O crescimento exponencial da taxa de desemprego em Portugal, desde há muito tempo passou a ser uma não notícia, como aqui já temos referido. Não vamos ser ingénuos ao ponto de imaginarmos que os nossos governantes desconhecem por completo as razões que nos estão a levar a esta situação. Simplesmente estão a aproveitar a crise para levarem a cabo a agenda ideológica que a direita esperava há décadas e cujo momento mais propício chegou agora, nem que para isso seja necessário destruir toda a economia do país e todas as estruturas de apoio social. Aliás, estas são o principal alvo como podemos verificar pelas notícias que nos chegam todos os dias.
Dizer que os valores do desemprego que agora atingimos não são compatíveis com o ritmo da atividade económica é estar a atirar areia aos olhos de todos nós mas, maior trafulhice ainda, é continuar a utilizar o chavão da rigidez do nosso mercado de trabalho numa altura em que os direitos laborais, adquiridos arduamente, estão a ir por água abaixo a um ritmo nunca visto. Tenhamos presente que a agenda só ficará completa quando o último daqueles direitos for extinto na lei. Passa a ser a selva…
O texto seguinte complementa o nosso raciocínio. Transcrevemo-lo do suplemento Economia do “Expresso” de ontem e é seu autor Nicolau Santos.
DESEMPREGO SURPREENDE GOVERNO
O desemprego em Portugal atingiu o valor histórico de 15,3% e está a subir muito acima da média europeia, apesar da incompreensão dos nossos governantes, que dizem, pela boca do secretário de Estado do Orçamento, que tais valores não são compatíveis com o ritmo da atividade económica (qual?, não estamos em recessão?) e que esta tendência prova que o nosso mercado de trabalho é demasiado rígido. Na verdade, é uma pena que a realidade teime em contrariar o Governo e a troika, que ficaram surpreendidos com o disparo do desemprego. Alguém lhes devia ter dito que um país que praticamente não cresceu entre 2000 e 2010, não criando novos postos de trabalho e cuja taxa natural de desemprego é de 9,5%, que está ainda na curva descendente de uma recessão profunda iniciada há quase ano e meio e cujos agentes económicos têm sido sujeitos a um discurso político miserabilista sobre o futuro desde há largos meses, só pode produzir uma taxa de desemprego recorde. É a diferença entre os modelos económicos e o país de carne e osso.
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