Curiosamente, a recente afirmação do primeiro-ministro, segundo a qual não estava a exigir de mais ao país teve muito menos repercussão do que aquela em que ele dizia estar-se lixando para as eleições. Os intérpretes oficiais do regime vieram logo explicar à plebe que o que Passos Coelho queria dizer é que colocava os interesses do país acima dos proveitos partidários. Sabendo-se a fome de poder que grassa no PSD, depois destes anos todos longe do governo, a uma afirmação destas só se pode responder com uma sonora gargalhada.
Mas voltando ao início deste parágrafo, o melhor seria perguntarmos aos nossos compatriotas se sentem que não lhes está a ser exigido de mais. Quase parece uma questão de humor negro.
O pequeno texto seguinte é um comentário de Nicolau Santos sobre este tema que transcrevemos do suplemento Economia do Expresso de hoje.
O SR. NÃO NOS EXIGE DE MAIS
Não, o senhor não a exigir de mais ao país (se bem que um trabalhador independente, que tem de entregar ao Estado 508 euros dos mil que ganha, talvez não tenha a mesma opinião…). Não, o senhor não compõe artificialmente as contas do Estado (se bem que a utilização de €272 milhões com a venda das licenças de quarta geração para manter o défice até Junho dentro dos limites impostos pela troika se pareça estranhamente com a prática de anteriores Governos…). Não, o senhor nunca disse que as medidas de austeridade seriam só para alguns (se bem que as sucessivas exceções que vão sendo conhecidas – esta semana foi a do presidente e de um vogal da RTP – demonstrem que há filhos e enteados…). Não, o senhor garante que não está a acelerar o ajustamento de forma artificial (mas antecipou o IVA sobre a energia e confiscou meio subsídio de Natal aos portugueses em 2011, o que não estava no memorando de entendimento). Não, o senhor quer-nos pobres mas não indigentes. Nós, contritos, agradecemos.
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