sexta-feira, 27 de julho de 2012

RIQUEZAS MALDITAS

É tristemente célebre a espécie de maldição que ataca os países do Terceiro Mundo quando nalgum deles são descobertos recursos naturais que aguçam a cobiça internacional. Muitas vezes chega-se à conclusão de que, as populações que vivem na pobreza, não só não beneficiam nada com a entrega da exploração das suas riquezas minerais a empresas multinacionais como frequentemente vêem o seu modo de vida completamente destruído, deslocações forçadas, ruína ambiental, guerras fratricidas, e um sem número de agressões, tudo em nome de um progresso que nunca chegam a conhecer. Sabemos bem o que tem vindo a acontecer em quase todas as antigas colónias portuguesas, com especial destaque para Angola. O caso de Moçambique também é muito preocupante embora seja muito menos falado entre nós do que o de Angola.

A situação moçambicana é denunciada pelo Sociólogo Boaventura Sousa Santos num importante texto que assina na “Visão” desta semana – “Moçambique: a maldição da abundância?”

A “maldição da abundância” é uma expressão usada para caracterizar os riscos que correm os países pobres onde se descobrem recursos naturais objeto de cobiça internacional. A promessa de abundância decorrente do imenso valor comercial dos recursos e dos investimentos necessários para o concretizar é tão convincente que passa a condicionar o padrão de desenvolvimento económico, social, político e cultural. Os riscos desse condicionamento são, entre outros: crescimento do PIB em vez de desenvolvimento social; corrupção generalizada da classe política que, para defender os seus interesses privados, se torna crescentemente autoritária para se poder manter no poder, agora visto como fonte de acumulação primitiva de capital; aumento em vez de redução da pobreza; polarização crescente entre uma pequena minoria super-rica e uma imensa maioria de indigentes; destruição ambiental e sacrifícios incontáveis às populações onde se encontram os recursos em nome de um “progresso” que estas nunca conhecerão; criação de uma cultura consumista que é praticada apenas por uma pequena minoria urbana mas imposta como ideologia a toda a sociedade; supressão do pensamento e das práticas dissidentes da sociedade civil sob o pretexto de serem obstáculos ao desenvolvimento e profetas da desgraça. Em suma, os riscos são que, no final do ciclo da orgia dos recursos, o país esteja mais pobre económica, social, política e culturalmente do que no seu início. Nisto consiste a maldição da abundância.

Ler mais

Sem comentários:

Enviar um comentário