro e duro, de pouca ou nenhuma sensibilidade política.
Mais importantes são as previsões da OCDE. Diz a organização que a recessão, em Portugal, se vai agravar no ano de 2013 e que não há no horizonte qualquer sinal de retoma. Seremos um dos países a estragar a média de crescimento na zona euro, que se estima em 0,9 por cento. É evidente que será revista em baixa, várias vezes, até ao final de 2013. E o desemprego vai subir para 16,2 número que, como se sabe, fica muito aquém da realidade. Todos os outros indicadores são desastrosos, como o do consumo privado que vai descer muito para lá das previsões do Governo. Quer dizer que todo o plano de Passos Coelho falhou copiosamente e que ele deve explicações ao país que a oposição parlamentar não lhe sabe pedir. Conhecíamos vagamente a meia dúzia de itens que ele alinhou, como seu programa de acção. Hoje, tudo isso está ultrapassado e o Governo só se mantém em funções para adiar uma crise governativa que será inevitável. E com os disparates raivosos do ministro Relvas, ela pode chegar muito mais cedo do que se pensa. (Sérgio Ferreira Borges)
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