quinta-feira, 12 de julho de 2012

PORTUGAL NÃO É...

Todos nós já ouvimos aos nossos governantes, quer os actuais quer os anteriores, a expressão racista e arrogante “Portugal não é a Grécia”, para justificarem as medidas de austeridade que nos estão a garrotar, sob o pretexto de que, se fossemos muito bem “comportados” perante os “mercados” (leia-se capital financeiro) e aguentássemos sem protestos as “reformas” que nos vão roubando direitos laboriosamente conquistados ao longo de décadas, a breve trecho, teríamos todos os nossos problemas resolvidos. O que está a acontecer é exactamente o contrário, ou seja, depois de um ano de sacrifícios imensos, ainda nos encontramos pior do que por esta altura de 2011. E muita gente previu e avisou que isto iria acontecer mas a cegueira ideológica dos principais decisores portugueses não permitiu senão que se desse mais um passo em direcção ao abismo.

Mas, o “trabalho” da Troika, UE e FMI teve como principal finalidade defender os interesses do capital financeiro e tentar submeter, para sempre, os cidadãos à ditadura do pensamento único neoliberal e da “inevitabilidade”.

O texto seguinte, que retirámos do “Diário As beiras”, é do prof. de Economia Júlio Marques Mota e retrata de forma imaginativa a actual situação da (des)união europeia.


Sobre a nova geografia da Europa

A União Europeia, a Troika, o FMI reconstroem uma nova geografia da Europa. Por esta obra espantosamente desumana passam nomes individualmente identificados, passa Durão Barroso com as suas propostas de políticas de austeridade, passa o poeta Herman Van Rampuy a concorrer com o primeiro na mesma linha, passa Christine Lagarde – por esta certamente não passa Bernard Tapie e os seus milhões concedidos pelo Estado francês – por aqui passa Mário Draghi – e não passam certamente os golpes de Goldman Sachs – por aqui também passa Cameron – com as suas esmolas tiradas aos trabalhadores para dar aos ricos em tempo de crise que estes bem precisam. Por ela passam também as manipulações do Libor conhecidas desde há largos meses e por todos ignoradas – por ela passa a grande baleia de Jamie Dimon, Presidente do J.P. Morgan – com perdas em Londres admitidas que podem atingir os 9 mil milhões sem que em Londres se tenha levantado um dedo a exigir transparência sobre as operações deste banco ou dos outros também, onde as apostas especulativas deste banco terão atingido 100 mil milhões – por ela passa a construção de uma nova geografia física e humana, que não se inscreve nos mapas disponibilizados aos nosso alunos, mas que se inscreve no futuro dos nossos filhos e netos, a letras de sangue bem sofridas, bem doridas. Conheça então a nova geografia, conheça os seus buracos negros, onde está escondida a pobreza de uns, muitos, e a riqueza de uns tantos, poucos, conheça os locais e as datas das reuniões onde tudo se decide, mas a esses sítios não vá. Estes senhores do BCE não gostam nada da Democracia, facto que está inscrito nos seus próprios estatutos, gostam mais da Polícia. Vejam como encheram Barcelona de polícias bem equipados. Conheça então essa obra-prima por todos eles realizada, esta nova geografia que as Instituições regionais, como a União Europeia, e as Instituições Internacionais, vindas de Bretton Woods têm laboriosamente feito para todos nós.

Geografia

1.“Spain is not Greece”.

Elena Salgado, Ministro espanhol das Finanças de Zapatero, Fevereiro de 2010

2.“Portugal is not Greece”

The Economist, 22nd April 2010

3.“Ireland is not in ‘Greek Territory’”.

Ministro Irlandês das Finanças Brian Leniham.

4.“Greece is not Irelend.”

George Papaconstantiniou, Ministro grego das Finanças, 8 Novembro, 2010.

5.“Spain is neither Ireland nor Portugal.”

Elena Salgado, Ministro espanhol das Finanças, 16 de Novembro de 2010

6.“Neither Spain nor Portugal is Ireland.”

Angel Gurria, Secretário-Geral da OCDE, 18 Novembro, 2010.

7.“Spain is not Uganda.”

Rajoy para Guindos… Na última semana!

8.“Italy is not Spain.”

Ed Parker, Agência Fitch, 12 Junho 2012.

9.“Uganda does not want to be Spaun”

Ministro dos Negócios Estrangeiros do Uganda, 13 de Junho de 2012.

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