Não é preciso ser um guru da economia para se saber antecipadamente que, a brutalidade das medidas de austeridade tomadas pelo Governo só podiam desembocar na hecatombe social que nos está a atingir. Como se o memorando da troika não fosse suficiente para nos pôr a pão e água, desde logo o Primeiro-Ministro decretou que queria levar a cabo medidas ainda mais duras do que as determinadas por aquele memorando. À medida que o tempo foi passando, fomos percebendo que, associado a um desmedido fanatismo ideológico de que este Governo enferma, existe também uma clara vontade de descaracterizar o Estado herdado da normalização democrática e constitucional que se seguiu ao 25 de Abril. Torna-se agora evidente que a intenção é mudar o paradigma das relações entre capital e trabalho fazendo descer à força (já estamos a assistir) os salários para instalar em Portugal um modelo de capitalismo chinês. É um erro, acreditarmos nas lágrimas de crocodilo vertidas pelos governantes em relação ao desemprego porque, na realidade, ele está a ser fomentado para embaratecer ao máximo os custos do trabalho.
Como complemento desta curta reflexão transcrevemos um texto que encontrámos no “Diário de Coimbra” de ontem.
Desem…prego a fundo!
São poucos os acontecimentos que ainda possam surpreender. Como já aqui recordei, o saudoso Fernando Pessoa costumava dizer que, depois de ter visto um porco a andar de bicicleta, tudo seria possível. Direi que, depois de ouvir o ministro da Economia, já nada é impossível.
O Instituto Nacional de Estatística usou o único medidor oficial do desemprego, para dizer que, nos últimos 12 meses, o número de inscritos nos centros de emprego quase subiu 25 por cento. É esse exactamente o tempo que este governo leva, em funções. Portanto, o prazo assenta-lhe como uma luva.
Horas depois de divulgada a notícia, vejo o ministro Álvaro, também conhecido por Santos Pereira, confrontado com a questão. De olhos postos no chão, disse que o Governo estava preocupado com o aumento brutal do desemprego e que tudo iria fazer para obviar a essa desgraça. Estava a brincar connosco, com toda a certeza.
O desemprego aumentou – e disso ninguém tem dúvidas – por causa das medidas brutais de austeridade, imposta por este governo. Logo, é o grande responsável por este flagelo. E não se compreende que, depois do trabalho que teve a lançar tanta gente na miséria, vá desenvolver qualquer outro esforço, para estragar o labor executado. Para que não fiquem dúvidas. O aumento do desemprego é uma consequência pensada de executivo estulta e fortemente influenciado pelo ideário neoliberal. E essa política é para continuar. Mais: o governo está comprometido a fazer crescer o desemprego, até 2016. Será certo que nessa altura já terá ultrapassado os 20 por cento. Mais número, menos número, isto quer dizer que, daqui a quatro anos, um quarto da população activa estará no desemprego. Não há maneira de desmentir isto.
Mas todas as medalhas têm o seu reverso. Não foram precisas muitas horas para que um esfusiante Primeiro-Ministro saudasse o sucesso do mais recente leilão da dívida pública, com juros mais baixos que a Espanha. Convenhamos que o termo de comparação não honra ninguém.
Faltou a Passos Coelho dizer que essa redução do custo da dívida se devia à miséria semeada por todo o país, com o desemprego crescente, com as falências, com a recusa de financiamento para a indústria, com o investimento público e privado a baterem os mais baixos recordes de sempre, enfim, com o estrangulamento da economia e do país produtivo.
Nada disto é suficiente para tirar o sono a Passos Coelho. Importante é que ele está a cumprir à risca o que lhe foi prescrito pela sua guru ideológica alemã, Ângela Merkel. (…) (Sérgio F.Borges)
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