Carta de um utente do Serviço Nacional de Saúde: “Tenho uma neoplasia e faço exames regularmente. De seis em seis meses, vou à consulta de urologia no Hospital de Stº. António. Em Janeiro tinha que fazer o exame da bexiga com um endoscópio através da uretra. Não o fiz, pois os dois endoscópios estavam avariados. O médico lá me pediu desculpa e mandou-me fazer uma ecografia para minimizar a situação. No dia 19 de Junho voltei para a consulta. Paguei taxa moderadora para cumprimentar o médico, porque este apenas tinha para me dizer que os endoscópios ainda estavam avariados! E a ecografia não foi feita porque o aparelho também estava avariado há meses! O arranjo dos aparelhos custará €4 mil, e não há dinheiro para isto? Acresce que estamos a falar de um hospital central, na segunda maior cidade do país. E na comunicação social não há uma linha para isto.”
Retirámos esta “carta” do suplemento Economia do “Expresso” de ontem (14/7). Os factos nela relatados só constituirão uma novidade para quem seja ingénuo ou se encontre distraído em relação à realidade que nos cerca. E ainda agora a procissão vai no adro… Os cortes sistemáticos que têm vindo a ser feitos no financiamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) vão multiplicar situações como a que a “carta” denuncia porque o dinheiro não estica e não é possível fazer omeletas sem ovos. Se um hospital central não dispõe de verbas para mandar arranjar aparelhos fundamentais e imprescindíveis, é claro que isso vai ter reflexos na qualidade de vida dos doentes que deles necessitam. Se isto acontece numa das principais unidades hospitalares do país, imagine-se o que já estará a suceder longe dos grandes centros populacionais. Se tivermos em atenção os elevados índices de qualidade que os cuidados de saúde já tinham atingido em Portugal, o que nos espera é que os cortes que o SNS vem sofrendo só possam ter como consequência a quebra a pique dessa qualidade e a morte de muita gente, em especial entre os que possuem menos recursos.
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