É sobejamente conhecida e apreciada a qualidade dos trabalhadores portugueses além-fronteiras. Sobre isto, chegam-nos elogios a toda a hora, de tal maneira que se torna exaustivo repeti-los.
Também se sabe que os empresários portugueses apostam apenas na mão-de-obra barata para serem competitivos. Para chegarmos a esta conclusão não é necessário ouvirmos discursos de dirigentes sindicais, basta ouvirmos, de vez em quando, conversas entre jovens quadros qualificados, de empresas nacionais. É de tal forma aterrador que juntando a mentalidade empresarial dominante em Portugal com a patente qualidade que os trabalhadores portugueses demonstram no estrangeiro ficamos, de imediato, a perceber “o cerne da questão da falta de competitividade da economia portuguesa”. Por tão óbvio, a missão de observação do FMI em Portugal já se apercebeu dessa maleita, como poderemos constatar através do pequeno comentário de Nicolau Santos que transcrevemos do suplemento Economia do Expresso de hoje
O FMI E OS EMPRESÁRIOS
Na excelente reportagem de Luísa Meireles, publicada na anterior Revista do Expresso, sob o título “Uma semana com os homens do FMI”, há uma afirmação extraordinária – sobretudo porque os homens do Fundo costumam ser muito discretos nas observações que fazem. O austríaco Albert Jaeger é um dos homens fortes da missão de observação e ligação permanente do FMI em Portugal, mas demonstra a sua enorme perspicácia ao afirmar: “Num país que está na UE desde 1986 e em que o salário à hora de um trabalhador qualificado no sector industrial é de 10 euros, se um empresário não consegue ser competitivo, é porque existem outras questões que precisam de ser abordadas”. É este o cerne da questão da falta de competitividade da economia portuguesa. Para ser coerente, Jaeger deve avisar Washington: “Não é pela descida dos salários que Portugal vai lá. Mas o programa de ajustamento é nisso que aposta. Não querem repensar o assunto?”
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