As políticas que estão a ser levadas a cabo por toda a Europa, por tão irracionais que se apresentam, só podem ter origem num fanatismo ideológico descomunal ou constituem uma maldade deliberada. A correcção de uma medida que está a dar maus resultados não pode fazer-se com uma intensificação da mesma medida.
O exemplo do que se passa em Portugal é óbvio aos olhos de toda a gente que queira observar a realidade sem quaisquer preconceitos. A avaliação que a troika faz da aplicação do memorando é pura ficção. Para essa gente Portugal encontra-se no bom caminho mas se formos analisar os resultados da execução orçamental ponto por ponto verificamos que estamos perante uma total contradição.
De qualquer maneira, se observarmos com atenção o relatório da troika é ela própria que confirma as suas contradições quando diz que está tudo óptimo. Assim:
- Temos um desemprego explosivo com tendência a aumentar ainda mais para o próximo ano, o que pode pôr em causa a coesão política.
- Há riscos acrescidos de execução orçamental num ano em que os portugueses forma massacrados com impostos e os funcionários públicos e pensionistas ficaram sem subsídio de férias e de Natal e, mesmo assim, não conseguimos cumprir o défice.
- Falta de determinação para combater os interesses instalados.
- Exigem explicações sobre os contratos com a EDP, continuando a afirmar que não foi feito o que deveria ser realizado relativamente às rendas pagas a esta empresa.
- Nada foi levado a cabo em relação às PPP.
Perante este cenário, não é possível entendermos como é que estamos no bom caminho…
Como complemento deste comentário, deixamos aqui a transcrição de uma parte de um artigo de opinião (*) que transcrevemos do “Diário as Beiras” de hoje.
"A crise aí está e está para durar, com a diferença de que pela força dos defensores das medidas de austeridade já tomadas e das muitas outras de que eles se sentirão obrigados a tomar, dado o caminho escolhido, a situação política vai endurecer e muito.
A Espanha está em perfeito ruptura, Portugal já se rompeu e corre o risco de não ter conserto durante mais de uma década, a Itália é o país que se segue, e o resto está na fila de espera possivelmente até que os homens do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, em Karlsruhe, decidam apreciar todas as queixas apresentadas contra o MEE, críticas de direita e de esquerda, também.
Entretanto as políticas seguidas já fizeram estragos aterradores que desde há longos meses falamos de crime contra a humanidade, contra a Europa, contra o sentido da história.
É chegada a altura de considerar levar os nossos dirigentes políticos nacionais, os nossos dirigentes europeus, todos eles, e a Troika também, ao Tribunal e exigir o julgamento destes dirigentes face a toda a Europa, face a todas as suas vítimas, passadas, presentes. E, também, face às suas vítimas que só aparecerão no futuro e sabemo-lo bem que estas vão ser muitas, por aquilo que os americanos chamam o custo de nada fazer ou, neste caso, de fazer muito mal, tão mal que só se entende que seja por maldade deliberada. O número de pobres deve diminuir para que a máquina ganhe outra embalagem, é o que eles pensam. E se pensam, melhor o estão a fazer! E nesta lógica absurda vejam-se as políticas de austeridade impostas e confrontem-se com as remunerações globais diárias de cada elemento da Troika." (…)
(*) “Análises sobre a crise”, Júlio Marques Mota, prof. Economia
Sem comentários:
Enviar um comentário