A receita preconizada pelos Chicago boys no sentido da destruição do Estado Social, com a transformação em negócio de “tudo o que mexa” está a levar o mundo a um retrocesso civilizacional com uma significativa concentração da riqueza nas mãos de uma pequena minoria e o consequente empobrecimento da grande massa dos povos. A crise que atingiu a Europa foi o pretexto para a aplicação de uma política extremista de privatizações que tem como consequência a venda ao desbarato de todos os bens públicos possíveis desde que sejam suscetíveis de produzir grossos lucros para o privado ainda que isso signifique um aumento significativo de serviços essenciais, dos impostos e do desemprego. É este o tema de fundo do seguinte texto de Daniel Oliveira que hoje podemos ler no “Expresso”.
CATASTROIKA
Desde os anos 80 que assistimos a um processo global de privatizações. Os resultados são conhecidos. No Reino Unido instalou-se o caos na rede ferroviária. Os países que privatizaram os correios já se arrependeram. Em todo o lado, a promessa de melhores preços e serviços com mais qualidade não se confirmou. Pelo contrário. E a venda do que é público segue sempre o mesmo padrão: desregulação dos mercados, negócios péssimos para o Estado, lucro para o privado, risco para os contribuintes, mais desemprego. Na Rússia, o ataque das oligarquias mafiosas aos bens públicos ganhou um nome: catastroika. A privatização da água é agora a menina dos olhos de políticos avençados. É o monopólio natural que falta abocanhar.
Apesar de se assistir, em alguns países, a renacionalizações, a procissão ainda vai no adro. A crise internacional, o crescente poder de burocratas que não dependem do voto e a intervenção externa em vários países relançou o saque. Os pacotes de “ajuda” vêm sempre com um brinde: privatizar tudo o que mexa, apesar de se saber que os pequenos ganhos a curto prazo acabam em enormes perdas futuras para os cofres do Estado. Na Grécia, os abutres prometem não deixar pedra sobre pedra. Em Portugal, foi nomeado um comissário para liquidação total: o antigo vice da Goldman Sachs, António Borges. É sobre tudo isto que nos fala “Catastroika”, um documentário dos mesmos autores de “Dividocracia”. Está na net e legendado. Muito pedagógico.
Sem comentários:
Enviar um comentário